O Cultura Livre desta semana recebe o rapper e compositor brasileiro Don L. Apresentado por Roberta Martinelli.
Lembrando que em 2021, Don L lançou o disco “Roteiro Pra Aïnouz Vol. 2”, que além de registrar os devaneios oníricos da estrada, funciona como um exercício de imaginação de novos passado, presente e futuro para o Brasil.
Com direção artística de André Maleronka (“Rá!”, “RPA3” e “Veterano”) e produção executiva de Marina Deeh, o segundo volume de sua trilogia autobiográfica reversa é pura reflexão e proposição. Reflexão ao pensar um novo país, uma nova perspectiva de enxergar a relação colonial e algumas novas histórias possíveis para o Brasil. Uma saída ao imaginário popular e comum de que não há alternativa. Proposição ao trazer versões sonoras particulares, inovadoras e com sua assinatura para gêneros consagrados no cenário nacional.
Se “Roteiro Pra Aïnouz, Vol. 3” nos mostra a decepção do último bom malandro chegando em São Paulo depois de nutrir todos os sonhos e expectativas com sua carreira e o rap nacional — “é como o cara que vai pronto pro jogo pra Meca, pra Babilônia, mas quando chega lá acabaram de botar fogo em tudo e a cidade está em chamas” contou o MC na época de lançamento — “RPA2” nos apresenta o percurso até lá, com todos os pensamentos do rapper ao longo da jornada de quase 3000 km. É Menos “O Céu de Suelly” e mais “Viajo Porque Preciso Volto Porque Te Amo”.
A jornada do rapper não serve apenas para pensar alternativas ao rap e à indústria do entretenimento. Durante a viagem de “RPA2”, o favorito do seu favorito aproveita para propor um Brasil diferente, enxergando o passado por outro prisma, o que desenha um futuro radicalmente oposto ao que parece nos esperar nas próximas esquinas. Don L, então, mostra em sua escrita e sua música a importância do exercício de constantemente pensar as novas realidades possíveis.
Sonoramente, “RPA2” é ambicioso em todos os sentidos. Enquanto seu trabalho anterior criava uma atmosfera densa e nublada, “Roteiro Pra Aïnouz, Vol. 2” aposta em uma sonoridade cinematograficamente colorida e solar. Trabalhando ao lado de Nave (Emicida, Marcelo D2 e Luisa Sonza) e Luiz Café (que assina a mixagem), Don L encontrou na multiplicidade de vozes a base para seu novo álbum. Com muitos coros e sonoridades incidentais, o artista reinventa, a seu modo e com ineditismo, diversos estilos brasileiros urbanos para além do rap, do trap e do drill, imaginando novas texturas para o funk, o soul e a MPB. Para isto, o MC contou com as participações de Djonga, Tasha & Tracie, Rael, Daniel Ganjaman, Mahmundi, Giovani Cidreira, Alt Niss, Terra Preta, Mateus Fazeno Rock, Luiza de Alexandre, Fabriccio, Thiago França, Eddu Ferreira, 808 Luke, Willsbife, Deryck Cabrera, Donatinho e Guilherme Held.
A parte gráfica do disco é outro destaque. A capa, uma mistura de “Chronic”, os discos da Strata-East e Black Jazz, e álbuns de MPB brasileiros da década de 70, é fruto de uma colaboração que já acontece desde a mixtape “Caro Vapor”, com projeto gráfico assinado por Filipe Fillipo e fotos de Autumn Sonnichsen. Os visualizers foram dirigidos por Aisha Mbikila (Lady Bird), responsável pelos clipes de “kelefeeling” e “Na Batida da Procura Perfeita” e que já assinou trabalhos de nomes como Iza e Projota.