“COLEUS”, o aguardado álbum de D$ Luqi, chega às plataformas digitais nesta sexta-feira (14/03). O projeto, que gerou expectativa com o single “koi no yokan freestyle” (180 mil streams), confirma o rapper como voz central de uma geração que transforma dor em arte. Nove faixas cruas, produzidas por Raiashi, Jango, Vidari e outros, exploram temas como rancor, saudade e a luta por pertencimento — tudo envolto em batidas que oscilam entre o trap sombrio e o glitch hop dançante.
Em entrevista exclusiva, Luqi define o álbum como “um diário aberto”: “COLEUS é pra quem guarda mágoa no peito, mas insiste em dançar. Não é sobre ser forte, é sobre não ter escolha”.
AS HISTÓRIAS POR TRÁS DAS FAIXAS
O título COLEUS — referência à planta “coração magoado” — sintetiza a dualidade do projeto. Na faixa de abertura, “os humilhados serão exaltados”, Luqi mistura espiritualidade e revolta, citando versos como “Nunca esqueci de quem tacou pedra quando eu tava por baixo / Quem me protege não dormiu, ele tá palmeado”, uma ode à resistência negra e à justiça ancestral.
Já “eu não aguento mais” é um retrato cru de um relacionamento em colapso: “Você sempre vai tá certa, nunca tem conversa / Cê queria ganhar então venceu”, enquanto o refrão repete, exausto, “Eu não aguento mais, eu só quero paz”. A produção de Pedrosa combina melodias melancólicas com um groove que convida à dança — paradoxo típico do álbum.
Em “adrenocromo”, Luqi usa teorias da conspiração para falar de vícios emocionais: “Ela suga adrenalina, sempre dilata a pupila / Como acompanho essa mina? Eu não sei como”. A faixa, produzida por Raiashi, tem batidas industriais que refletem o caos de uma relação tóxica, culminando no verso “Com você me sinto em braços de Morfeu” — referência ao deus grego dos sonhos.
OS MOMENTOS QUE DEFINEM O ÁLBUM
“corvos guardam rancor”: Considerada por Luqi “a alma do disco”, a faixa produzida por Jango é um hino de resistência. “Corvos não esquecem seu rosto e guardam rancor / Quem me bateu já esqueceu mas eu não vou esquecer”, declara, transformando humilhação em combustível: “Eu te agradeço pelo cuspe que cê deu na minha cara / Me deu motivo pra lutar, agora o pretinho não para”.
“lucas tinha um sonho”: O interlúdio mais impactante do álbum narra a história de um jovem invisibilizado (“Lucas não era visto nem pelos seus próprios pais”) e ecoa estatísticas alarmantes sobre saúde mental na periferia. A faixa termina com o trágico “Lucas encontrou a tal famigerada paz”, acompanhada por um piano minimalista que amplifica a dor.
“sublime nostalgia”: O fecho do álbum lamenta a perda de conexões reais em versos como “Mensagens antigas no meu telephone / Criptografias de um tempo bom”, enquanto sintetizadores etéreos criam um clima de saudade digitalizada.
POR QUE COLEUS RESSOA
Nascido em Duque de Caxias, Luqi constrói o álbum como um mosaico de suas raízes. Em “koi no yokan freestyle”, homenageia o Deftones (sua banda favorita) e as madrugadas de introspecção: “Passava noites ouvindo ‘Swerve City’ e pensando em tudo que eu não conseguia expressar”. Já “segue o baile” mistura ironia e batidas aceleradas para retratar um amor falido: “Me envolver contigo é kaô / Sempre fico magoado”, cantarola, enquanto o refrão “segue o baile” soa como um mantra de libertação.
O álbum também aborda a dependência digital (“Minha felicidade, uma notificação”, em “sublime nostalgia”) e a incompatibilidade amorosa (“Pra que tanta briga? Isso não tem a ver”, em “certas coisas eu nunca vou entender”), temas que ressoam com a geração Z.
“Se alguém ouvir ‘lucas tinha um sonho’ e se sentir menos sozinho, ou ouvir ‘corvos’ e entender que rancor pode virar força, meu trabalho tá feito. COLEUS é um abraço pra quem nunca foi abraçado.”
“Escrevi cada faixa como se fosse a última. Não tem metáfora bonita aqui — é sangue, suor e lágrima mesmo. Até as batidas foram escolhidas pra cortar, não pra agradar.”