IZA apresenta o aguardado “AFRODHIT”, o álbum — considerado pela própria cantora — como o mais feminino e pessoal da carreira. Para tanto, ela descartou músicas quase prontas ao julgar que não representavam seu momento presente e, em fevereiro deste ano, recomeçou o trabalho do zero, com uma identificação maior com temas jamais ditos e que, agora, soam naturais e nada incômodos para ela. “Eu me sinto mais confortável para ser quem eu quero e falar coisas que não disse antes”, explica. IZA chega ao novo projeto não só abraçada com sua independência feminina, como no auge de um domínio artístico impulsionado por superações emocionais conquistadas recentemente.
Se a etimologia do nome Afrodite ainda é um mistério, o mesmo não se aplica a “AFRODHIT”, inspirado no conceito de um ser que nasceu do centro da Terra e caiu no universo urbano, passando a viver as conquistas e agruras, os desamores e recomeços.
“AFRODHIT” aterrissa para descobrir todos os prazeres e aflições que permeiam os relacionamentos. Esse olhar para a realidade surge nas mais variadas versões — sempre fortemente orientadas para o afrobeat — que conduzem IZA a ritmos que vão de R&B, rap, lovesong até funk, extrapolando os limites da MPB, resultado de sua vivência nos palcos, nas telas e no presente. A cantora e compositora comanda todo o corre, mesmo quando é preciso se adaptar a gêneros mais “inesperados”; nota-se tranquilamente que percebeu as inúmeras possibilidades para a própria voz, que se reinventa e se molda à proposta.
O álbum é, em grande parte, uma imersão nas questões femininas, para a qual a protagonista IZA convidou parceiras para lá de especiais, mulheres que crescem ombro a ombro com ela, para dividir essa caminhada repleta de descobertas. São abordadas temáticas pelas quais as mulheres se reconhecem em IZA, que, por sua vez, reconhece-se em si mesma. E, perpassando o álbum, o recado vai sendo dado: hoje, IZA já não encontra dor em deixar o passado no passado e mirar corajosamente um futuro independente — de certo, um movimento de transformação de dentro para fora, que, em “AFRODHIT”, irrompe em novas e audaciosas habilidades adquiridas ao longo desses anos.
Não significa que a cantora e compositora esteja travando uma batalha contra o sexo oposto, longe disso. Os que chegam para acrescentar são muito bem-vindos, como Arthur Verocai, na faixa de abertura, “Nunca Mais”; Russo Passapusso, em “Mega da Virada”; L7nnon, em “Fiu Fiu”; e Djonga, em “Sintoniza”. As escolhas demonstram o radar apurado de IZA e reforçam sua versatilidade, ao fazê-la embarcar em uma jornada destemida com representantes da música brasileira que reinam nas ruas de todo o Brasil. São faixas arrebatadoras, cada uma a seu modo: em “Nunca Mais”, o desabafo de IZA é contundente, porém amenizado pelo luxuoso arranjo de cordas do maestro Verocai. A festa de “Mega da Virada” é invocada pela cantora e endossada pelo líder do BaianaSystem, Russo Passapusso. Já “Fiu Fiu” traz a naturalidade com que as gerações mais jovens lidam com o sexo, desmistificando os desejos no trap classudo de L7nnon, com o toque marcante do concorrido beatmaker Papatinho. Com arranjo do premiado produtor Nave, “Sintoniza” é um convite melodioso cheio de malícia para o flow incisivo do rapper Djonga.
Mas também não deixa de ser verdade que “AFRODHIT” traz um coro feminista tão baseado em experiências reais que deixa as teorias no chinelo. Para a divertida “Fé nas Maluca”, a cantora convida MC Carol, outra líder negra, para dividir os vocais ou, melhor dizendo, para se unir e confabular sobre o poder da união entre as mulheres. A funkeira, nascida e criada nas favelas do Rio de Janeiro, é considerada uma importante voz feminista da quebrada, com suas letras de cunho pessoal e relatos de experiências sexuais. Aqui ganha o aval de IZA, reforçando que qualquer padrão estabelecido para as mulheres é uma grande bobagem e deve ser combatido com uma boa dose de sororidade. Assumidamente fã de Tiwa Savage, IZA compartilha uma faixa com a nigeriana e confortavelmente se equipara à rainha do afrobeat. Na dançante “Bomzão”, com a mescla de ritmos, vozes e idiomas, elas se complementam e transportam o flerte para a pista, satisfazendo o desejo dos fãs que estiveram no festival Back2Black torcendo por esse feat.
Tomando a característica cativante de “Que Se Vá” como referência, não se espante caso uma, duas, três faixas, ou até mesmo todas, tornem-se hits imediatos assim que “AFRODHIT” estiver disponível. “Que Se Vá” é um basta ao que não é mais tolerado no universo feminino e, nas palavras da cantora, “uma música de libertação”. Embalada por uma sonoridade irresistível, a composição é claramente um grito, um desabafo, uma virada de página — da qual IZA sai ainda mais forte e às gargalhadas.
Cantarolar não só é permitido, como um convite pessoal de IZA. Vai resistir?