sexta-feira, novembro 22, 2024

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Jonathan Ferr une jazz ao hip hop e apresenta feats como Rashid, Coruja BC1, Zudizilla e Kaê Guajajara no álbum “Liberdade”

Precursor do urban jazz no Brasil e reconhecido por inserir elementos de outros ritmos em suas produções, o músico afrofuturista Jonathan Ferr apresenta ao mundo seu novo álbum, “Liberdade”. Com participações especiais em todas as 10 faixas, das quais 9 são inéditas – a única já conhecida do público é “Lá Fora”, com Coruja BC1 e Zudizilla, o projeto chega às plataformas de áudio nesta sexta-feira (27) pelo slap, selo da Som Livre, e representa mais um passo em direção à democratização do gênero instrumental – uma das principais bandeiras do pianista carioca.

Por meio de parcerias com nomes que imprimem diversidade na música brasileira, como Luedji Luna, Kaê Guajajara, Rashid, Tássia Reis e Tuyo, Jonathan busca explorar o conceito de liberdade em diferentes frentes. O músico multi instrumentista leva o ouvinte a um mergulho profundo, que reflete muito de Ferr enquanto artista, mas que também pretende provocar a quem ouve, além de estimular a propagação dessa expansão de consciência.

A música de trabalho “Meu Sol”, que aposta na parceria com rimas do rapper Rashid intercaladas pelo refrão cantado pelo duo Àvuá e pelo próprio Jonathan, uma das novidades neste novo trabalho, chega também com videoclipe no dia do lançamento. O roteiro é de Ferr, que também assina a co-direção ao lado de Leo Ferraz. O ator Aílton Graça é o protagonista convidado para a produção, que aposta em uma narrativa sobre a posse do primeiro presidente negro do Brasil. Jonathan aparece como um ativista do partido “Irmandade”, uma brincadeira que ele já apresenta em seus shows. A música fala de esperança e preencheu os bastidores do videoclipe com muita emoção:

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O álbum “Liberdade” apresenta vocais em 9 das 10 canções, sendo 90% cantado por mulheres, e Jonathan faz sua estreia como cantor em três faixas: “Temos participações em nove faixas e em algumas eu canto também, então esse álbum inaugura ainda um outro Jonathan, experimentando possibilidades além do instrumental. O disco começou a ser produzido quando eu fui morar em São Paulo, em 2021, e eu já estava intuindo a ideia de fazer um álbum novo, que iria surgir a partir de ‘Cura’, com samples e beats. Eu já tinha também esse nome na minha cabeça, ‘Liberdade’, e aí essa troca de cidade foi também um laboratório de mim mesmo. Me experimentar em outra cidade, outras músicas, possibilidades, conhecendo novas pessoas”, explica Ferr, frisando que o nome do álbum dá todo o significado deste novo trabalho, e passa por diferentes camadas. 

Com relação às parcerias – quase que 100% delas com artistas negros e indígenas – o músico não nega a vontade de expandir seus horizontes e furar a bolha elitista da música instrumental. “As participações se deram de uma maneira muito fluida e natural. Têm pessoas que já estão no meu círculo de amizades, outras que eu fui conhecendo ao longo do caminho. Acredito também que ter tanta gente bacana e diferente envolvida vai poder fazer esse trabalho chegar em mais pessoas, e ficarei feliz que elas se conectem com as coisas que eu estou propondo”.

O disco se inicia com a faixa “Correnteza”, uma produção puramente instrumental – a única entre as 10 músicas do álbum -, que apresenta um mix de influências do jazz, rap e R&B. Ela abre o trabalho trazendo o significado da fluidez, da força da água, esta que está presente em diversos títulos do projeto, e que vem de encontro ao conceito e também título do disco.

A segunda faixa traz o nome do disco, “Liberdade”. É logo de cara que os fãs de Ferr são imersos na provável maior novidade do projeto: a música é cantada e traz em um feat com a cantora indígena Kaê Guajajara, que fala sobre o conceito da não-monogamia aplicado às relações amorosas. Mas engana-se quem pensa que a inserção das vozes deixa os acordes do piano em segundo plano. Em todo o álbum, o equilíbrio entre as partes – piano, beats e vozes – é esteticamente harmonioso e confunde a escuta no bom sentido, uma vez que fica difícil rotular a sonoridade, fazendo ruir os limites entre jazz e as vertentes da música urbana, como o R&B.

Em seguida, “Rio Nilo” traz a voz da baiana Luedji Luna e da jovem rapper paulista Stefanie, que escreveu as rimas homenageando seu filho. A música de trabalho, “Meu Sol”, é a quarta faixa do álbum. Mais uma vez com a água fazendo presença, “Mar Profundo” fala da intimidade como ferramenta de emancipação, numa metáfora com as águas profundas do mar. Os vocais são protagonizados pelo trio Tuyo. O single “Lá Fora” (ft. Zudizilla e Coruja BC1), é um boombap misturado aos acordes do piano e também traz a voz de Ferr.

Outra novidade de Ferr é a faixa “We Never Change”, com participação da cantora britânica Jesuton, é a única faixa toda cantada em inglês do álbum, que traz um vibe dos anos 90, bastante romântica para o projeto. Uma das preferidas de Jonathan, a canção “Preterida” traz as vozes das jovens de Salvador Melly e Iuna, e fala sobre a demonstração de sentimentos e da fragilidade. “Gota”, a penúltima canção do disco, chega com a participação de Tássia Reis e do beatmaker Black Alquimista e é inspirada na oração de São Miguel, presente em diferentes religiões. 

O disco encerra com “O amor não morrerá”, produzida com Lóssio, em que Ferr canta sozinho fazendo da letra um resumo de todo o projeto, deixando a provocação: o que é liberdade para você? “Falar de liberdade é falar de algo que é inerente ao ser humano. Espero que as pessoas possam se conectar tanto quanto eu tô conectado com esse tema, e a partir disso possam gerar outras coisas, situações, debates, álbuns… Esse projeto é uma grande provocação, né? Do que é ser livre, do que é emancipar e ser emancipado“, diz o artista, deixando claro que a natureza do novo trabalho é também coletiva. 

Jonathan é responsável por toda produção sonora do álbum, e além do piano, o músico também está no comando dos baixos synth, dos sintetizadores e dos pianos rhodes. “A ideia sempre foi fazer uma música que fosse genuinamente minha, que eu ouvisse e me conquistasse antes de qualquer coisa, com conexões profundas, e também que as pessoas pudessem ouvir e se conectar com elas mesmas. E quanto mais o tempo passa, mais esse objetivo fica claro pra mim. Trazer agora o universo do hip-hop, o beat e a letra é uma coisa que eu já pensava há um tempo. Eu não sabia quando nem como ia acontecer, mas é muito bom poder realizar isso nesse momento, em que eu me sinto ainda mais maduro para poder trazer também as pessoas incríveis que estão colaborando nesse álbum. É ser livre tanto no ato de samplear a mim mesmo – sendo o sample um tema às vezes tão controverso e polêmico na indústria musical -, quanto nas misturas sonoras, em que eu estou buscando um lugar disruptivo, fora dos estereótipos do que é jazz”, discorre Ferr sobre a inserção de novos elementos em suas composições, que contam ainda com um ‘auto-sampleamento’ das faixas de seu álbum anterior, “Cura”. 

Furar a bolha, aliás, é algo que Ferr já tem feito. Coroando a boa receptividade de sua música pela cena mainstream, recentemente o artista foi indicado ao Prêmio Multishow 2022 na categoria “Melhor Instrumentista”, além de ter integrado o line-up do Primavera Sound, festival internacional de música que aconteceu em outubro e novembro no Brasil pela primeira vez, em São Paulo. “Eu estou muito feliz! Sou um cara preto, pianista, de Madureira (bairro da cidade do Rio de Janeiro), então a música que eu faço, que vem do subúrbio, é disruptiva por si só, nasce em um lugar totalmente diferente do que esperavam de mim. Poder ver minha arte chegar em vários lugares do Brasil e do mundo, em palcos como o Primavera Sound e o Prêmio Multishow, me faz pensar que tô chegando em espaços que eu não imaginava que pudesse quando eu comecei”, reflete Jonathan.

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