sexta-feira, novembro 22, 2024

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Alt Niss: “Quando mulheres se juntam pra multiplicar força, elas emanam essa força para outras mulheres”

Alt Niss faz parte de uma cena de mulheres que vem mostrando sua força de uns tempos para cá no cenário do hip hop brasileiro. O R&B é sua principal influência, é o seu estilo. Niss, logo na infância, percebeu que cantar era seu dom. Fez backing vocal para alguns grupos, trabalho que lhe deu muita vivência, porém, compor suas letras e fazer sua música era algo que estava na sua essência. A artista acerta em seguí-la, suas letras tem um teor emocional forte, além de mostrar muita sensibilidade. Talento, Niss tem, mas muita coisa pode atrapalhar a caminhada, Niss diz que já pensou em desistir, por achar que não teria espaço e até mesmo insegurança, entretanto é algo que ficou para trás, ainda bem, hoje ela pensa cada vez mais em mostrar seu trabalho autoral: “Fazer backing vocal é legal. É uma experiência massa. Mas eu me sinto muito melhor fazendo o meu. A minha música é totalmente ligada a quem eu sou”, afirma.

Buscar visibilidade e mostrar união é algo positivo dentro da cena feminina, é ótimo, pois o artista também é um exemplo a ser seguido. Atualmente Alt Niss faz parte do Rimas & Melodias, projeto que reúne cantoras, rappers e DJs, cujo objetivo é mostrar que as minas estão unidas e que assim podem multiplicar a força e a troca de experiências, principalmente entre as mulheres negras: “Quando mulheres se juntam pra multiplicar força, elas emanam isso pra outras mulheres. E quando mulheres negras fazem isso o peso é muito maior.”

Para a cantora, o R&B é uma cena que tem uma história linda, que ainda existe e resiste. “Mesmo que seja underground, de certa forma. Mas a cena existe, não tão unida e pouco sólida. Mas eu acredito muito no R&B. Como música. Não faz sentido lotarmos shows de Erykah, Beyonce, Ludmilla e dizer que as pessoas não escutam R&B aqui”, diz a cantora. Confira abaixo entrevista que o ZonaSuburbana fez com a cantora.

14274400_10207220154243681_1153768485_oZS: Quando percebeu que poderia cantar?
Alt Niss: Quando ainda era criança. Eu descobri que gostava dos sons que ouvia e que aquilo ia além de só curtir. Quando me dei conta eu reparei que era aquilo que eu queria fazer na vida. Foi maior que eu.

ZS: Você começou cedo, durante sua carreira até aqui pensou em desistir, por algum motivo?
Alt Niss: O tempo todo. Por insegurança. Por achar que não tinha espaço. Isso foi mais comum pra mim do que alguém possa imaginar. Até eu entender minha identidade. Hoje as dificuldades são outras. Às vezes atrasa o processo, mas parei de pensar em desistir. Rs.

ZS: Você fez bastante trabalho como backing vocal, como é para você cantar solo?
Alt Niss: Fazer backing vocal é legal. É uma experiência massa. Mas eu me sinto muito melhor fazendo o meu. A minha música é totalmente ligada à quem eu sou. Tenho uma responsabilidade muito grande com a minha identidade artística, porque ela faz eu me sentir viva. Fazer minha própria música é sobrevivência. Então é o caminho que de fato eu tenho que seguir. Destino.

14247805_10207220153523663_388922946_oZS: O projeto Rimas & Melodias ajuda a atrair holofotes para o trabalho de vocês, que estão trabalhando. Qual a importância disso, das mulheres mostrar união e força?
Alt Niss: A importância vem de várias formas. No campo pessoal, político, artístico, profissional, etc. Quando mulheres se juntam pra multiplicar força, elas emanam isso pra outras mulheres. E quando mulheres negras fazem isso o peso é muito maior. A ideia é que isso seja positivo pra outras mulheres e mulheres negras da mesma forma que é pra gente que tá fazendo. Unindo forças a gente faz o trabalho de cada uma chegar pra muito mais gente. A gente troca experiência e aprendizado. E essa é uma forma incrível de ajudarmos umas às outras. E de ser referência pra outras meninas. Aprendo muito caminhando com as meninas no Rimas & Melodias. Em todos os sentidos. É uma honra imensurável!

ZS: Na minha opinião, sua música tem muita sensibilidade e ao mesmo tempo mostra alguém que sabe o que está fazendo. Você concorda? Nos fale sobre isso.
Alt Niss: Concordo em partes. Rs. A minha música tem muita sensibilidade sim, porque é muito honesta sobre quem eu sou. E eu sou regada a sensibilidade. Sou movida a sentimento, como uma legítima mulher de peixes. A minha música é a forma mais sincera de eu dizer o que eu sinto. Sobre eu saber o que estou fazendo depende. Musicalmente falando sim, eu aprendi a me encontrar como artista, e sei exatamente onde eu quero chegar. Essa é a parte mais difícil em ser artista. Encontrar uma identidade. Tem muita coisa pra acontecer daqui pra frente, e eu já me sinto feliz por ter traçado vários caminhos artisticamente falando. Mas na vida eu estou apenas sendo. E isso já é suficiente pra mim.

ZS: Como você enxerga a cena do R&B aqui no Brasil?
Alt Niss: É uma cena que teve uma história linda há algumas décadas atrás, e que deve ser respeitada pra sempre. Com pilares como Cassiano, Tim Maia e Hyldon por exemplo. As pessoas se esquecem, ou parecem não conhecer. Infelizmente houve um hiato na história, mas a cena existe. Mesmo que seja “underground” de certa forma nos dias de hoje. Mas ela existe. Não tão unida. E pouco sólida. Mas eu acredito muito no R&B. Como música. Não faz sentido lotarmos shows de Erykah Badu, Beyoncé, Ludmilla, e dizer que as pessoas não escutam R&B aqui. É contraditório. O R&B tem ligação com muitos gêneros, começando pelo Rap, passando pelo Índie e chegando no funk, é uma questão de conquistar o ouvido das pessoas e trabalhar da melhor forma pra se distribuir e manter. Não que isso seja fácil.

ZS: Você tem acompanhado a luta das mulheres nos últimos tempos para obter mais respeito e participação igual aos homens na cena musical, como você enxerga essa luta atualmente?
Alt Niss: Observo muito. E não existe melhor forma de superar todos os obstáculos do que trabalhando. O machismo é brabo! Desde os próprios artistas e produtores que subliminarmente acreditam que você não pode escrever sua própria parte num som que vc foi convidada a participar, até a própria cena que coloca as mulheres como frágeis. Mas não tem muito o que se falar a respeito. É passar por cima e trabalhar. Fazer o nosso.

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