O álbum “Calango do Cerrado”, primeiro da carreira de Ahgave, foi lançado em maio deste ano em todas as plataformas digitais. Não à toa, na data que também é celebrado o Dia Nacional do Reggae, uma das principais referências sonoras do artista. O trabalho demorou cerca de um ano para ser produzido e carrega ideias que atravessam camadas sociais e trazem para superfície diferentes tipos de assuntos coletivos.
O mato-grossense já é conhecido de longa data na cena do rap, reggae e outras vertentes da cultura marginal no estado. Entre as oito faixas, seis músicas e dois diálogos interlúdios e a sequência de introdução Calango do Cerrado, Pra Djá, Fiscal da Fé, Lápis Cor De Pele, Elite do Atraso, Previdência ou Morte, Dia De Corre e Cerrado Baile.
O clipe de “Pra Djá” estreou em fevereiro deste ano e aqueceu o público com as cenas. O enredo chamou atenção dos internautas e mostrou, logo de cara, originalidade e sintonia com os temas políticos da atualidade.
No álbum “Calango do Cerrado”, simplificou ideias, tirou gírias, rimas rápidas, palavras em outras línguas e tudo o que pudesse ser um ruído na comunicação com o público. “A intenção era que minhas músicas pudessem dialogar de um adolescente a uma senhora idosa. Para isso, tive que revisitar as composições, alterar letras e instrumentais. Isso refletiu num processo de autoconhecimento, me fez revisar pensamentos e ideias na vontade de me lapidar. Tudo isso para entregar o meu melhor”.
Por conta da pandemia, o MC teve dificuldade de encontrar profissionais que pudessem trabalhar no projeto. Foi quando assumiu mais de uma tarefa. Entre as funções assumidas por ele, a de produtor musical, produtor executivo, diretor de arte e músico compositor. “Foi à base de suor, sangue e lágrimas para dar conta das oito faixas, oito videoartes e um videoclipe”, diz.
O nome do álbum “Calango do Cerrado” é uma homenagem aos homens e mulheres que são reconhecidos por terem nascido ou morarem em regiões que possuem esse bioma, além de ser um “apelido de família”.
É o avô do artista quem protagoniza a capa do álbum. O ancião foi o escolhido para representar seus antepassados e outras pessoas que levam, ou já levaram, a mesma lida. Como um espelho, Ahgave se vê no ancestral, que, antes do músico, também era conhecido como calango.
A sonoridade do álbum transita entre o rap, reggae e dancehall. É possível escutar samples, melodias ou arranjos de músicas popularmente conhecidas como, por exemplo, Bam Bam de Sister Nancy, No No No de Dawn Penn e Rock Stone de Stephen Marley. Além dos clássicos, na primeira faixa do álbum, há uma mistura original entre reggae e lambadão, estilo popular de Mato Grosso.
A direção musical é de Ahgave que assina como Mato Groove e conta com co-produções instrumentais de Artur Lion, Lucas Méllow, Augusto Krebs, Laza e Dubalizer. Já nas participações, divide versos com Nega Lu, Kyanaju, Kessidy Sharamandaya, Luiz Góes e Supa Smile do Retumbo Sistema de Som. Direção de voz por Jefferson Neves, vozes captadas no estúdio de Xinn Beats, mixagem e masterização.
Texto: Mirella Duarte