Com músicas que vão além da cartilha do rap que muitos tentam impor, as minas do projeto Arrete preparam o lançamento do disco “Sempre Com a Frota” e divulgam seu mais recente single, a faixa “Num Me Encabule”. O ZonaSuburbana trocou uma ideia com Ya Juste e Nina Rodrigues, cantoras que, ao lado de Weedja Lins, formam o grupo pernambucano.
Confira:
ZS: Este single é uma mistura de cultura urbana, hip hop e sons regionais. Falem um pouco sobre “Num me encabule”.
Ya Juste: Isso, o instrumental foi feito pelos músicos Felipe Maia e Riva Le Boss, com participação de Pedro Gaveta. Eles fizeram toda essa concepção regional.
Quando criamos esta composição, queríamos mesmo colocar a mulher em destaque com essa brincadeira de linguagem regional . Eles pegaram a essência e fizeram essa junção, trazendo elementos e instrumentos da da terra para dar a cara pernambucana em uma das faixas do disco.
ZS: Vocês podem falar um pouco desta mulher que cada uma retrata neste single?
Ya Juste: Quando iniciei essa composição, pensei muito nas companheiras de trabalho que têm essa essência . Mostrei essa composição para Nina Rodrigues, que colaborou na letra . Ela fala muito de nossas experiências. Aborda a força da mulher nordestina, com nossa linguagem específica.
Ouça, o single “Num Me Encabule”:
ZS: Vocês criam e somam uma poesia que vem de fora do rap. Quais são suas influências?
Ya Juste e Nina Rodrigues: Bom, o grupo lê muita poesia popular nordestina, já que é algo que gostamos muito. A cultura e costumes de cada componente do grupo colabora para a viagem empreendida em cada música. Juntamos componentes que vêm do nosso histórico familiar até a cultura adquirida na rua.
Há em nosso grupo pessoas que enveredam por leituras de clássicos modernos, curtem épicos, outras partes para leitura de poesias regionais, acompanham as viradas e mudanças nos ritmos da atualidade, e isso vai se juntando às nossas experiências com o rap e faz com que construamos realmente algo diferente e igual.
Não há alguém mais ou menos influente em nosso grupo. Todas se juntam e dão sua colaboração na composição ou na letra das músicas. Não temos só uma letrista ou uma compositora, daí as letras não se tornarem repetitivas ou lugar comum nossas composições. Nossas composições não são baseadas apenas no rap.
Influência bastante marcante, que se revela em nosso trabalho, é a do linguajar nordestino, que buscamos no dia a dia e na leitura de livros que vão de Guimarães Rosa, Ariano Suassuna, Ivanildo Vila Nova, Patativa do Assaré, Manuel Buarque, Maggo MC, Zé Brown. Recebemos uma influência de nossos pais que nos mostraram a arte e nos deram o gosto pela leitura. O teatro também influencia nas nossas criações.
ZS: Vocês já estão na fase final de produção do CD. Numa cena que é comum a compra e venda de beats para fazer rap, vocês escolheram trabalhar com pessoas que estão fora do hip hop. Como surgiu essa ideia?
Ya Juste: Este CD traz a musicalidade e experiências nossas e de alguns músicos locais para caracterizar expressivamente cada composição criada. Nosso diferencial foi nos permitir ao “novo” para execução do nosso trabalho.
Foi importante deixar que o diferente do que estamos acostumadas a trabalhar nos tomassem. É como um laboratório, sempre experiências novas até sentir que aquilo faz nossa mente. O compartilhamento das integrantes em nosso trabalho, em todos os sentidos, é sempre importante para que todas possamos ter e ser o projeto elaborado.
Os envolvidos na técnica, no instrumental e sua produção foi de suma importância pela quantidade de conhecimento que nos trouxeram. Isso facilitou nosso diálogo com eles, na troca do que queríamos e na tradução do que eles fizeram.
ZS: Ouvindo as produções do disco, qual a expectativa do grupo em relação ao público?
Arrete: Em todas as realizações se coloca expectativa, mas estamos nos sentindo satisfeitas e realizadas por conseguir concretizar o sonho de gravar um CD e como expectativa superou a nossa. Qualquer que seja. Esperamos lançar nosso CD em abril.