A música popular brasileira talvez seja o único espaço onde a luta de classes foi bem sucedida; talvez seja o único ambiente que não condiz com a estrutura racista da sociedade; e talvez seja o único lugar em que um menino negro, que viu a casa sendo demolida, consegue ascender e se tornar autor e porta-voz da própria história. Kayblack é uma contradição na história do Brasil. E sua liberdade para falar dos próprios afetos e paixões é uma contradição maior ainda. Mas é isso que ele faz em seu primeiro EP da carreira, chamado “Contradições”, lançado nesta sexta-feira, dia 31 de março.
Neste novo projeto, Kayblack reflete sobre os sentimentos mais profundos da paixão, da solidão e do desapego. Como uma jornada do herói, ele abre o álbum como se tivesse arrebatado por um novo amor, com as faixas “Desejos”, “Segredo”, “Preferida” e “Sal e Pimenta” (feat. Vulgo FK e Veigh). Mas, na segunda metade do EP, ele versa sobre a superficialidade da relação, a escolha em ficar sozinho e a vida agitada da fama, com as músicas “Superficial”, “Melhor Só” (feat. Baco Exu do Blues) e “C’est La Vie” – faixa bônus que explora as sonoridades do “Pula-Pula”, um novo gênero que o Kay aprendeu em viagem à França.
Com 23 anos de idade, Kayblack é uma referência na mistura do rap/trap com o funk. Isso porque ele começou na música aos 12, inspirado por nomes como Felipe Boladão e Neguinho do Kaxeta, ídolos nas periferias de São Paulo. Obviamente, nada seria fácil nessa jornada, e tudo logo se tornou mais complicado ainda quando a família foi despejada de casa, em 2017. Nesta época, Kayblack se dedicou ao seu irmão, MC Caverinha, que também é artista e se tornou um sucesso estrondoso na cena. Agora, Kay é artista do casting da Warner Music Brasil, modelo de campanhas para grifes de luxo internacionais e uma das atrações do Grammy Latino deste ano.