“Sério que você vê série, se emociona e chora, mas quando é cena real passa pano e ignora”? Com versos provocativos e feitos de recados diretos (sem perder espaço para a poesia) como este, Gabriel O Pensador conquistou o seu espaço na história da música nacional. Trinta e cinco anos depois do primeiro rap que criou, o artista conversa com o canal Papo de Música e conta à apresentadora, Fabiane Pereira, sobre frustrações com os rumos da sociedade brasileira, a grande popularidade que tem em Portugal e as investidas nas composições de canções voltadas ao público infantil.
“Eu gostei de você, tô bem assim: falando naturalmente”, diz o rapper, destacando falar de forma transparente antes de se declarar um otimista por essência, apesar de confessar “uma decepção com nosso próprio país, nosso próprio jeito de ser”. Mesmo com frustrações, ele se mantém esperançoso por ver “muita gente tentando se conectar, olhar pra dentro, rever conceitos, prioridades e hábitos”.
Relembrando a música lançada pelo carioca em 1992, inicialmente censurada e depois relançada em 2017, “Tô Feliz (Matei o Presidente)”, o cantor comparou os anos 90 à atualidade e, mesmo com toda a positividade, ele vê um longo caminho até evoluirmos enquanto sociedade. “Não evoluímos no convívio, na troca de ideias, no debate. Nesse tempo todo, a gente nunca teve bons exemplos de quem tá no poder”, diz. Mas ele alerta, nem só os poderosos precisam repensar atitudes de acordo com o rapper: “Temos essa cultura de levar vantagem em tudo, não são só os políticos. O brasileiro tem muita coisa também pra corrigir no seu comportamento. Me decepcionei ao ver que somos mais imbecis e manipuláveis do que pensava. A gente tá invertendo tudo endeusando políticos. E faz tempo… Bolsonaro não foi o único”.
Expurgando o peso das crises sanitária e sociopolítica, Gabriel O Pensador tem se refugiado criativamente na poesia. “Tem uma playlist no meu canal chamado ‘Sente a Poesia’. Isso me ajuda a desabafar”, fala sobre o projeto de YouTube, nascido a partir do texto “Poema da Minha Morte” – trabalho em que reuniu versos escritos em meio à experiência da perda do pai. “Meu pai já tava na reta final e eu tinha esse poema inacabado. Quando eu peguei [o texto] pra mexer, comecei a falar da vida e consegui desabafar um pouco sobre o meu pai também, que tava vivo, mas naquela história”, lembra.
O artista também percorreu assuntos como sua trajetória na literatura, escrevendo obras infantis, sobre repensar músicas já conhecidas e destacou canções que evocam esperança no quadro Palinha. O Papo ainda pode render uma segunda parte, segundo a apresentadora.