Lançado no dia 1° de outubro de 2022 pelo cantor e rapper Gustavo Nobio, “A Contundente Arte das Rimas” é um EP digital independente com sete faixas. Tais sucessos nobianos (como ele gosta de se referir às suas produções) enfatizam e reforçam a veia crítica e poética do artista da cidade de Niterói (RJ).
Despercebidamente marcando presença na cena musical independente – após um longo hiato na carreira até retornar em 2019 numa coletânea organizada por ele e distribuída nas plataformas de streaming -, os registros fonográficos aqui apresentados mostram o quanto seu discurso é sóbrio e austero, e esses clássicos reeditados num formato compacto soam inéditos para quem nunca ouviu!
Com a influência das imagens captadas através da vivência profissional no cotidiano de uma grande metrópole como o Rio de Janeiro, o nobilíssimo emecê dá voz ao seu olhar urbano logo na faixa de abertura, Avançar Com Ímpeto, em que declama sua poesia concretamente sonora na levada do rhythm and blues.
A música brasileira se faz presente no samba-rap O Grande Espetáculo onde o intérprete homenageia nomes importantes da nossa cultura musical e do pensamento contemporâneo como Chico Buarque, Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal, Guinga, os maestros Moacir Santos (1926-2006) e Julio Medaglia (este, numa respeitosa homenagem às avessas) e o filósofo Milton Santos (1926-2001).
O racismo estrutural é explicitado na letra de Melanina Em Pauta em que o autor é categórico ao rimar que quem renega sua ancestralidade, achando que descende da suposta raça ariana, talvez não saiba que seus antepassados eram escravos que colhiam o café e cortavam muita cana. É uma espécie de libelo anti-racista cuja introdução já dá o tom.
O extended play chega na metade com Potente Durâmen (Skit), um breve intervalo musicado no ritmo do soul-funk. Rimano G.N. segue o baile em Quebra de Silêncio, um rap cheio de atitude, na defesa da liberdade de expressão artística, alicerçado por uma base de timbres orgânicos (kicks e caixa), percussão de samba, bréques de maracatu e french horns ao teclado.
O poeta quebra o estigma do rapper bruto e sisudo ao provar que os rimadores também amam cantando loas para a mulher admirada em Patrimônio da Natureza, no melhor estilo boom bap com uma ousada alternância de ritmos e um lindo refrão melódico.
Por fim, o juízo crítico do artista é direcionado de maneira muito inteligente à alienação midiática e ao poder de manipulação televisivo no rap-rock Hipnose Eletrônica que explode num pulsante refrão eletro-hardcore.
O hip-hop não morreu! Gustavo Nobio honra a linguagem verbo-rítmica made in Brazil com forma e conteúdo consistentes para que a narrativa tenha propósito e não se torne vazia e decadente.