Em 1999 o histórico grupo Face da Morte, direto do interior de São Paulo, em Hortolândia, lançou seu terceiro álbum, o clássico “O Crime do Raciocínio”. Com produção assinada pelo próprio grupo, formado por Aliado G, Mano Ed e DJ Viola, o disco sucedeu outro peso pesado, o disco “Quadrilha de Morte”, com esse projeto o Face da Morte se firmava como um dos grandes nomes do hip hop nacional.
O ZonaSuburbana trocou uma ideia com o Face da Morte, e Mano Ed explanou sobre esse álbum e o que representou na carreira do grupo: “Esse trabalho, “O Crime do Raciocínio” foi o terceiro álbum do grupo, e veio para nós num momento muito importante como fase de transição, pois os dois discos anteriores, “Meu Respeito Não Enrolo Numa Ceda” e o “Quadrilha de Morte” foram discos que continham uma essência de parecida, no entanto com uma linguagem diferente e com contexto diferente naquele cenário de 1995 a 97/98. Nós ouvíamos muito N.W.A., tinha muitas inspirações ali no canto do rap americano, só que com com a realidade brasileira né? a gente meio que mergulhava naquela sonoridade americana, mas trazida pra dentro do rap brasileiro. E nessa época começamos a conviver com pessoas diferentes, foi aonde a gente conheceu o pessoal da UJS, da União Nacional dos Estudantes, começamos a buscar um pouco mais da história brasileira e a viver um pouco mais disso, tanto que várias vezes fomos a Unicamp, no campus de história e filosofia, e liamos livros para se informar, pesquisando cada vez mais pra fazermos uma parada diferente. A própria convivência com o GOG, que vinha com um conteúdo mais politizado, e ele alavancou o grupo a um nível diferente, jogou o Face da Morte numa projeção nacional, os discos anteriores tinham ficado restritos no estado de São Paulo, até porque a internet não era acessível como é hoje. Talvez o disco mais importante da carreira do grupo, porque ele veio consolidar os anteriores e as pessoas começaram a conhecer o Face da Morte através do “O Crime do Raciocínio”, e buscaram a discografia anterior e assim o grupo foi criando todo essa musculatura sonora.”
Um dos grandes peso foi a faixa “Televisão”, que contou com participação do rapper GOG, em letra que detona todo o lixo midiático que nos é imposto, inclusive a capa do disco é inspirada nessas duas faixas.
Mano Ed lembra: “Foi no período em que o país tinha aquela guerra na televisão, que era muito forte entre o SBT e a Globo, aquela treta de Gugu e Faustão foi que nos deu a oportunidade de fazer essa música da televisão”, o rapper ainda lembra da repercurssão desse som: “A música “Televisão” foi a que deu projeção nacional para o grupo, fora do estado de São Paulo foi a música que gerou oportunidades de shows, como no Ceará, Pernambuco, Goiânia, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Brasilia, enfim a gente rodou país por causa da música “Televisão””.
“O Crime do Raciocínio” ainda teve as músicas “Mancada 2000” e “Tático Cinza”, ambas muito executas no lendário programa Espaço Rap, da rádio 105FM, essa última música com participação do grupo Realidade Cruel. Vale a pena citar também a verve poética de Aliado G, que em cima de uma base de blues declama “Ritmo e Poesia”, uma faixa em que o rapper explana de vários assuntos sem se tornar aleatório ou querer dar sermão.
O grande sucesso foi a música “Bomba H”, num trocadilho com a letra H, da bomba de hidrogênio e também de Hortolândia, a quebrada dos manos, num som que mirou para todas as formas de descaso com o pais. Mano Ed também falou sobre esse estouro: “No estado de São Paulo “Bomba H” e “Tático Cinza” se destacaram, os clássicos né? E vós tivemos a felicidade de ter gravado o clipe de “Bomba H”, também que foi uma explosão através da MTV, foi um período muito bom.”
Face da Morte é um dos grandes nomes do nosso rap, tiveram uma pausa, mas em 2018 retornaram com shows e em breve trarão conteúdos novos. Enquanto as novidades não aparecem, o clássicão “O Crime do Raciocínio” é uma boa pedida, um dos álbuns mais contundentes da música brasileira.