sexta-feira, janeiro 24, 2025

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Babidi apresenta o disco “Depois Que a Água Baixou” com participações de VND, yung vegan, Matheus Coringa e mais

Vivendo totalmente em um mundo distópico, com os pés no chão para a realidade nua e crua, o produtor e beatmaker carioca Babidi derramou todas as suas aflições após uma enchente que inundou sua área no Parque Columbia, Rio de Janeiro; episódio corriqueiro em quase todas as áreas periféricas brasileiras durante os meses chuvosos. A água, que não leva só móveis e eletrodomésticos mas principalmente os sonhos e esperança da população, traz com seu desnível a forma tangível do desespero. Quando enche e quando se desvanece, completa o mesmo sentimento desolador. Babidi, morador de Madeira, apresenta ao público suas conclusões sobre a sociedade e a chuva no disco “Depois Que a Água Baixou”, convidando para complementar a narrativa as vozes dos artistas, VND, Matheus Coringa, yung vegan, Killa Bi, Bonsai, Servo, VECTOR, Meg Pedrozzo, Mmoneis, Claudjin e a visão mais íntima do seu pai Seu Gerê e avó Luiza Florisbal, para interlúdios que conectam a história. O projeto está disponível em todas plataformas digitais via ONErpm a partir desta sexta-feira (24).

Uma coletânea que serve quase como uma denúncia ao racismo ambiental (constituído por injustiças sociais e ambientais que recaem de forma implacável sobre etnias e populações mais vulneráveis, de acordo com o gov.br), “Depois Que a Água Baixou” é dividido em 12 faixas que escancaram o negacionismo climático e a pura revolta do que o abandono do governo causa a sociedade. Babidi é o nome que encabeça o projeto, sendo produtor musical, beatmaker e engenheiro de som com grandes números e participações na sua caminhada na música. É conhecido pelos discos colaborativos com os cariocas LEALL e VND, que somam milhões de streams nas plataformas.

Não só a revolta move Babidi, mas a necessidade de mudar o cenário de sua área, Madureira, e o potencial que a música pode atingir. “Perceber que onde eu morava, no Parque Colúmbia, Zona Norte do Rio de Janeiro, e outros vários locais que sempre são atingidos por esse descaso, Mostrar que eu e o povo resistiu mas não por que queríamos, e sim por não ter outra opção”, inicia Babidi.

“Depois Que A Água Baixou” se inicia com a faixa “Canoa Furada”, está com a voz de Seu Gerê, pai do produtor, que com dialeto magoado transpassa de forma breve o ciclo infinito de se reconstruir, recuperar e recomeçar. O tom intimista de Seu Gerê tinha a premissa de ser a introdução de um disco substancial. “O chamei para conversar e, como uma pessoa muito fácil de trocar ideia, ele soltou várias percepções naturais dele sobre essa fase refletida no disco, e sobre a visão de um homem que, aos 74 anos de idade, tem que se reconstruir e se repaginar mesmo cansado”, comenta Babidi.

Para aproximar o público da obra, a segunda track, “Plano” com a voz de Killa Bi, é o acolhimento necessário a todos, quase como um abraço empático que torna os processos um pouco mais fáceis. A faixa em questão foi criada 15 dias após a casa do produtor alagar, em uma JBL Go 2, e a ideia dos trompetes que levam a música ao seu ápice, teve como pressuposto trazer a jovialidade ou uma dose de força de espírito, como descreve Babidi.

Após o abraço, a revolta dos pensamentos toma o lugar na terceira track, intitulada “Até Quando”, com os fortes versos do rapper Bonsai“Hoje a dinâmica se vira nos 30 virou comum, se nós não nos ajudarmos entre si, jamais a situação será superada. Por isso a necessidade de trazer a tona certas situações tristes que vivemos, não para que olhem pra mim, mas que olhem pra nós” exclama o artista e beatmaker, que junto de Bonsai e o produtor CIANO, transformou os instrumentais de jazz em um melancólico beat amarrado a uma mixagem de primeira linha.

Em quarto lugar do disco, “O que Sobrou do Céu” feat Matheus Coringa sob o selo Sujoground, traz a fúria inegável da situação de caos. O beat foi feito há 3 anos atrás, na mesma casa que alagou repetidas vezes – “Não tenho idéia de como é o céu / Mas sei como é no inferno / O meu remédio é matar o meu tédio/ Dando vida ao caderno”. Já yung vegan é a voz da faixa número cinco, “Cabelo de Pivete, Faca e Fé”, onde o MC traz em seus versos o trauma da perda. “Junto com o mix de sensação de que mesmo estando numa crescente na vida, que ninguém vê o desespero que isso causa na gente, só a parte boa do que a gente oferece com a música”, afirma Babidi, que propôs no beat o peso emocional que a letra carrega, sintetizando de forma mista, com tons do aspecto triste e traumatizante da situação. “Terminar a faixa foi quase como tirar um peso das costas, um alívio imediato”, finaliza Babidi.

“Sonhos da Dispensa” é no vocal áspero de VND, sendo um drill lento que destoa das demais produções do álbum, exatamente para rolar uma conversa com o ouvinte utilizando uma comunicação passiva. A lírica utilizada por VND é a conexão direta com os pensamentos de Babidi“Quase como se quem tivesse escrito aquilo ali fosse eu e o VND mas falado na voz dele, só que eu não conseguiria nunca escrever essas linhas que ele trouxe. Ele projeta na voz dele e nas rimas: calma, reflexão, momentos pra se lembrar de que foram superados”, descreve Babidi.

O interlúdio de “Depois Que a Água Baixou” é na voz da avó falecida de Babidi, Luiza Florisbal, produzida ao lado de Cravinhos (participante do projeto Maria Esmeralda, também da Sujoground). Integrar o poema feito pela sua avó foi uma homenagem e leva o nome de “As Duas Sombras pt 1.”, pois Babidi quis deixar explícito que ela não recita toda a poesia, apenas metade da obra. Dando sequência, “Ponta da Lágrima” com a participação de VECTORCOLETIVODELTA e o colaboração do produtor gust, é o som energético que o disco precisava. “Uma música que sinto que nos encoraja e causa uma revolta, que admito ser necessária. Hoje eu entendo que essa revolta nada mais é do que nossa vontade de se proteger de certas situações da vida pessoal, e da vida na arte também”, contempla Babidi. A faixa que leva o nome do disco, “Depois Que A Água Baixou” contém os versos do artista Servo, que sem demora transmite através da sua lírica o desespero de ver sua casa sendo engolida pela enchente, colocando o público de forma visual no território do acontecimento, com riqueza de detalhes muito específica do tema. “Para mim, ele faz você criar no imaginário toda a situação, de um jeito que você consegue fechar os olhos e ver as cenas conforme o artista rima”, complementa o produtor carioca. Quase nos 45 do segundo tempo, a track “Renascer” entrou no setlist, com participação de Meg Pedrozzo e piano assinado por Jhon Zeff, que em união com a voz de Meg tem o espaço em DQAB quase como uma oração para o renascimento de cada um que escuta.

Chegando na reta final da coletânea, “Tempo De Deus” com Mmoneis transpassa a coragem, verdade e glória necessárias para atravessar os problemas da vida, propondo a fé e harmonia entre os iguais. E por último, finalizando a narrativa, “Súplica Fluminense” feat Claudjin, é uma referência inegável ao artista Luiz Gonzaga, onde o intérprete faz referência a artistas fundamentais da cultura brasileira; o nome da faixa faz referência a Baixada Fluminense, principal ponto do Rio de Janeiro onde acontece enchentes frequentemente. Foram feitas mais de dez versões do beat pelo modo sincopado do artista convidado de rimar.

Para Babidi, DQAB carrega profundos sentimentos e fez questão de espelhar todas as suas propostas na obra, totalizando tudo em 31 minutos de forma homogênea mas ainda sim, diversa. A capa amarra de uma forma artística e teatral toda a bagagem do tema abordado pelo produtor e intérpretes.

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