Numa manhã, durante uma de suas últimas internações, Black Alien mirou o horizonte e finalmente caiu a ficha do tamanho da caminhada e da luta que continuaria tendo pela frente. Após duas décadas de uso contínuo e desenfreado de drogas e álcool – tempo que transitou em dois mundos paralelos: o de status de artista e o das drogas ao lado de pessoas tóxicas – um dos maiores representantes do RAP nacional se sentia abaixo de zero. Black Alien transformou as dores e a persistência em rimas, se uniu ao produtor Papatinho e criou o álbum “Abaixo de Zero: Hello Hell” (Extrapunk/Altafonte) trazendo uma certeza: o campeão voltou.
Àquela época, as mãos de Black não conseguiam parar de tremer antes de uma talagada de álcool. Ele não conseguia fazer nada sem beber e quando bebia, nada conseguia produzir. Não tinha documentos, casa, produtora, banda, músicas, concentração, foco, rumo. As pessoas não o reconheciam mais, fosse por estar vinte quilos abaixo do peso, ou pela falta de produção artística em anos. “O pior mesmo era não me reconhecer no espelho. Eu sabia que tinha que sair daquele inferno, e que quando saísse, enfrentaria a vida normal com a abissal desfunção de mais de vinte anos sem saber o que é isso”, recorda.
A primeira canção foi “Carta para Amy”, composta em abril do ano passado. Ali, Black visualizou o álbum completo. A partir disso foi muito café, conversas e rimas. Mais precisamente dia 9 de outubro, ele começou a canetar o resto do projeto pra valer. O resultado é um disco sobre um novo começo, sem tantas pretensões ou muita filosofia.
O álbum “Abaixo de Zero: Hello Hell”, disponível todas as plataformas digitais.
“Apenas escrevi. As ideias foram surgindo e se conectando naturalmente. O conceito não precisou ser pensado, ele já estava ali. Sonoridade de jazz, estilo musical que mais gosto, e todas as letras com uma forte conexão entre elas. Meus infernos, redenções, próximos infernos. O disco foi escrito enquanto foi gravado. Entreguei o último verso no último dia de gravação”, conta o cantor.
E como é bom ouvir Black Alien seguindo sua trajetória e mostrando que continua tão bom ou até melhor que antes. “Abaixo de Zero: Hello Hell” chega como prova disso.
“Trabalhar com Papatinho é muito bom. Ele é inteligente e gosta muito de música e do que faz. É humilde e ao mesmo tempo impõe tranquilamente sua visão. Se diverte e se interessa por todos os campos do projeto. Gosta inclusive de comentar as letras comigo, o que é raro, prazeroso e gratificante pra mim”, opina Black.