O comportamento dos consumidores vem mudando com a transformação digital e isso acontece também no universo da música. Com as plataformas de streaming, ficou mais fácil observar novos hábitos e uma tendência pode ser conferida nas paradas: os hits de maior sucesso estão mais “curtos”. O ranking das dez faixas nacionais mais reproduzidas no momento no Spotify, que somou 172 milhões de novos assinantes somente no terceiro trimestre de 2021, tem várias delas com até dois minutos e meio de duração. As que não ficam dentro desse limite, tampouco ultrapassam os três minutos e meio.
A indústria observa a mudança e leva a tendência em conta na hora de criar novos sucessos e de explorá-los comercialmente. “Isso é reflexo de uma sociedade mais digital e que recebe um volume muito grande de informações. Por isso, a maioria desses hits também têm um prazo de validade mais curto do que tinham os de antigamente, pois logo são substituídos por outras novidades. A vida útil da música é mais curta devido ao consumo acelerado. Eles geram bom rendimento no início, e artistas e detentores de direitos autorais devem fazer um aproveitamento estratégico dessas obras, considerando essa flutuação”, avalia João Luccas Caracas, CEO da gestora musical Adaggio.
Tempo ainda deve encurtar, mas há “gosto pra tudo”
Refrãos curtos, fáceis de decorar, batidas e arranjos mais simples sempre foram marcas de grandes hits. A duração da música pode ter entrado para a lista dos fatores que ajudam no sucesso e profissionais do setor estimam que ela pode encurtar ainda mais no futuro, já que as gerações do streaming são as mesmas que têm, por exemplo, até 60 segundos no TikTok. Tudo isso reforça a falta de tolerância com o que é mais demorado.
Caracas, contudo, lembra que grandes hits do passado já tinham essa característica de serem curtos e que outros grandes sucessos memoráveis, por sua vez, ultrapassaram o “cronômetro” e mesmo assim continuam sendo reproduzidos à exaustão até hoje. Ou seja, o tempo não é definitivo para uma música cair no gosto do público ou não.
“Temos no catálogo da Adaggio as duas situações. “Será”, do Legião Urbana, por exemplo, tem mais de 68 milhões de streams no Spotify e dois minutos e meio de duração. A “Vira-Vira” é a segunda música mais ouvida dos Mamonas Assassinas na plataforma e tem 2 minutos e 23 segundos. Por outro lado, até hoje o brasileiro continua amando “Arerê”, que passa dos quatro minutos, não sai das festas nunca e já teve milhões de reproduções no streaming. O que eu quero dizer com isso? Que sim, músicas mais curtas geralmente “grudam” com mais facilidade, mas isso, por si só, não determina o sucesso. Essa é a graça do mundo musical: não existem regras! Sempre há exceções. Vemos que, cada vez mais, as músicas começam pelo refrão, ou, inserem o refrão nos primeiros 30 segundos para “pescar” rapidamente a atenção do ouvinte, como uma forma de gancho”.
Royalties musicais como investimento
A Adaggio é o primeiro fundo brasileiro especializado na aquisição de catálogos musicais e faz parceria com artistas nacionais para gerir e aumentar o rendimento de suas obras. Fazem parte do portfólio da empresa, entre outros nomes, Toni Garrido, Jorge Aragão, Dado Villa-Lobos, Dinho, do Mamonas Assassinas, Danilo Caymmi e Délcio Luiz.
Na parceria, o artista cede o direito de receber royalties futuros em troca de uma liquidez imediata, já que a Adaggio antecipa recebíveis para seus parceiros monetizarem de forma rápida. “Nossa missão é empoderar artistas, perpetuar seu legado, eternizar e ressignificar canções e, assim, potencializar os ganhos e o alcance dessas obras, para que todos ganhemos juntos”, destaca o CEO.
Em 2021, a Adaggio já alocou 75% do capital levantado e está fazendo diligência em 60 catálogos que, juntos, valem cerca de R$250 milhões. Além do foco nos direitos autorais, a empresa aposta numa gestão ativa contemporânea e no crescimento do mercado de streaming para aumentar a receita de seus parceiros.