Bface é um artista curitibano que dispensa comentários, todos trabalhos vão contra toda essa onda do trap e da moda e ele consegue manter a essência de uma forma genuína a cada track lançada.
Dono de um dos maiores selos de Curitiba, Suíte Music, Bface é responsável por dar voz a muitos MC’s que correm atrás do seus sonhos, já passaram por lá Jaya, Gody, Inaki, entre outros rimadores classe A que Curitiba tem.
Em “Práxis” que tem produção do Dário, o MC rima “E eu, vou conquistar o que preciso sem nenhum deslise, Eu nasci preto, não tem modo easy” — e no refrão deixa claro que mesmo na crise, ele vive sem crise.
A carreira do Bface é composta com maestria durante 10 anos, mesmo com somente um disco na pista, “Gradientes” é um prato cheio pra quem gosta de boa música e quer fugir da mesmice de sempre. Destaque para a faixa “O Infame” e “Rec ON” que ambas tem um clipe maravilhoso.
Gênio nos beats (confira Bface nos beats), nas rimas e também nas artes, Bface é dono das capas mais bonitas do rap nacional. Desde seu CD, até o CD da 0800 Crew “Nome Sujo” e recentemente “Capitalista Pobre” de Cadelis, o artista foi responsável por criar e ilustrar cada detalhe que Cadelis quis passar no disco e fez com que cada capa que colocou seus dons seja única e tenha sido falada positivamente no Brasil inteiro.
Em 2020 Bface disponibiliza um single duplo intitulado “Mercúrio”, Bface abre mão dos característicos samples de vinil e parte de melodias vocais para a construção do beat. Explorando novos territórios em sua produção musical, aborda seus conflitos internos e os aspectos sociais dessas angústias.
“No universo lúdico do rap, uns são do crime, outros são milionários, outros são personagens de anime, eu sou um rapper acompanhado de um trio (Teclados, Baixo e Bateria) lançando um disco compacto raro, o que é tão possível quanto os exemplos anteriores.”
Na faixa “Mercúrio” Bface explora seu papel na sociedade, trazendo à tona conflitos internos e suas observações sobre o que há de contraditório ao seu redor. Inspirado no arquétipo de Mercúrio na astrologia e alquimia, fala sobre o preço que paga, como um artista que não corresponde às expectativas e padrões, por ser aquele que transita entre opostos ousando carregar uma mensagem que resiste às dicotomias.
Mercúrio (ou Hermes) é uma divindade ambivalente associada à comunicação, às encruzilhadas, aos processos mentais e ao conhecimento. Esse simbolismo está presente nas entrelinhas da música e é mais desenvolvido no videoclipe que sairá em breve.
O lado B é a faixa “Vilanias”, e aqui as contradições sentidas pelo artista agora são apontadas em seu caráter coletivo e social, retratando as relações conflituosas entre os indivíduos e perante as estruturas opressivas que levam à vilania como estratégia de sobrevivência. Bface usa de uma linguagem sucinta e direta, porém que não anula a profundidade dos significados que carrega.
Esse lançamento abre caminho para o EP “Egoritmos”, que vem em setembro e já deixa a marca do experimentalismo de Bface, que traz uma bagagem de contribuições para o rap independente como MC e como produtor desde 2010.