Três anos depois do seu último single, “Pelos Outros”, o rapper Abel retorna à ativa com o rap-jazz “Não Se Compare”. A inspiração surgiu a partir do sample de um clássico da música brasileira, produzido pelo Zinho Beats. O instrumental ainda conta com a participação de Jacson Araújo no arranjo das teclas e a mixagem é assinada pelo produtor CABES. Já na lírica, o MC aborda questões relacionadas à perda de tempo com futilidades cotidianas, principalmente nas redes sociais, os problemas causados por querer se comparar com o outro e a aquela vontade que muitos têm de mudar, porém, fazendo as mesmas coisas.
A composição foi escrita em 2021, durante um dos períodos mais críticos da pandemia de Covid-19, como uma reflexão sobre a problemática do tempo perdido no Instagram, tendo em vista que era uma das formas de ter uma conexão e estar mais próximo de outras pessoas – dentro e fora do círculo de amizade. Ouça nas plataformas.
“Naquele momento as lives estavam bombando e as pessoas se envolveu ainda mais com aquilo”, diz Abel. “Quando a gente consome e produz conteúdo, também absorve a pressão de que precisa estar sempre fazendo para atingir determinados números. Assim, começamos a nos comparar com os outros. Aí, ou você vai se achar ruim e inferior em relação às outras pessoas ou vai encontrar uma forma de desvalorizar o que ela faz. A comparação mata a humanidade da pessoa”.
Seguindo a mesma ideia da letra, a arte da capa foi criada pelo grafiteiro Bruno Bilbo e faz parte de uma exposição de artes plásticas em Joinville, Santa Catarina. “Bilbo é um amigo de longa data e o conceito partiu do próprio, tendo como referência nossas conversas, vivências e também o som”, diz. “Ele colocou toda a minha família em forma de códigos e recortes da minha vida. É impossível explicar toda a história por trás de cada um dos elementos”.
Para fazer o audiovisual, gravado em Boston, nos EUA, Abel se juntou à Optima Produtora. Usar a máscara de luta livre mexicana no clipe é uma forma de fazer uma ligação com a ilustração da capa, e retratar a vida de como o MC leva a vida. “Embora seja sempre uma luta, ao mesmo tempo é engraçada, bizarra, como uma luta mexicana”, afirma. Fazer esse trabalho com o auxílio de um time multifacetado, era algo que estava no radar dele há um tempo, tendo em vista que na maioria das vezes fazia os seus projetos de forma autônoma. “Eu sentia a necessidade de contar com pessoas talentosas colaborando em minha arte. É como uma descentralização, um pouco por me sentir capaz, mas isso acabava limitando o resultado da minha arte também, e tornando tudo mais denso e até demorado”.
Reflexiva, porém não melancólica, a música é também um convite para que cada indivíduo se relacione com o outro de forma verdadeira na vida real – sem comparações ou inveja. Como diz um dos versos: “estenda a mão pra quem cruzar o seu caminho, é uma boa pra você ver que não está sozinho”.