quinta-feira, novembro 21, 2024

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Entrevista fora do comum com o grupo feminino Omnira

Entrevista com o grupo paulistano Omnira falando um pouco sobre algumas ideias expostas em seus trabalhos musicais, o significado do nome, o feminismo, questões raciais entre outros assuntos pertinentes.

Quem é Omnira e qual o significado do nome?
Omnira significa liberdade em Yorubá. A gente queria um nome simples, forte, objetivo e num dialeto africano, então escolhemos Omnira. Somos 2 (duas) mulheres; Paty Treze e Juliana Sete. A gente já faz rap há algum tempo, e numa conversa sobre isso decidimos nos unir nesse projeto, tivemos essa conversa no fim de 2013 mas só começamos a nos apresentar e liberar material em 2014.

Qual o principal objetivo do grupo?
– Nosso principal e talvez único objetivo seja poetizar. Poetizar a vida, a dor da rotina, e outras tantas coisas que vivemos. Poetizando a gente acaba falando o idioma universal, a música.

Qual a opinião de vocês com relação ao atual momento social que o Brasil vem passando e sobre as últimas manifestações, em especial a do dia 15 de Março?
– O Brasil mudou e segue mudando,  óbvio que mudar traz transtornos, às vezes enche o saco, as vezes titubeia, mas hoje minhas crianças tem acesso à coisas que não pude ter. Minha mãe é negra, nordestina e chefe júnior numa multi-nacional, estudou depois que eu já era adulta, ou seja, teve oportunidades recentes que não teve quando jovem. Ao meu ver, para o pobre tá muito mais acessível um curso, uma faculdade, ou que ele pôr na cabeça que quer.

Tem que melhorar? Sim, muito, mas estamos chegando. As mídias sociais não param, são muitas denúncias, muitas informações, não dá mais pra calar o povo pobre e preto.
Ah, e sobre a manifestação do dia 15 de março, vi muito verde, amarelo e BRANCO (em capslock e sem negrito, rs). Um passeio na paulista pra aparecer na Globo, medo de um eventual “rolêzinho” no shopping virar rotina (que já ta virando). A classe média tá enfrentando mais trânsito porque os pobres agora tem carro também. Tão pegando mais fila no supermercado porquê o pobre agora faz compras, resumindo, tão estressados, tadinhos (risos). Hoje nós temos voz!

Quais são as principais influências tanto dentro como fora da música?
– Temos a mania de associar o artista ao seu trabalho. Portanto se eu ouço o trampo desse artista é porque também admiro sua conduta pessoal. Vou falar sobre o que tenho ouvido ultimamente pra lista ficar menor. Ando ouvindo bastante Maria Bethania, Tássia Reis, Ponto de Equilíbrio e Keny Arkana.. No Rap minhas maiores e primeiras influências foram Facção Central, Sabotage, 509-E, Visão de Rua, Mv Bill, Thaíde, Xis, Lauryn Hill, Alicia Keys, Ray Charles e Queen Lathiffah. Meu irmão mais velho fazendo Rap e gravando nas fitas cassetes me influenciou e influencia muito. Tive uma época muito viciada em KRS One, Bezerra da Silva, Tim Maia e Cazuza. Ouvi muito Caju e Castanha também, meu pai gosta muito.
Dentro da musica sou muito diversificada, acho que é por escrever e ser apaixonada por musica, sempre ouço. Música clássica também é familiar, o jazz que ouvia com meu irmão mais novo e tal, não vou conseguir responder todas minhas influências assim, é muita coisa. Meus pais tem uma história de vida que me orgulham demais, me fizeram ser o que sou hoje, são a maior influência de todas.

Vocês levantam a questão do colorismo em seus trabalhos? Pra vocês qual o significado e como enxergam essa questão?
– Não. Mas levantamos essa questão no dia-a-dia, no nosso cotidiano, porque nem f****** vão me embranquecer com o “morena” deles. Na entrevista que eu disse que incluímos o colorismo, quis dizer que você negra(o) que se viu a vida toda chamado de morena(o) e que hoje reconhece seu lugar no mundo, sabe de onde veio e tem orgulho da sua negritude, você é representado aqui na minha musica, no meu discurso e no que o Omnira transmite. De forma alguma compactuamos com isso. O colorismo é só mais um cômodo da senzala. A sociedade faz um controle de qualidade, divide os negros por lote, tamanho e cor, fazendo uns menos “aceitáveis” que outros. Um termo para nos dividir, matar nossa identidade.

Como vocês avaliam a atual situação da mulher na sociedade brasileira, em especial a mulher negra residente nas periferia e como combater a situação de vulnerabilidade social à que estão expostas?
– O mundo não é um lugar seguro para as mulheres. Para a mulher negra periférica então…Piorou! Mesmo que tenha havido um avanço social para as mulheres, isso tem abraçado mais a mulher branca. Para a mulher negra a luta será sempre dupla, por gênero e raça, sempre!
Em caso de escolha a sociedade sempre vai optar pela mulher branca. Exceto para vagas de trabalho como domestica. Só que o tapa na cara da sociedade é que a mulher negra periférica está estudando o dobro do que estudava, está buscando profissionalizações diversas porquê tá rolando um empoderamento na periferia.
A periferia quer chegar, quer protagonizar nos espaços diversos. A vulnerabilidade dessa mulher que volta tarde pra casa, que sai a noite pra escola, pra faculdade, que ouve cantada nojenta na rua, que tem medo do policial no pé do escadão é mais uma questão que entra no mérito da educação.
Educar é a resposta pra quase todas as questões sociais. Dê perspectiva de futuro, lazer e dignidade pra favela e os avanços serão irremediáveis. Enfim, eu queria ter a resposta final pra isso, mas não tenho.

O nome Omnira tem origens africanas, essa característica também é encontrada em alguns trabalhos do grupo? Pouquíssimos grupos atuais se preocupam com essa questão. Como avaliam a atual cena do hip-hop brasileiro?
– Sim. Mas isso será mais explícito no nosso disco porquê as musicas que disponibilizamos no SoundCloud são letras antigas ou reformuladas para nós nos (re)apresentarmos na cena.
Bem, a mãe África esta em nós, então, é inevitável que isso transpareça no nosso trabalho. A cena ta muito viva! Quanto mais dizem que não, mais ela cresce. Tem gente demais chegando, gente demais voltando, o negócio é focar em fazer um trabalho que te represente porque ainda que só dois, ou três vejam seu grafite, te ouçam ou te vejam dançar, isso marca a vida de quem esteve naquele momento. O hip hop é muito forte. A contribuição que você deixa pra ele é como uma oferenda para um Deus, tem que ser a melhor possível sempre.

Vocês pretendem lançar um álbum ?
– Sim! Vamos lançar nosso disco ano que vem. Já estamos trabalhando nisso. Temos bons parceiros e parceiras para somar neste projeto. O nome do disco será Grito de Liberdade e esperamos que nossas músicas transmitam fidedignamente a mensagem de que Omnira é mais que Rap, é grito por liberdade, grito por justiça, grito pelas senzalas modernas que existem em todo o mundo.

Quer conhecer mais o grupo Omnira ? Ouça!

+em www.facebook.com/omnira

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