Diz o ditado que o “o show tem que continuar”. Não é possível dar prosseguimento de forma saudável e coerente, contudo, sem dar atenção a temas urgentes. Por isso, Emicida e a Laboratório Fantasma aderem ao movimento “The Show Must Be Paused” (em livre tradução, “o show precisa parar”), que teve início nos Estados Unidos e chama a atenção para o assassinato de George Floyd (e para as incontáveis vidas de pessoas negras tiradas pela polícia). Trata-se de um movimento que incentiva um grande “blackout” no mercado da música neste dia 2 de junho, terça-feira. Gravadoras, empresas e artistas mundo afora mostraram suporte a este breque no setor que tanto se beneficia e lucra com a arte de artistas negros. Assim, os projetos da Laboratório Fantasma estão sendo adiados, entre eles: 1) o lançamento da canção “Sementes“, de Emicida e Drik Barbosa, que sairia hoje, 2 de junho; 2) o Movimento 2, do AmarElo Prisma, iniciativa de Emicida; 3) o novo EP acústico de Rael, intitulado Capim-Cidreira (Infusão), que estava previsto para o dia 10 de junho. Comunicado oficial – Laboratório Fantasma:
Todo o silêncio, perante à injustiça, é parte da violência.
A Laboratório Fantasma sempre foi mais do que uma empresa. Ela é um grande portal por onde sonhos podem se tornar realidade.
Foi assim ao longo dos últimos 11 anos, em que nos dedicamos, constantemente, a construir pontes para conectar pessoas com uma origem semelhante à nossa, pretas e periféricas, a novas possibilidades de existir. Foi assim na música, na moda e em tudo o que fizemos – incansavelmente – nos últimos tempos.
Não podemos nos abster nesse momento. Escolhemos fazer parte da grande movimentação que atravessa o Planeta e que ganhou o nome de The Show Must Be Paused (algo como “O Show Precisa Parar”). Por entender que é urgente refletir e agir para acabar com esse sistema que exclui, oprime, invizibiliza e mata pessoa negras, optamos por cancelar lançamentos da LAB e replanejar os nossos projetos que aconteceriam nesta semana.
É por Ágatha Felix, Douglas Martins Rodrigues e João Pedro. Mas também por George Floyd, por Claudia Ferreira e Marielle Franco. Também pelos 5 jovens negros que tiveram o seu carro alvejado por 111 tiros. CENTO E ONZE. Todos eles foram vítimas de uma violência racista e da postura de países que ceifam – com crueldade – a vida das pessoas que nós incentivamos a continuar sonhando por meio das nossas canções.
Não podemos deixar de apontar também que, ao longo dos últimos 11 anos, foram raríssimas as vezes em que visitamos escritórios de nossos colegas do mercado, como grandes gravadoras, editoras, produtoras, rádios, entre tantas outras, e encontramos pessoas pretas trabalhando em posições que fugiam do serviço da limpeza e dos serviços gerais.
Vidas negras importam! Mas não podemos reproduzir isso pautados pela tragédia somente. Se não as valorizarmos, de fato, e não construirmos uma trilha onde a ascensão, sobretudo a econômica, seja possível para a trajetória de pessoas não-brancas, a morte de (e os protestos por) tantas pessoas terá sido em vão.
Não podemos parar nas hashtags. Que possamos usar a energia explosiva desse momento para nos questionarmos enquanto sociedade e, de fato, darmos um cavalo de pau na história, conseguindo construir uma realidade onde a opressão racial se transforme, de vez, em passado.
#Vidasnegrasimportam #Ubuntu #Lab11Anos