Hermetismo é o estudo e prática da filosofia oculta e da magia associados a escritos atribuídos a Hermes Trismegisto (“Hermes Três-Vezes-Grande”), uma deidade sincrética que combina aspectos do deus grego Hermes e do deus egípcio Thoth. Os textos de Hermes mais conhecidos são “Corpus Hermeticum”, traduzido em 1463 pelo filósofo italiano Marsilio Ficino, e “Tábua de Esmeralda”, que influenciou um dos mais influentes discos da música brasileira, de Jorge Ben. Ainda que tenha um tom religioso, o foco dos escritos é na busca de conhecimento.
Esse é o ponto de partida para a primeira da série de três lançamentos que une o rapper Diomedes Chinaski e o poeta Cassiano Cacique, ambos pernambucanos, o projeto “Cassiano e Chinaski 3 X 3”, que nesta primeira edição foi intitulado “Magia” é formado também por três canções: “Minha Saudade”, “Flashback” e “Vai te catar∕reza”. O número três não é um acaso, além de ser um importante número para o hermetismo é um número espiritual e representa a unidade divina.
“Se poderíamos apresentar uma grande música como um single, por que não apresentar 3 grandes músicas de uma vez? Criar três grandes atmosferas? E fazer isso por 3 vezes. Além de toda essa carga que damos ao projeto, soma-se também o fato de querermos mostrar aos fãs que não se trata de uma música solta, avulsa, sem história. Queremos deixar claro numa sequência que se trata de uma nova fase, uma nova forma de fazer e viver a nossa música”, conta Cassiano Cacique.
E esta é realmente uma nova fase na carreira dos dois artistas que resolveram se unir quando ainda moravam juntos em São Paulo. Chinaski está de volta a Pernambuco, enquanto Cacique continua na Paulicéia. Cassiano está em São Paulo desde a década de 90 e começou sua trajetória em 1997 tocando baixo em grupos de samba da capital. Agora se apresenta como artista independente em carreira solo. Já Diomedes busca mostrar uma nova vertente de seu trabalho ultrapassando o rap.
Por isso, as referências deste projeto passam pelo jazz, R&B, MPB e os já citados rap e samba. E nas palavras de Cacique “liga Tom Jobim a Baiana System ou Duda Beat, ou Elis Regina a The Roots, Russo Passapusso a João Gilberto”.
“Esse trabalho surgiu lá em 2018, quando eu e Diomedes ouvíamos o disco do Tom Jobim com o Stan Getz. Ali a gente pensou em fazer algo que fosse maior do que estávamos fazendo como música. Foi exatamente esse o sentimento, de se juntar como Tom e Stan pra criar uma obra que transcende cada um deles. A partir dessa referência, buscamos ideias mais atuais pra criar esse ar mais contemporâneo. Todas as músicas são baseadas em violão, justamente por essa referência do samba, da bossa”, explica Cacique.
A união para exaltar o trabalho de cada um dos artistas também tem tudo a ver com os ideais de Hermes Trismegisto que dizia que não há como compreender Deus sem viver as sensações dele, sem se aproximar dele. Por tanto, Hermes sugere que vivamos em nossa máxima potência em busca do conhecimento, inclusive divino. Incorporando o hermetismo, o projeto “Cassiano e Chinaski 3 X 3” procura explorar todas as sensações em seu máximo, sem pudor, nem medo.
“Para além das questões mais urgentes que permeiam a sociedade atual, as compreensões de nossas individualidades e sobretudo, do impacto social que nossas relações causam e constroem, nos leva a acreditar que sim, precisamos falar dos nossos sentimentos mais densos e também dos mais leves. É preciso resgatar toda a nossa autoestima e vontade de acreditar na vida, nas pessoas e no que nós compomos enquanto sociedade. Nesse caso estamos colocando Deus em nosso trabalho, em nossa história e na forma como concebemos este trabalho. Acreditamos que se chegarmos em nosso máximo como artistas, como pessoas, como seres humanos, vamos conseguir transformar alguma coisa, alguns mundos”, revela Cacique.
Chinaski exemplifica tudo isso muito bem, quando fala sobre como o projeto nasceu nos idos de 2018.
“Quando eu Cassiano moramos juntos, foi uma época que a gente mergulhou na música universal e brasileira. Nossa mente se abriu muito com experiências musicais que tivemos. Conhecemos muita gente foda, percebemos muita coisa. Fomos de Kanye West a João Gilberto, de bregafunk a Luiz Gonzaga. E sem querer ser presunçoso, mas sendo realmente sincero, quando paramos pra fazer esse projeto, a nossa ambição era escrever nossos nomes no livro da história da música brasileira. Essas músicas aos quadros pintados com muita delicadeza. Esses sons são grandiosos… A primeira regra nesse álbum era fazer algo extraordinário… em verso populares e simples, porém reluzentes como joias”, confessa.