Em uma época que os DJs estão tomando conta das paradas musicais, muito além das mixagens, nada mais justo do que falar sobre os desafios e o caminho trilhado por grande parte deles. Comemorado em 9 de março, o Dia Mundial do DJ foi criado em 2002 pela World DJ Fund Foundation e a organização da Nordoff Robbins Music Therapy, que usa a música para tratar crianças e adultos. A proposta é que, neste dia, todo o lucro dos DJs e estações de rádio sejam destinados para ajudar pessoas em situações vulneráveis.
Com o passar do tempo, a data acabou sendo esquecida por muitos. Porém, com o surgimento de novos nomes no cenário, as discussões em volta da profissão se tornaram cada vez mais recorrentes, seja quanto ao prestígio dos artistas ou as melhorias em qualidade de som e aparelhagens. Os DJs Cabelão do Turano, Isaac 22, Julia Bacellar e Rennan da Penha falam sobre suas trajetórias individuais.
Para Isaac, a imagem é muito mais visada socialmente nos dias atuais do que há alguns anos, quando os nomes internacionais eram famosos, porém visivelmente desconhecidos.
“Isso só aconteceu por conta dos caminhos que foram abertos por profissionais que vieram antes de nós. Em todo nicho é assim. Só conseguimos conquistar espaços maiores se a base apoia e dá oportunidades para os novos também mostrarem o que sabem fazer”, explicou.
Nomes como DJ Marlboro e as equipes de som como a Furacão 2000, sem dúvidas, foram uma inspiração para os nomes atuais no segmento. E, claro, não faltam inspirações, como pontuou Cabelão do Turano: “A maioria (dos DJs) traz a locução em suas apresentações, mas houve uma certa mudança de identidade”.
E falando em transformações, o aumento da presença feminina nas pick-ups, sem dúvidas, tem sido bastante notória. Julia Bacellar é um dos nomes que vem ganhando destaque. E ela atribui a representatividade também às redes sociais, que viraram o chamariz das artistas.
“Quando eu comecei como DJ, de fato, só conhecia duas na época. E eu mesma levantava essa bola que esse também é um espaço nosso. Botamos dançarinos, efeitos, fazemos coreografias cantando. Estamos subindo o nível dos DJs em geral, não só separando os homens das mulheres, mas eles estão tendo que correr um pouco atrás”.
Ela conta, ainda, que recebe diariamente, agradecimentos e mensagens de outras meninas que, assim como ela, correm atrás do sonho em ser uma DJ consolidada.
“Não tinha alguém pra elas se inspirarem, não tinha ninguém pra falar: “Olha o que ela está fazendo!”. Não tinha. Então me considero parte disso também. Eu chutei a bola para elas. Não só eu, como as das antigas”, contou.
Rennan da Penha, que foi um dos pioneiros do 150 BPM e da volta da popularização dos bailes na atualidade, porém, explica que ainda há um longo caminho para acabar, de vez, com os preconceitos em torno da profissão e que é algo enraizado.
“É tudo uma questão de crescimento. Assim como o samba era no passado, o funk é um estilo musical muito marginalizado pela elite. Isso já aconteceu no exterior, com reggaeton e hip-hop, ritmos oriundos da periferia. Atualmente, o funk ganhou muito espaço, mas esta ainda longe de está livre do preconceito da sociedade. Toda vez que conseguimos um espaço em programa de TV ou em palcos de grandes festivais, quebramos uma barreira. Preconceito são barreiras que precisam ser quebradas. Não tem muito o que fazer nesse sentido. É um trabalho árduo, cansativo, que machuca bastante, mas se não formos com tudo… ficamos na inércia, parados no tempo e na sociedade”, finalizou.