[Este artigo apareceu originalmente na edição de Abril de 2009 da XXL Magazine, enfatizando o 15º aniversário de Illmatic]
Na primavera de 1994, um rapaz iluminado de Queensbridge dropou “Illmatic”, seu álbum de estreia de 10 faixas que definiu um novo padrão para o liricismo do hip-hop, surpreendendo milhares de pessoas. Quinze anos depois, a XXL fez uma profunda viagem pelas memórias para abicorar melhor a elaboração desse clássico. Isto é “Illmatic”! Yeah.
Eles chamavam Nas de Profeta. A poesia fazia parte dele. E na Terça-feira, 19 de abril de 1994, quando Nasir Jones, de 20 anos, dropou “Illmatic”, seu álbum de estreia pela Columbia Records e Sony Music, as mentes do hip-hop mudaram. Era uma revelação.
A jornada começou três anos antes, com o Main Source, em 1991, no “Live at the Barbeque”. Com isso, o mundo do rep foi apresentado a um MC inicial das casas de Queensbridge, mais especificamente de Long Island City. Queensbridge, o maior projeto de habitação dos EUA, tinha Marley Marl, MC Shan e o poderoso Juice Crew, que havia trabalhado com a Boogie Down Productions do Bronx na famosa “Bridge Wars” no final dos anos 80. Filho do trompetista de jazz Olu Dara, Nas foi descoberto por Large Professor, da Main Source — e ainda estava na adolescência quando ele dropou o single “Barbeque” com linhas como, “Verbal assassin/ My architect pleases/ When I was 12/ I went to hell for snuffin’ Jesus!”.
As ruas de Nova York estavam tremendo. O repper MC Serch do 3rd Bass levou Nas na Serchlite Publishing e começaram a conversar sobre assinar um contrato de gravação. Nem todos da indústria estavam tão entusiasmados (Russell Simmons, por exemplo, no próprio selo de Serch, Def Jam Recordings, relegou Nas por medo de cometer uma falha comercial). Mas a procuradora de talentos da Sony Music, Faith Newman, logo levou Nas para a Columbia Records e lá ele deu seu passo inicial.
Com uma fascinante equipe de beatmakers de Nova York que incentivam a produção do Large Professor, o trabalho começou neste perfeito álbum de hip-hop. A primeira música solo gravada de Nas, “Halftime”, apareceu na trilha sonora do filme do gênero indie, de 1992, “Zebrahead“”, deixando os fãs ansiosos sobre o que estava por vir. Anos antes da disponibilização do álbum, DJs começaram a liberar faixas não protegidas via mixtapes. Em face de tal contrabando inicial, a Columbia então dropou um curto “Illmatic”, de 10 músicas e logo foi para as lojas em 94, criando planos originais para incluir mais material.
Os puristas de Nova York e a imprensa do rep reagiram de forma rude, mas Russell estava certo: o álbum não foi um grande sucesso comercial, vendendo apenas 330 mil cópias no primeiro ano. Seu impacto cultural, no entanto, provou ser incomensurável, marcando a chegada de Nas como o nascimento de um Messias e o início de uma carreira multimilionária. Uma década e meia após a disponibilização, a XXL entrevistou as pessoas que estavam lá para testemunhar. — Rob Markman.
Compilado por Timmhotep Aku, Carl Chery, Clover Hope, Rob Markman, Starrene Rhett, Anslem Samuel
REPRESENTANTES:
Nas: Repper do Queens, conhecido como Profeta
Jungle: Irmão de Nas, que forma o duo de rep Bravehearts
Faith Newman: Produtora executiva; ex-A&R da Sony
MC Serch: Produtor executivo; membro do trio de rep do Queens, 3rd Bass
DJ Premier: Produtor do Brooklyn; formador do duo de rep Gang Starr
Large Professor: Produtor, repper; membro do grupo de rep Main Source
L.E.S.: Produtor do Queens
AZ: Repper do Brooklyn
Olu Dara: Pai de Nas; trompetista de jazz
Pete Rock: Produtor de Mount Vernon, do duo de rep Pete Rock & CL Smooth
T La Rock: Repper do Bronx
Busta Rhymes: Repper do Brooklyn; ex-membro do grupo de rep Leaders of the New School
Grand Wizard: Repper do Queens, que forma o duo de rep Bravehearts
Q-Tip: Repper do Queens; produtor e membro do grupo de rep A Tribe Called Quest
1. The Genesis
Concebida por Nas e Faith Newman
Jungle: Nas escolheu a batida para ficar conversando de fundo. Lembro que não gostei da batida. Eu estava tipo, “Nessa batida, cara? Isso é um lixo.” Eu era um jovem louco. Eu nem entendia o que estava fazendo.
Nas: Eu sempre amei todas as pausas do filme Wild Style. [Nessa sessão o álbum] não estava no início da gravação, estava mais perto do fim. Eu levei uma fita VHS do filme e pedi para que o produtor reproduzisse.
Faith Newman: Wild Style foi, digamos, sua primeira introdução ao hip-hop. Seu pai o levou para assistir quando era criança.
MC Serch: A parte mais difícil de samplear [para limpar] foi a do [diretor do Wild Style] Charlie Ahearn, acredite. Nós fizemos um acordo com Charlie, e em seguida, Fab 5 Freddy entrou no meio e começou a falar merda na orelha de Charlie tipo, “Nah, você não recebeu o suficiente [dinheiro].” O engraçado foi que Freddy estava prestes a dirigir o videoclipe de “One Love”. Então eu disse para Freddy, “O que você está de segredinho com o seu amigo? Estou prestes a te cortar do que combinamos. Você está prestes a dirigir um vídeo. Mantenha a postura.” [Freddy disse,] “Você está me ameaçando?” Eu falei, “Nah, isso não é uma ameaça. Só estou dizendo que se você não parar com isso, você não vai mais dirigir nenhum vídeo.” Não falei mais com Fab 5 Freddy desde então.
2. N.Y. State of Mind
Engendrada por DJ Premier
DJ Premier: Esse foi o segundo beat que eu produzi [para Illmatic]. O primeiro foi “Represent”. Eu tive a ideia de fazer a parte da bateria com um pouco de algo engraçado — soa quase como um sinal de astronauta no início… Achei no sample de Joe Chambers [“Mind Rain”]. Eu geralmente não revelo meus samples, mas eu limpei isso, então está tudo bem. Encontrei o sample, e quando ouviram essa melodia, Nas e eles estavam de acordo, como, “Yo, curti isso, isso é quente.” Então eu finalizei e Nas começou a escrever.
Nas: Eu já tinha escrito a maior parte, então era só terminar. Quando eu estava no estúdio, ouvimos essa gravação. Nós estávamos ouvindo gravações. Eu me sentei com Premier por horas no D&D Studios. Quando ele botou para tocar, eu coloquei o material que eu tinha e escrevi algumas coisas novas lá, também.
3. Life’s a Bitch
Participando: AZ
Engendrada por L.E.S. e co-produzida por Nas
Trompete por Olu Dara
Nas: Pedi a L.E.S. para trazer [uma cópia do sample “Fruit Juicy” de Mtume]. Eu queria algo tipo “Juicy”. Ele não tinha esse registro, então levou “Yearning for Your Love” de Gap Band. Me acostumando, eu estava tipo, “Yo, isso não é ‘Juicy’, mas é uma parada sinistra!” Uma vez que fizemos, não me importei mais com “Juicy”. Claro, quando Biggie cantou, eu fiquei como, “Oh meu Deus.” Eu tinha perdido meu livro de rimas [justamente no dia em que gravamos “Life’s a Bitch”]. Quando chegamos ao estúdio e percebi que perdi meu livro, lembrei que tinha esquecido no trem. Todo mundo ficou louco, como se fosse um bilhete premiado da loteria. [Risos] Nós estávamos tipo, “Ah, mano, já era!” Isso foi anos de escrita, mas o bom foi que eu já tinha memorizado grande parte da letra.
L.E.S.: Você sabe, AZ estava lá. Nas disse tipo, “A, você tem alguma coisa para isso?” A só foi na cabine e cuspiu isso, e Nas foi logo depois. AZ tinha um refrão… Eles vibraram. E antes mesmo de eu piscar, saí do estúdio, voltei para os projetos, e os manos disseram, “Nós adoramos essa faixa do Nas.” Eu fiquei pensando comigo mesmo, Porra. É sério que eles fizeram isso? Uau!
4. The World is Yours
Engendrada por Pete Rock
MC Serch: Nós realmente estávamos chegando perto do final do álbum, e Pete e Nas haviam feito muito trabalho juntos, e na semana em que eles estavam mixando, minha avó faleceu. E na religião judaica, você tem que se sentar com Shiva, e meu dia para sentar-se com Shiva era na sexta-feira. Quando você se senta com Shiva, você basicamente senta em uma caixa, e você não faz nada o dia inteiro. Então recebi uma chamada de Ruddy, seu advogado e meu advogado me dizendo que eles devem receber um cheque de $5,000 para o álbum. E eu expliquei a eles, “Não tem problema, eu vou até vocês na segunda-feira.” E eles tiveram essa sessão naquele dia, e eles disseram, “Bem, entraremos no estúdio na segunda-feira e gravaremos no mesmo dia.” Eu disse, “Não, não, não. Você precisa fazer isso [hoje], porque a masterização será na segunda-feira.”
5. Halftime
Engendrada por Large Professor
Large Professor: A sessão para “Halftime” foi quente, porque ele estava conseguindo sua grande chance. E era como, ele já tinha sua erva pronta, Big Bo estava lá, Jungle estava lá, Wiz estava lá. Eu cheguei. Eu já tinha a batida pronta. E nos sentamos lá, relaxamos um pouco. E ele estava tranquilo, dizendo, “É a minha vez agora, preciso me concentrar.” Então nós sentamos e começamos ouvir a batida. E ele foi de boa com essa parada. Ele ficou sentado lá por um momento e então disse algo tipo, “Yo, beleza, estou pronto.” E então ele entrou na cabine e começou a dizer as palavras, e todo mundo estava chapado, a chama estava acesa. E a coisa estava se conectando, e todos que estavam na sala ao vivo reagiam tipo, “Uau!”
Nas: Me lembro de Busta Rhymes no estúdio [Chung King Studios], e eu o conheci. Eu acho que ele me conhecia através do Large Professor… E meu irmão me disse que eu deveria deixar os Leaders of the New School e ir sozinho. [Risos]
6. Memory Lane (Sittin’ in da Park)
Engendrada por DJ Premier
7. One Love
Engendrada por Q-Tip
Q-Tip: Quando você ouvia Nas inicialmente, você sabia que ele era sinistro. Quando o ouvi rimando pela primeira vez, eu sabia que ele era sinistro. Todos sabiam. Mas eu disse a Faith, “Seus rapazes têm alguém especial.” Porque ele tem vulnerabilidade em suas rimas. Um monte de niggas que são MC, você não ouve a vulnerabilidade. Ele se mantém confiável, mas com muita profundidade. Ele pode ser gangsta, ele pode ser educado, ele pode ser pensativo. E é isso que faz de Nas um artista atraente para todos.
8. One Time 4 Your Mind
Engendrada por Large Professor
9. Represent
Engendrada por DJ Premier
10. It Ain’t Hard to Tell
Engendrada por Large Professor
Faith Newman: “It Ain’t Hard to Tell” estava na demo original que tinha dele. Depois, havia outra música [“I’m A Villain”], onde ele soou exatamente como G Rap, e foi por isso que Russell não queria assinar com Nas.
Nas: Nós fizemos a versão original no apartamento do Large Professor. E uma vez que houve um acordo no local, conseguimos usar um microfone real e um estúdio real [para gravar novamente]. Depois de mim, SWV fez “Right Here” com o mesmo sample [“Human Nature” de Michael Jackson]. Eu senti como se eu fosse responsável por essa faixa, mas a realidade é que “Human Nature” era uma música tão bonita que as pessoas queriam repetir isso. Quando a música das SWV saiu, eu estava chateado, porque se eu fosse gravar para o rádio, seria perfeito. E quando SWV tomou o brilho, era como, “Ah não!” Claro, era meu primeiro álbum. Então pensei, Espere, como vou conseguir limpar esse sample do Michael Jackson? E então eu pensei, Oh merda, nós somos companheiros de selo! Então nós fizemos isso acontecer.
Fomos à uma loja [na Tower Records em Fourth and Broadway]. E eu nunca tinha ido a uma. Eu esperava assinar talvez 40 autógrafos no máximo. [Antes de sairmos], minha gravadora continuava me dizendo como era o lance lá. Não tinha ideia do que estavam falando. Foi eu e a equipe. Estávamos entusiasmados, felizes, comemorando. E nós fomos à loja, e quando vi a multidão, realmente me deixou sabendo que isso seria formidável. Este não é um álbum que vai ao mundo e eles tocam apenas por um tempo. Quando fomos embora, tinham crianças gritando, chorando e perseguindo o carro. Era como ’N Sync. E este era o meu primeiro álbum. Era uma cena da máfia. Foi quando eu soube. Eu era como, Yo, vai ficar tudo bem. Eu olhei ao redor, e eu só conseguia pensar, Vai ficar tudo bem.
Manancial: XXL Magazine