Em 1º de Maio, Dia do Trabalhador, foi aberta a 8ª edição a Exposição da Paulista, iniciativa da União Geral dos Trabalhadores – UGT, que em 2022 traz o artista Eduardo Kobra, um dos mais reconhecidos artistas brasileiros, nacional e internacionalmente, para uma homenagem à classe trabalhadora, com o tema Os 200 Anos da Independência e Nós, Trabalhadores.
Neste ano em que o Brasil comemora 200 anos de sua Independência, a exposição dará voz e visibilidade àqueles que, desde a escravidão – embora tenham ajudado a construir e contribuído para o desenvolvimento social, tecnológico e econômico do Brasil –, não conseguiram usufruir desses benefícios e nem conquistar sua própria independência. Raras vezes foram retratados pela arte ou tiveram sua voz amplificada por ela.
“Você pode pegar uma lupa e analisar quadros e pinturas da Proclamação da Independência e não vai encontrar nenhum trabalhador nelas. Estão lá membros da corte, serviçais e escravos. Nenhum deles remunerados”, diz Ricardo Patah, presidente da UGT, que julga oportuno o momento para este reconhecimento. De lá para cá pouca coisa mudou no que tange a essa representatividade.
A UGT, através dos painéis de Kobra – de 3,5 metros de altura por 2,5 metros de largura -, presta seu tributo àqueles que fazem a máquina das cidades funcionarem, dando protagonismo aos trabalhadores, ideia que surgiu do próprio artista a partir do convite para a exposição. Em cada obra há um QR Code com os depoimentos em vídeo dos profissionais e, embaixo, a especificação do painel.
“Todas as pessoas fotografadas trabalham mesmo nas suas profissões. Nenhuma delas é modelo”, destaca Kobra, que cita alguns exemplos dos painéis onde utiliza sua peculiar técnica, unindo fotografias dos trabalhadores e citações de obras clássicas, em uma releitura cheia de cores: o bancário Rogério Marques da Silva teve seu retrato mesclado com a obra O filho do Homem, de Rene Magritte; Marcelo Fernandes de Sousa, caminhoneiro, empresta usa imagem à uma interpretação única de David, de Michelangelo; já As Respingadoras, de Jean-François Millet, inspira o retrato da catadora Maria Dulcinéia S. Santos; a cobradora Cássia Aparecida Santos Silva, em uma obra que traz citações do Auto-Retrato de Tarsila do Amaral, Cinco Moças de Guaratinguetá, de Di Cavalcanti, e O Mestiço, de Candido Portinari; a comerciária (repositora) Rosana Batista Santos, uma criação baseada na obra Campbell’s Soup Cans, de Andy Warhol; e a irmã de Kobra, a enfermeira Silvia Cristina Fernandes Léo, está presente na obra Rosie, A Rebitadeira, de J. Howar Miller.
As homenagens seguem com a construção civil, a gastronomia, representada por um Chef de Cozinha e um garçom, o trabalho doméstico, a enfermeira, o frentista, o ferroviário, o joalheiro, o fotógrafo, os garis, os motoboys, motoristas de aplicativo e taxi, o padeiro, o petroleiro, o metalúrgico, o porteiro de hotel, o professor, os profissionais da telefonia e do telemarketing, o carteiro, o trabalhador rural, até o piloto de avião.
O curador Fernando Costa Netto, da DOC Galeria, ressalta a importância da exposição para a classe: “Kobra é um artista magnífico que saiu do extremo sul de SP para ganhar o mundo. Um trabalhador que é uma inspiração para a classe trabalhadora, um cara que venceu pela arte, e nesse percurso faltava uma exposição como essa no epicentro do país. Kobra na Paulista é um presente para a nossa cidade e uma honra para a gente.”
““Aceitei o convite porque há muitos anos em muitas das minhas obras destaco grandes nomes que contribuíram para a Humanidade na Ciência, Arte, Humanismo e Religião, como Einstein, Da Vinci, Gandhi, Madre Tereza, Malala, Martin Luther King, Mandela e tantos outros. Agora é a hora de destacar, como já fiz no mural ‘Candango’, em Brasília, os milhões de trabalhadores anônimos que têm a arte de construir e melhorar o País e de, com dedicação, amor e competência, superar as adversidades e sustentar suas famílias”, diz Kobra. “É justamente por isso que tive a ideia de fazer 30 painéis, que serão colocados ao longo da av. Paulista, onde mesclo clássicos da arte com fotografias e cenas de 30 categorias profissionais. É a beleza da arte. A beleza do trabalho. A beleza da vida”, completa.
Coordenada pela Secretaria de Organização e Políticas Sindicais da UGT e pela Maná Produções, Comunicações e Eventos, a Exposição da Paulista, uma das maiores exposições ao ar livre do mundo, ocupará de 1º a 31 de maio um quilômetro da ciclovia da principal artéria da cidade, a Avenida Paulista, entre a Rua Augusta e a Alameda Campinas.
Após sete edições – 30 Anos de Redemocratização do Brasil (2015); 100 Anos do Samba (2016); 17 Objetivos para Transformar o Mundo (2017); A Quarta Revolução Industrial (2018); DIREITO DO AVESSO | AVESSO DO DIREITO (2019); Liberdade e Democracia (2020); Feminino Plural (2021) – e já consolidada, a Exposição da Paulista caminha para se tornar um evento oficial da cidade de São Paulo.
“A Exposição da Paulista já é parte integrante do que esta cidade plural e trabalhadora tem de melhor”, afirma André Guimarães, da Maná Produções, que idealizou o projeto, que este ano terá desdobramentos, com a realização de workshops nas Casas de Cultura dos bairros da Freguesia do Ó e Brasilândia e no coworking público Teia Perus, equipamentos da Prefeitura de São Paulo. O fotógrafo Ricardo Rojas ministrará oficinas de Fotografia Celular / Mobgrafia Inclusiva (fotografias feitas com celulares); o jornalista, fotógrafo, sócio da DOC Galeria de Fotografia e Escritório de Projetos Culturais e curador da exposição Fernando Costa Netto dará noções de Expografia – Como Montar Exposições, com foco na fotografia; e Walter Nomura, ou Tinho, um dos nomes mais conhecidos do Graffiti na América Latina, participa ensinando como fazer um Desenho em Larga Escala.
A Exposição da Paulista – Os 200 Anos da Independência e Nós, Trabalhadores tem o patrocínio de iFood, MAG Seguros, Sintracon-SP, Marabraz e Carrefour, com apoio da Prefeitura Municipal de São Paulo, Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo e da Câmara de Vereadores de São Paulo, através da vereadora Sandra Santana, e apoio da CPPU – Comissão de Proteção à Paisagem Urbana, CET, Ilume e Subprefeitura da Sé.