Parafraseando Mano Brown, cada favelado é um universo em crise. E em nossos universos, a fome fala!
Como seres humanos que pensam, sentem, andam, têm suas necessidades físicas e espirituais e muitas outras coisas, a fome que nos bate não precisa ser literal — ela pode se manifestar de diversas formas, por diversas vias, né não?! Podemos sentir fome de afeto, de presença, de liberdade ou, simplesmente, de um bom rango (como manda nossa fisiologia).
Pensando nos corpos, nas múltiplas vivências e potencialidades que a quebrada tem, nasce o primeiro projeto oficial do Rango de Classe: Fome Fala. Esse trabalho é uma série que tem como intuito explorar nosso campo imaginário através de uma ficção em audiodrama, onde é permitido tudo, inclusive nada. Sabe a realidade, aquela que é dura todo dia e não permite descanso ou leveza pra nois? Fome Fala te desliga disso, sem tornar superficial essa viagem e reflexão que vem a partir do estô(â)mago.
> Episódio 1: Sobrevivendo no Inferno
Dois parsas, separados pela vida, buscam uma forma não convencional de voltar a se encontrar fisicamente. Em um universo paralelo de sonho lúcido e memórias que refletem questões cruciais pra existência da nossa existência, os dois viajam a partir do estômago e nos guiam em um lugar sem tempo pra vigilância ou violência, porque tudo é voltado pra sonhos e fantasia.
O coletivo é integrado por 6 pessoas e todos periféricos, autônomos, pretos e indígenas.
> D’Ogum: cria de São Bernardo do Campo, ABC Paulista, é rapper, compositor, roteirista e diretor. Com seu disco “Do Banzo ao Orun” lançado em 2018, tem seu trabalho solo muito bem firmado nas pistas e também integra um grupo de rap, o Projeto Preto.
> Nayê Ribeiro: nascido na Baixada Santista e cria de Osasco, zona oeste de São Paulo, é rapper, cantor, redator e social media. Tem um corre musical solo com o nome artístico Anarka e também integra um grupo de rap, o Projeto Preto.
> Francineide Bandeira: nascida em Osasco e criada no Capão Redondo, zona sul de São Paulo, é modelo, atriz, produtora executiva, cultural e tradutora de inglês. Também faz parte do coletivo Basquete e Autonomia, que realiza atividades e processos educativos com o objetivo de aumentar a expectativa de vida e bem estar das pessoas que moram em favelas e periferias.
> Jonas Rosa: cria do extremo Sul de São Paulo, é rapper, ator e estudante de pedagogia. Também faz parte do coletivo Encrespad@s, que aborda temáticas.
> Ronaldo Dimer: da zona oeste de São Paulo, é roteirista , diretor e fotógrafo. Artista integrante dos coletivos ZICAA e TV TAMUIA, onde desenvolve projetos que buscam o fortalecimento da arte, da reflexão e da autonomia dos coletivos na quebrada.
> Lincoln Péricles: nascido e criado no Capão Redondo, zona sul de São Paulo, é diretor, roteirista, montador e educador. É membro do coletivo de produção ZICAA, além de estar a frente da impulsionadora Astúcia Filmes e do Ayni Studios, estúdio de finalização de áudio pra cineastas de quebrada. Também atua como professor de basquete e orientador físico no projeto social Basquete e Autonomia, que realiza atividades e processos educativos com o objetivo de aumentar a expectativa de vida e bem estar das pessoas que moram em favelas e periferias.
O QUE E QUEM É O RANGO DE CLASSE:
É um coletivo que nasce da nossa reflexão política e pessoal sobre as práticas diárias automáticas de alimentação que temos enquanto população periférica e classe trabalhadora racializada. Você já parou pra observar como as pessoas brancas ricas têm acesso a uma vida saudável ou dietas e tempo pra comer bem, cuidar do corpo e da mente? Nois já, parsas! E é a partir disso, junto de nossas experiências, que decidimos trazer essa discussão pras nossas comunidades. Acreditamos ser essencial discutir e repensar a forma em como o tempo nos consome dentro do sistema capitalista que vivemos, onde o povo pobre e não-branco produz coisas que não retornam pra eles — porque é sempre uma exploração que nos faz perder muita coisa, inclusive a qualidade de vida como um todo.
O intuito do Rango de Classe, como coletivo, é fomentar a ideia de autonomia individual e coletiva através da arte audiovisual e, até mesmo como um processo de aprendizado pra nois, trocar informações de quebrada pra quebrada.