Palavras de Kris Ex
Ilustração por Alex Ostroy
Tupac fez muito mais do que dizer para eles se foderem. Preparado e nunca assustado, o Sr. Shakur colocou sua pistola onde estava a boca quando se tratava de mostrar a po-po (polícia) que a brutalidade policial era um no-no. E temos provas.
Em 1993, Tupac Shakur estava em um campo de tiro em Los Angeles filmando uma entrevista em vídeo para um programa de TV à cabo local. Ele disparou tiros nos alvos de papel com uma ótima precisão. Enquanto ele não esboçava sorrisos no rosto à la Mel Gibson no filme Lethal Weapon, ele deixou os alvos completamente esburacados como um queijo suíço. [Brincando sobre o alvo] “Ele morreu”, disse ele, admirando sua obra. “O lado esquerdo de seu rosto ficou acabado e toda a parte superior da cabeça e todo esse lado. Ele morreu.” Quando ele apertou, ele não respirou.
“Agora você sabe que eu estou falando como eu ando”, ele disse. “Agora, tudo o que eu realmente tenho que fazer é atirar em um alvo ao vivo. Mas isso não é tão profundo ainda. E eu não estou realmente tentando provar nada. Então tudo bem. Até então, continuarei atirando no papel.”
Ele mostrou seu pequeno arsenal. Um rifle de assalto de calibre .223 carregado com 90 balas de ponta oca, uma Glock de 10mm, uma Mac 11, uma arma de mão de 9mm, uma Magnum .357 e uma espingarda Mossberg de calibre 12. Ele também tinha uma mochila cheia de munição. “Se eles vierem me pegar por alguma besteira e eu não quiser ir para a prisão, eu tenho isso para eles”, ele disse carregando o rifle de assalto. “Eu não vou para a prisão. Não a menos que eu queira, não a menos que eu tenha feito algo. Aí eu irei. Mas eu não estou fazendo nada de errado, você entende o que estou dizendo? Então se eles vierem até mim, eu terei 90 balas prontas para eles…”
Quando Tupac Amaru Shakur mudou-se para Atlanta no outono, ele já era um nome familiar. O ano anterior tinha sido ocupado. Em um caso que fez manchetes nacionais, os promotores citaram uma música, “Soulja’s Story”, do álbum de estreia de Tupac, “2Pacalypse Now”, como influência durante o julgamento de um adolescente negro que atirou e matou um policial do Texas. Na música, ’Pac canta: “Cops on my tail, so I bail ’till I dodge ’em/ They finally pulled me over, and I laugh/ ‘Remember Rodney King?’/ And I blast on his punk ass… Keep my shit cocked ’cause the cops got a Glock, too/ What the fuck would you do, drop them or let em drop you? I chose dropping the cop.”
Durante seu momento de reeleição, o vice-presidente Dan Quayle denunciou“2Pacalypse Now” dizendo que “esse álbum não tem nenhum espaço em nossa sociedade”. A morte de um menino de seis anos também foi ligada a Tupac depois que uma criança foi atingida por uma bala perdida em uma festa comunitária em Marin City, Califórnia durante uma violenta altercação entre ’Pac e alguns ex-amigos.
Em março de 1993, o rapper foi preso depois de entrar em uma briga com um motorista de limusine que não gostou da fumaça de seu cigarro de maconha vindo do banco de trás. As acusações foram eventualmente abandonadas, mas menos de um mês depois desse incidente, ’Pac foi preso por ter batido com um bastão de baseball em um repper de Lansing, Michigan que supostamente o surpreendeu durante uma sessão de freestyle em um show. Ele foi condenado a 10 dias do outro lado da parede.
’Pac tinha se mudado para Atlanta para se afastar do drama que parecia estar seguindo-o onde quer que ele fosse. “Onde eu tenho que ficar para não ter problemas?”, pergunta ’Pac em uma cena do documentário de 2002 do diretor QD3, Thug Angel: The Life Of An Outlaw. “É por isso que eu vim para Atlanta. O que eles querem que eu faça? Não há lugar chamado ‘Careful’.”
No Halloween daquele ano, ’Pac estava voltando para o Sheraton Hotel depois de se apresentar na Clark Atlanta University. Ele parou no cruzamento nas ruas 14th com a Juniper, não muito longe do hotel. Lá ele é relatado por ter observado dois homens brancos incomodando um motorista negro. ’Pac decidiu intervir na situação. Quando o homem negro fugiu, os dois homens brancos, os irmãos Mark e Scott Whitwell, perceberam que ’Pac estava com uma equipe profunda e que estavam superados em número. Mark puxou uma arma.
“Aparentemente, ’Pac disse, ‘Vá em frente e atire em mim’”, disse QD3, que também tem créditos de produção nos álbuns de ’Pac, “All Eyez On Me” e “Don Killuminati: The 7 Day Theory”. “’Pac levantou os braços e disse, Atire em mim, tanto faz. Você pode atirar em mim. Qual é?’”
“O cara atirou e ’Pac se escondeu”, ele continua. “Então ’Pac puxou seu próprio gatilho e atirou de volta.” O tempo no campo de tiro valeu a pena: Mark foi baleado no abdômen, e Scott na bunda.
Como acabou, os irmãos Whitwell eram oficiais de polícia fora de serviço. Tupac foi preso e acusado de duas acusações de agressão agravada. No julgamento subsequente, no entanto, mesmo as testemunhas da acusação testemunharam que Mark Whitwell disparou o primeiro tiro. Além disso, Scott admitiu sob interrogatório que ele e seu irmão tinham bebido naquela noite. As acusações foram eventualmente abandonadas, com o advogado distrital adjunto Charles Hadaway dizendo que ’Pac tinha agido em legítima defesa. (Em 1998, após a morte de ’Pac, um juiz do Tribunal do Estado de Dekalb emitiu um julgamento padrão de $210,000 contra o estado de Tupac a favor de Scott Whitwell).
“Para dois policiais brancos em Atlanta, um estado do sul, ao ser baleado por Tupac, o filho de uma Black Panther, e Tupac foi absolvido assim?” disse QD3. “Algo muito errado aconteceu… Todas as probabilidades foram empilhadas contra ele.”
“Quando eu ouvi que ’Pac tinha atirado em dois oficiais da polícia, eu falei, Uauuuu!” disse o linha de frente da Digital Underground, Shock G, que deu a ’Pac sua primeira oportunidade na indústria da música. “Esse nigga era realmente um Chaka Zulu! Eu não conhecia os detalhes, mas conhecendo ele pessoalmente, eu sabia que ele foi justo. Ele não era um assassino.”
“Há muitas coisas que Tupac faria”, disse QD3. “E se você não fez a sua pesquisa e você era uma pessoa que olhava a notícia, apenas observando o que aconteceu, você provavelmente pensaria que ele era um canhão solto, sem inteligência. Eu acho que se você pesquisar todos os indivíduos de seus executivos com a polícia ou a lei em geral, ou qualquer outro repper, quase sempre há uma lógica por trás disso e uma qualidade redentora sobre a treta. Especialmente com o tiroteio de Atlanta. Ele não sabia que esses caras eram policiais. Ele parou apenas para ajudar um irmão a sair do problema. Foi isso. Era uma coisa muito nobre em minha opinião.”
“As pessoas brancas fizeram você acreditar que [estou louco]”, disse ’Pac. “Só porque estou dizendo a um nigga para parar de ter a cabeça chutada pela polícia, pegar a arma que ele usaria para atirar em seu irmão em um segundo e matar o filho da puta, o policial que está matando você, matando sua família e todo o resto da área. Isso não é insano. Isso é são — essa é uma porra positiva.”
O caso sobre Tupac não ter amor pela polícia começou muito antes de se mudar para Atlanta. Na verdade, você pode dizer que começou antes de nascer. Em 2 de abril de 1969, sua mãe, que era do Black Panther, Afeni Shakur, foi presa como parte do NY 21, um grupo de ativistas políticos acusados de conspirar para explodir vários marcos da cidade de Nova York. Solta por fiança, Afeni ficou grávida, mas ela voltou atrás das grades quando sua fiança foi revogada. Ela permaneceu na prisão até que as acusações caíssem em 14 de maio de 1971. Um mês depois, seu filho nasceu.
Como jovem, Tupac foi doutrinado com a política Panther e os códigos da rua. “Ele aprendeu muito com as pessoas”, disse seu padrasto, Mutulu Shakur. “Ele esteve em torno dos viciados, ele se envolveu com gangsters, ele se envolveu com pessoas oprimidas, ele se envolveu com as pessoas que estavam lutando por coisas, ele ouvia as reuniões. Ele participou de todas as reuniões do Panther em que Afeni estava. Ele fazia parte dessa luta desde quando era uma jovem criança.”
“’Pac não se curvou para a autoridade”, disse Shock G. “Para ele, não importava se você era um mano normal, um mano de gangue, um mano ilegal, polícia, mídia, da Casa Branca ou o homem ao lado — se você o desrespeitasse, era melhor ter cuidado.”
“Ele sempre teve uma fascinação pelo poder”, disse Leila Steinberg, que foi mentora e gerente de Tupac quando adolescente e o abrigou por três anos em Marin City. “As armas têm poder. Mas ele não teve acesso às armas até que ele começou a ganhar dinheiro. Quando você começa a ganhar dinheiro, você tem um acesso diferente.”
Em 17 de outubro de 1991, antes de ter tido tal acesso, Tupac foi preso por atravessar a rua sem consultar as regras de cruzamento e resistiu à prisão no centro de Oakland. Ele afirmou que foi pego pelos policiais com pura brutalidade. “Aqueles filhos da puta me jogaram no chão e bateram minha cabeça na calçada repetidamente”, disse ele no dia seguinte a Danyel Smith, um escritor de música local que se tornaria editor-chefe da revista Vibe. Tupac arquivou 10 milhões de ações civis contra a cidade (ainda pendentes no momento da morte).
“Polícia, aplicação da lei — isso é sempre uma discussão”, disse Steinberg, lembrando um incidente quando a polícia apareceu em sua casa porque Tupac estava tocando música muito alto. (Não foi a primeira vez.) Enquanto ela estava conversando com o oficial, Pac ficou de pé sobre o ombro dela, mostrando o frívolo respeito do policial. “Oficial, fique aí”, ele disse. “Eu quero mudar o volume para ter certeza de que isso está tudo OK.” Ele foi ao aparelho de som e colocou “Fuck Tha Police” do N.W.A. alto o suficiente para o policial ouvir, mas não tão alto como para ser um distúrbio. “Ouça, oficial”, ele disse, “me permita saber se isso está muito alto.”
Na sequência do espancamento de Rodney King, ’Pac — tendo uma sugestão de uma velha tática Panther — começou a policiar a polícia, chegando mesmo a gravar vídeo em prisões. “Ele estava sempre tentando fazer com que as pessoas observassem o que estava acontecendo”, disse Steinberg. “Enquanto a maioria das pessoas caminham com a câmera, ampliam as partes do corpo, ’Pac sempre, em qualquer momento onde havia atividade da polícia, ele caminhava, com câmera ou não, e seria um observador ativo.”
“’Pac sabia como irritar os policiais”, continua ela. “Mas o que ele disse sempre foi desafiador. Ele nunca desistiu das informações que poderiam ser usadas contra ele. Ele passou o tempo fazendo sua lição de casa tentando entender por que alguém queria ir contra ele atrapalhar suas coisas, os parâmetros disso.”
Quando Tupac disparou contra os irmãos Whitwell e se afastou vindicado, ele mesclou a aparente cisma entre seu caráter de rua e sua educação revolucionária — ele satisfez todas as suas famílias. Para os malandros, traficantes de drogas e OGs que ele tinha feito amizade, ele se tornou um Thug Emeritus (um bandido emérito, ou seja, ele se tornou mais importante ainda depois de morto, mantendo esse título como uma honra). Para o Black Panther que o criou e o reivindicou, tornou-se revolucionário. Para seus fãs, ele se tornou o mais real do real. Ele ganhou credibilidade definitiva sem qualquer dúvida, um passe do gueto além da revogação. Foi o momento em que ele transcendeu do repper para a figura política, da estrela do pop para o super-herói.
“Atirando em policiais?“” escreveu Smith em seu ensaio sobre Tupac em The Vibe History Of Hip Hop. “E viver para contar a história? E fazendo rep? Ele estava além do real.”
“Quando ’Pac disparou contra esses policiais, ele se tornou o personagem da Thug Life”, disse Steinberg.
“Naquela época”, disse Smith, “em um momento que parecia a batalha pelo mundo — homens negros contra a aplicação da lei, novo contra velho — era fácil e quase necessário olhar para esse incidente com a polícia de Atlanta como um que fez de Tupac um herói. Mas, ao citar Francis Scott Fitzgerald, ‘Mostre-me um herói e eu escreverei uma tragédia.’ Olhando para trás agora, preferiria que ele fosse uma estrela pop que ainda estivesse viva do que um herói que morreu tragicamente.”
Manancial: XXL Magazine