Diego Kairo, artista natural da zona norte de São Paulo, transcendeu as barreiras da música e do tempo ao transformar suas experiências mais íntimas em obras que dialogam com questões universais. Sua trajetória, iniciada em 2013 nas rodas de rima escolares, consolidou-se em uma década de produção musical marcada pela autenticidade e pela capacidade de transitar entre o pessoal e o coletivo. Agora, em 2024, Diego vê duas de suas canções – “Mãe” e “Antes de Morrer” – ganharem um novo significado ao integrarem a trilha sonora da série Sutura, da Amazon Prime Video.
Em Sutura, um drama médico-criminal repleto de tensões éticas e emocionais, as composições de Kairo funcionam como uma extensão da complexidade do protagonista Ícaro Dias.
Escrita em um momento de intensa vulnerabilidade, “Mãe” emerge como uma das músicas mais confessionais de Diego Kairo. Criada durante a pandemia, enquanto o artista enfrentava a COVID-19, a depressão e dificuldades financeiras, a faixa se estrutura como um desabafo.
A inclusão dessa música em Sutura reverbera a jornada emocional de Ícaro, um jovem talentoso que, mesmo em meio a adversidades extremas, busca forças em suas raízes e valores. Assim como Diego transformou sua dor em arte, Ícaro utiliza a medicina como meio de resistência e transformação. “Mãe”, ao compor a trilha sonora da série, transcende seu caráter autobiográfico para tornar-se uma metáfora universal sobre resiliência e identidade.
Em contraste, “Antes de Morrer” traduz a fome de vida e a determinação que impulsionam tanto o artista quanto o personagem da série. Criada em parceria com o produtor 808Luke, a música é um manifesto sobre não desistir, mesmo quando as circunstâncias parecem intransponíveis. Diego lista na faixa tudo o que deseja viver e conquistar.
Para Ícaro, essa mensagem ressoa em sua busca por se tornar um grande cirurgião, mesmo enfrentando os limites impostos por sua realidade social. A música encapsula o espírito combativo do personagem, que resiste às adversidades do sistema ao mesmo tempo que enfrenta dilemas morais ao ingressar em um universo clandestino.
A relação entre as canções de Diego Kairo e Sutura é profunda e simbólica. A série explora dicotomias entre mundos – a medicina tradicional e a clínica clandestina, o luxo e a periferia, a ética e a sobrevivência –, refletindo questões estruturais da sociedade brasileira. Ícaro e Roberta Mancini, os protagonistas, são personagens que carregam feridas pessoais e encontram na medicina, mesmo sob condições extremas, um caminho para a reconstrução.
Da mesma forma, Diego Kairo utiliza a música como um espaço para reestruturar narrativas de dor e superação. Natural de um dos epicentros culturais de São Paulo, sua produção musical não apenas reflete sua vivência, mas dialoga com um Brasil multifacetado e repleto de contradições. As colaborações que marcaram sua carreira, como no projeto Our Beats e suas parcerias com produtores renomados, reafirmam sua capacidade de reinventar linguagens e se conectar com diferentes públicos. O artista lançou recentemente o EP “ODÚ”, o projeto é uma obra profundamente conectada à espiritualidade, que une a modernidade do UK Drill com as raízes afro-brasileiras. Inspirado pela tradição Yorùbá e pelas vivências na Umbanda, “Odú” – que significa “caminho” ou “rota” – explora as transformações pessoais e espirituais pelas quais o artista passou nos últimos anos, refletindo seu amadurecimento e a busca por um propósito maior.