Após um álbum, um EP e um extenso repertório dentro do coletivo de rap Quebrada Queer, a rapper Boombeat inicia de vez sua carreira solo com o mais novo single, “Borboleta”, lançado nessa sexta-feira (23) nas plataformas digitais. Explorando as particularidades de sua própria trajetória como travesti e, também, das condições enfrentadas por travestis no Brasil, a faixa representa uma metamorfose musical, nascendo do casulo com grande poder e autoestima.
“Queria me mostrar de maneira diferente, mostrar ao público realmente quem é a Boombeat”, conta a rapper sobre o processo de composição de “Borboleta”: “Essa música vem com esse intuito de falar que nós, pessoas trans, não vamos nos esconder, vamos aparecer cada vez mais. Todo desprezo da sociedade, eu transformo em poesia”.
Conhecida pelo seu speed-flow, rimas afrontosas e por nunca desviar os olhos da realidade, Boombeat traz tudo isso e mescla com uma produção estelar em “Borboleta”. Usando seu arsenal clássico do rap tradicional e do pop na nova faixa, a artista também inclui influências do trap, criando um som que é somente dela.
“As inspirações do som partiram completamente da Boombeat, ela sabia muito bem o que ela queria e como queria passar sua mensagem, meu papel foi realçar a potência dela”, afirma Gabriel Henriques, produtor de “Borboleta”, acrescentando: “Me sinto honrado e muito feliz de estar fazendo parte desse momento tão especial pra ela, seu primeiro som solo depois do Quebrada, sei que tem muito significado”.
Composta com o clipe em mente, “Borboleta” é altamente conectada ao visual dessa nova era, destacando a importância da autoestima como pessoa trans e de “nunca abaixar a cabeça”: “Essa música traz o entendimento do meu corpo enquanto travesti no Brasil. São reflexões que faço referente a vivências que venho tendo e a resposta que quero dar em frente ao que tenho vivido”.
“Borboleta” também é o primeiro lançamento de Boombeat nessa nova etapa de sua carreira solo: no final do mês passado, o Quebrada Queer, o primeiro coletivo de rap completamente LGBTQ+, anunciou seu final e comemorou sua carreira com dois shows no Sesc Paulista. Esse momento para Boombeat é um de independência e autoconhecimento: “estou me sentindo mais preparada do que nunca, essa é a minha melhor fase”.
“O Quebrada Queer foi necessário na minha vida, justamente, para aprender muita coisa e chegar hoje com mais maturidade e certeza nas coisas que quero falar, principalmente sendo travesti, sendo meu eu completa”, relata Boombeat sobre essa nova fase e sua nova carreira solo.
Outra coisa que torna esse lançamento ainda mais especial foi o trabalho feito em parceria com o BTFLY coletivo, empresa fundada pelo diretor Ricardo Souza, a primeira finalizadora de um homem preto no mercado de audiovisual, e com a Produtora de Janaina Torres Mesquita, da Ayrá Produções.
O diretor trabalhou incansavelmente ao lado de Boombeat para criar e desenvolver um clipe que mostrasse a força da artista, mas também permitisse vislumbrar sua vulnerabilidade. “Este projeto veio para coroar os 4 anos de resistência da BTFLY”, diz Ricardo, que atende clientes de entretenimento e cultura, como clipes da Anitta e fashion films, à publicidade, como Sadia e Nubank entre outros.
“Gravar com o Ricardo foi incrível, ele me respeitou muito durante o processo do clipe, escutou todas as minhas ideias, eu escutei as dele e aprendi muito com ele”, afirma a rapper, acrescentando: “Ver tantas pessoas acreditando no meu trabalho, fazendo ele crescer, isso para mim foi muito marcante, ver esse todo, me deu muita força”.
“Conheci Boombeat quando criava o manifesto da BTFLY, ali percebemos nossa afinidade de propósitos e com isso surgiu a ideia de levar a luta de resistência para o novo clipe da Boombeat. O clipe não tem só uma proposta artística, é um manifesto que enaltece a força de todos os excluídos pela sociedade. Para mim como diretor foi incrível estabelecer uma parceria criativa tão rica com uma artista com essa força interna”, conta Ricardo sobre a conexão com Boombeat.
Com cenas muito diversas, como exemplos temos a coreografia sensível criada pela dançarina Fernanda Gonçalves e as cenas com o marido de Boombeat, Amilton Marinho, o clipe traz elementos da sexualização, violência e resistência presentes na vida de muitas travestis – solidificando “Borboleta” como um mantra poderoso, trazendo o lema de precisar sempre seguir com a cabeça erguida e jamais se esconder.
“Fiquem com ‘Borboleta’, uma música de muita autoestima travesti, que vem para me fortalecer e fortalecer outras pessoas – espero que seja esse o resultado, porque comigo já vem acontecendo”, finaliza Boombeat, com um poderoso anseio.