Inquérito estréia visual para “Meu Super Herói”, inspirado na própria história de Renan Inquérito. O videoclipe tem direção de Levi Vatavuk. A faixa faz parte do álbum “Mudança”, lançado em 2010.
ZonaSuburbana entrevista Inquérito, grupo pioneiro do Rap Nacional que acaba de lançar seu mais novo clipe “Meu Super Herói”.
Para quem conhece, dispensa esclarecimentos, para quem não conhece, uma das marcas do grupo é a inovação sem perder a essência, um dos grupos pioneiros do Rap Nacional e atuante na cultura Hip-Hop, vai nos dar a honra de sua palavra.
Primeiramente gostaria de expressar a nossa enorme satisfação em fazer essa entrevista, com o grupo que já mostrou ser Mais loco que u barato, que Um segundo é pouco e completou, no último dia 20 de novembro, três anos do mais recente álbum lançado: “Mudança” – com 20 faixas de títulos e temas surpreendentes, 6 importantes participações, três vídeoclipes na rede, um deles com repercussão mundial – agora está lançando o vídeo que fecha o ciclo do trabalho, intitulado #MeuSuperHerói. É pouco ou querem mais? É este o grupo que teremos o prazer de entrevistar! Salve, salve Inquérito! Vamos ao trabalho!
ZonaSuburbana: A música #MeuSuperHerói remete à infância e lembra a faixa Dia dos Pais que fez muito sucesso em 2005 e atingiu grande repercussão na carreira de vocês, sobretudo porque, apesar de o grupo existir desde 1998 ainda não havia nenhum álbum oficial pronto. Como vocês se sentem sabendo que há 15 anos nem imaginavam como era um estúdio nem onde poderiam chegar e hoje, em pouco tempo, o terceiro álbum já teve todo esse alcance? O novo vídeo fecha completamente o ciclo de “Mudança”? Vocês podem nos dar detalhes sobre o vídeo ou vão deixar o suspense?
Inquérito: Fazer o bem sem olhar a quem, diz o ditado, portanto quando começamos a fazer música jamais esperávamos algo em troca, jamais imaginaríamos onde ela poderia chegar, até hoje ficamos surpresos. O disco Mudança teve quatro vídeos, Mister M, Um Brinde, #PoucasPalavras e Meu Super Herói, cada qual com uma estética diferente, uma temática diferente, foi um trabalho de bastante conceito.
ZonaSuburbana: Como é estar há 15 anos no Rap Nacional? Como vocês vêem as mudanças que ocorreram dos anos 90 para os anos 00 e dos anos 00 para os anos 10, tanto positivas quanto negativas? É um desafio para vocês se atualizarem sem perder a essência do grupo, como é para você essa evolução?
Inquérito: É maravilhoso fazer parte da história como protagonista, não vivemos de nome, nem de passado, vivemos das nossas ações, somos engrenagem e lubrificante pra que a máquina funcione, não podemos parar se não o motor para também. Antenado e enraizado, sempre!
ZonaSuburbana: Como vocês descrevem a poesia e o conhecimento (diplomado ou não) importantes para o Hip-Hop? E qual a diferença vocês notam nas pessoas que participam dos projetos sociais que vocês fazem parte/realizam? Quais são os depoimentos/relatos dessas pessoas? É algo que vocês pensam que todos que fazem parte do movimento deviam fazer? No Rap, vocês acham que se perdeu o valor da cultura Hip-Hop como um todo?
Inquérito: O rap é música, é arte, mas sendo um ou outro, ambos feitos no Brasil não podem negar o seu contexto, o mundo a sua volta, a realidade política e econômica, não dá pra fazer a arte pela arte, saca? Acredito na arte engajada, sei que o palco não é palanque mas o microfone é arma, temos que usá-la a nosso favor, nem todos estão preparados, infelizmente “tem muita arma na mão de criança”.
ZonaSuburbana: Hoje vemos muito, no Rap, à alusão ao álcool e à maconha. Quem viveu na periferia nos anos 90 sabe que não há do que se orgulhar com músicas assim, pois devido a elementos como esses e até piores, foram destruídas muitas famílias e muitas vidas, como num verdadeiro genocídio. E hoje ainda, sabemos a consequência do álcool nas famílias e que maconha, apesar de ser comprovado não trazer riscos à saúde, tem levado muito adolescente e pré-adolescente ao uso. Também levemos em consideração que o Rap ouvido na maior parte das periferias ainda é o Rap dos anos 90 e 00. As pessoas não ouvem os novos grupos/rappers, esses são mais conhecidos nas classes médias. E a nova cena da periferia tornou-se uma cena local de cada bairro. Você acha que toda essa disseminação deixou de ensinar aos novos a antiga disciplina e o antigo respeito que havia ao criar uma música? Você acha que os temas atuais deveriam ser melhor pensados? Quando fizeram a música “Um brinde” vocês pensaram em que exatamente?
Inquérito: O rap cresceu, mas se pulverizou também, se diluiu, e sabemos que quantidade não é qualidade, todo movimento ou cultura passa por esse paradigma quando se populariza, foi assim com o samba, com o punk e com tantos outros, sempre existirão os verdadeiros e os oportunistas, mas isso o tempo peneira.
ZonaSuburbana: Um quadro que não mudou até hoje, é a repressão da polícia aos jovens de classe baixa, que aliada à falta de educação e a baixíssima renda da maioria das famílias, tem deixado a periferia desarmada de todas as formas, pois até a política não faz nada em relação a esses problemas. Em contrapartida, as mães hoje em dia ou são jovens demais e não mostram responsabilidade em educar seus filhos ou trabalham demais para sustentá-los. Acaba que muitos deles largam a escola, ou desrespeitam os professores, não procuram cursos para se ocupar e aprender, muitos nunca leram um livro, outros entram para a criminalidade, alguns se tornam usuários de drogas. E o futuro de qualquer uma dessas situações nós já sabemos. Um movimento que tem lutado muito para mudar esse quadro são os saraus de poesia, e mesmo assim é fraco, frente ao tamanho do problema. Para vocês, que sabem o quanto a formação e o conhecimento são importantes, o que mais você acham que pode ou deve contribuir para mudarmos esse quadro?
Inquérito: Nem o rap nem os saraus tem essa obrigação, apenas contribuímos, mas não somos um órgão governamental, não temos esse dever e nem essa estrutura, o Estado precisa fazer a sua parte, a família, a escola, é um conjunto, mas acredito sim na educação como um caminho, seja em casa, na comunidade, no bairro, enfim…
ZonaSuburbana: Ainda na questão de evolução, hoje em dia os ritmos que tomam conta da periferia são o Funk, o Forró, o Sertanejo, o Samba e as variáveis desses estilos. Na opinião de vocês, porque o Rap se distanciou tanto?
Inquérito: O rap não se distanciou, acho que continua cumprindo seu papel, Racionais tá vivo, Thaide tá vivo, Dexter tá vivo, estamos vivos! O que houve foi uma ilusão de que viraria uma cultura de massa, daí veio a comparação com outros segmentos de massa, e daí a frustração de muitos. Sempre tive o pé no chão, o Funk, o Sertanejo pode até ser a trilha das quebradas, mas o Rap é muito mais que trilha, é estrada!
ZonaSuburbana: O Inquérito anda o Brasil inteiro desempenhando projetos e levando o seu trabalho a cada canto do país. A realidade é diferente em cada um desses lugares?
Inquérito: São Brasis, países diferentes dentro do mesmo país, mas em geral a regra é a mesma, quanto mais distante do centro menor a assistência, menor o acesso, e não estou falando só de centro geográfico, estou falando de centros de poder, de comando. O capitalismo é seletivo, investe onde lhe interessa, o resto fica a míngua, a mercê do governo, que por sua vez se submete cada vez mais ao capital.
ZonaSuburbana: Mudando de assunto. A produção dos álbuns do Inquérito é bem diferente uma da outra, nesse último, vocês vieram com mais musicalidade, com misturas de ritmos, com uma variação maior na escolha das instrumentais. Por que da escolha de bases mais musicadas? Faz parte a evolução de vocês como artistas?
Inquérito: Com certeza, evolução é a meta, sempre! A produção reflete nossa evolução em todos os sentidos, traduz pras músicas.
ZonaSuburbana: Os integrantes do grupo tem projetos paralelos? Se sim, quais são?
Inquérito: Tenho a Parada Poética, um sarau de poesias que acontece em um bar mensalmente e que tem se estendido as escolas também. Além disso temos outros trabalhos que só serão apresentados ao público em 2014.
ZonaSuburbana: Chegando ao fim de nossa entrevista, eu pergunto: O que mais podemos aguardar após o lançamento do vídeo de #MeuSuperHerói? Vocês pretendem descansar ou já há outros trabalhos engatilhados? Onde encontramos mais sobre o Inquérito?
Inquérito: Aguardem o quarto disco para 2014 pois comemoraremos 15 anos luz! Acessem nossa Page oficial no Facebook www.facebook.com/inquerito
ZonaSuburbana: Gostaria de agradecer a vocês por nos conceder essa entrevista e nos dar honra de sua palavra! Nosso muito obrigado!
Por: Érika Dionísio