Desde o começo de Julho, no cenário do Hip Hop americano, tem se falado muito sobre as mortes de Alton Sterling e Philando Castile e muito se tem feito para lidar com o luto nacional que foi a perda desses dois homens negros brutalmente assassinados por policiais brancos: o “23 Ways You Could Be Killed If You Are Black in American” (algo como 23 Formas de ser Morto se Você For Negro nos EUA), vídeo que conta com as participações de Beyoncé, Rihanna e Alicia Keys (entre outros) que viralizou na internet essa semana; Jay Z lançou a música “Spiritual” falando sobre a brutalidade policial; e vários rappers tem incluído a discussão sobre violência policial contra a população negra americana em letras de músicas e videoclipes.
Infelizmente na mídia brasileira pouco se tem falado sobre esses terríveis assassinatos. Nós brasileiros sabemos que lá existe uma série de relatos de violência policial contra negros e negras mas, efetivamente, temos pouco acesso a esses dois episódios específicos.
Alton Sterling tinha 37 anos e morava em Baton Rouge, no estado da Louisiana. Enquanto estava andando na rua à noite no dia 05/07, foi abordado por dois policiais brancos que estavam atendendo um chamado da central de Polícia sobre um homem vestido de vermelho, vendendo CDs, que tinha ameaçado algumas pessoas fora de uma loja de conveniência. Então os policiais, sem qualquer interrogatório, partiram para uma abordagem violenta derrubando Sterling no chão. Por tentar revidar, os policiais atiraram e ele morreu no local.
Philando Castile era um homens de 32 anos e morava em St. Anthony, Minessota. No dia 06/07 ele estava dirigindo com sua mulher e sua filha de 4 anos no carro. Um policial pediu para que Castile parasse o casso e desse para ele seus documentos. Castile então avisou para o policial que tinha licença para portar uma arma e tinha uma no porta-luvas. O policial então pediu para que ele colocasse os braços para trás do corpo e, quando fez isso, atirou cinco vezes no braço e peito de Castile, que morreu momentos depois. Sua esposa, Diamond Reynolds, pressentiu antes dos tiros que algo estava errado e começou a fazer uma gravação com o celular de tudo o que estava acontecendo, inclusive registrou todo o assassinato de seu marido. Nos EUA, o vídeo rapidamente viralizou.
Muitos rappers americanos então se indignaram com esses dois episódios. Sabe-se que todos os dias os negros e negras americanos tem seus direitos violados no trabalho, nas escolas, na vida pública e que um dos agentes que promove essa violação é a polícia. Sterling e Castile não foram os primeiros homens negros assassinados pela polícia americana. E não à toa, clipes como “Formation” de Beyoncé, que retratam artisticamente a violência policial contra a população negra, começaram a bombar cada vez mais nesse ano. Dessa forma, a população negra americana está se cansando de toda essa violência e todo esse desrespeito a seus direitos.
No rap, essa movimentação política tem chegado de forma bastante intensa. Alguns críticos de música disseram que o rap está acordando de um longo sono. Para eles o rap surgiu como uma forma de expressão artística contra o desrespeito sofrido pela população negra tanto no Bronx, onde nasceu, quanto em todos os EUA conforme outros bairros começaram também a produzir rap. Só que depois desse momento inicial de contestação, muitos rappers começaram a escrever sobre outros temas, especialmente focando coisas boas que aconteciam em suas vidas (ganhar dinheiro, transar, comprar um carro, ir a festas, etc) entendendo que suas vidas não se limitavam ao sofrimento. Não que o rap de contesto tenha desaparecido, mas esse outro rap tinha maior alcance, inclusive porque era mais fácil de ser vendido para rádios, gravadoras e para a mídia, como um todo, do que o rap que reivindicava direitos. E agora, o que se observa desde o começo de 2016, é que mesmo rappers consagrados por venderem músicas mais comerciais, tem se posicionado politicamente contra o racismo nos EUA e, eventualmente, começado a fazer clipes e músicas abordando o tema. Por isso esses críticos de música entendem que o rap está acordando de novo, está retomando suas movimentações originais e indo para a luta de novo.
O que poderá acontecer a partir daí não sabemos e só podemos observar. Mas nós, do ZonaSuburbana, aproveitamos para dizer que somos contra qualquer tipo de discriminação e preconceito racial.