Em plena era digital há quem pense que a capa de um álbum – que hoje em dia raramente é física – seja algo que não demande tanta dedicação quanto produzir as músicas. Muito pelo contrário. O trabalho reflete em imagens todo sentimento do artista e a mensagem que ele quer levar para o público.
Envolve estudo, concepção, muitas conversas e, claro, sintonia entre fotógrafo e artista. O coletivo I Hate Flash está no meio musical há mais de dez anos, produzindo conteúdo audiovisual de grandes festivais de música do país, como Rock in Rio e Lollapalooza. Inevitavelmente, eles acabaram criando relações próximas com alguns cantores e músicos, o que levou para parcerias de sucesso clicando capas de álbuns e fotos de divulgação.
“Sempre cantei e toquei instrumentos, então fotografar música é a junção das minhas maiores paixões. Sempre que tenho a oportunidade de me envolver em algum projeto de cantor que admiro, aproveito”, conta Julia Assis. A fotógrafa foi responsável pela capa do álbum “Órbita”, de Mariana Volker. “O cabelo ruivo da Mari é, sem dúvida, uma das grandes marcas registradas dela, então o conceito foi fazer dele um universo, uma constelação inteira. Trazer o público para o planeta Volker”, explica Assis sobre o projeto. Foram necessários, além do cabelo natural da cantora, muitos apliques para criar esse universo único.
Quem também entende de cliques para capas de álbuns é a Lais Aranha, que já fotografou muita gente bacana que faz som independente, como Labaq, Marina Melo Melo e Blubell. A fotógrafa conta que é necessário entender a fundo o conceito central da música ou álbum e partir daí partir para os conceitos visuais. “Para Marina Melo Melo, fiz a capa do EP ‘O Mundo Acabou, mas Continua Girando’, em um esquema todo virtual por conta da pandemia. Ela foi feita com prints tiramos no Zoom”.
Em 2013, quando ainda nem se cogitava uma pandemia, Aranha fez a capa do álbum “Diva é a mãe”, em que Blubell passeava pelo Minhocão, em São Paulo, em um belo vestido de gala, para ironizar a ideia de que toda cantora é diva.
Já para Victor Takayama, a luz natural foi a grande aliada para fotografar o EP “Carne dos Deuses”, de Ubunto e Barro. “A ideia era registrar o encontro dos dois de forma descontraída no quintal, embaixo de uma amoreira carregada, no fim de uma tarde de outubro”. E quando não dá para contar com a luz do sol, um contra-luz bem planejado pode compor lindas fotos, como as do álbum de estreia da Mahmundi, feitas por Eduardo Magalhães. “A ideia era mostrar a Marcela pro mundo sem que fosse tão óbvio. Daí esse contra-luz que quase parece uma silhueta, mas tem os tons de pele ainda no primeiro plano com a luz do sol ou do luar (fakes, claro haha).”
Dentro do set, a fotógrafa Anne Karr abusou das cores nas fotos de divulgação do show – que acabou sendo adiado por causa da pandemia – da cantora Lucy Alves. “Através do mood das cores pude acessar um pouquinho da nordestinidade da Lucy, que automaticamente me animou a criar algo que fala comigo através da origem do meu pai, e isso me deu um carinho a mais nessas imagens”. Para atingir os efeitos desejados, a fotógrafa usou gelatinas na frente da lente. “O desafio também habitava em criar algo esteticamente bonito sem objetos de cena, uma vez que estávamos num estúdio de fundo branco e nada mais”.
Para conhecer mais do trabalho do coletivo acesse www.ihateflash.net.