quinta-feira, novembro 21, 2024

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Mais uma vez, parte militante do hip hop quer retomar tempo e espaço perdidos

Entre os anos de 1996 e 1997, a violência do mundo da geração gangsta tomou conta do hip hop nos EUA e aqui no Brasil. As mortes de Eazy-E, Tupac, Notoriuous B.I.G., além da guerra verbal entre vários rappers, provocaram um intenso debate sobre a negatividade do rap.

Ronin Ro – jornalista das revistas Spin e The Source e autor do livro “Gangsta – Merchandising the Rhymes of Violence” – afirmou que o gangsta rap estava destruindo o hip hop.

Reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, de 1996, registra o pensamento de Ronin Ro: “no lugar de um fortalecimento da identidade dos negros americanos, surgiu um rap que celebrava apenas a morte. Não a dos brancos opressores, numa revolução racial, estilo black power, mas a dos próprios negros.”

Naquela época, aqui e lá fora, a discussão sobre a retomada das letras politizadas, positivas e combatentes por parte dos artistas do rap foi intensificada e gerou discos que tratavam de temas que não seguiam o caminho mais fácil do gangsta rap, que era sucesso comercial.

“Hoje em dia, o rap é um jogo de crianças adolescentes”, afirmou Wyclef Jean, em 1996. “Na época em que dizia ‘não me empurre, porque estou na beira do abismo (letra de The Message, 1982), era feita por adultos”, concluiu o então integrante do grupo Fugges.

As considerações de Wyclef continuam atuais, mas vivemos outra forma de esvaziamento no rap hoje. Ao invés da chuva de balas, temos rimas ligeiras ou vocais em ‘slow’, beats e clipes super-produzidos para mostrar o autoelogio, conservadorismo e total desdém com temas sociais e demandas das mulheres no hip hop.
bling bling

Vários artistas seguem a tendência e continuam no fluxo de desigualdade utilizando o argumento de que “todo mundo está fazendo isso”. Muitos não querem ser criticados, mas o hip hop também é ferramenta de questionamento. Parte da cultura de rua não está contente com os rumos do rap.

“Existem rappers considerando o efeito sobre a sociedade que suas letras têm?”, pergunta Larry Harris Jr., em artigo que aborda a misoginia no hip hop, texto publicado no site The Hunffington Post.

Aqui não é diferente, vozes contra a alienação ecoam e ganham força. “Não podemos mais admitir rappers ou MCs cantando a degradação da mulher, incentivando uma nova geração a se drogar, enfiando a sua verdade goela abaixo de qualquer um e deturpando a sigla ‘MC’ aqui no Brasil”, protesta Elly Pretoriginal, integrante do grupo DMN e colaborador do site Bocada Forte, em sua coluna.

Segundo Arthur Venturi Vasen, o que vemos, e o que a maioria dos blogueiros de rap nacional apontam, é o quanto o rap tem se desvinculado de suas propostas originais. “Surgindo como um grito das vítimas de racismo e do esquecimento do estado nos bairros da periferia de Nova York e, depois, das periferias do mundo, o rap pouco a pouco foi mudando de assunto”, conclui.

public enemy

O editor Noise D, desabafa em sua coluna no BF, “[o rap comercial de hoje] é o som do egoísmo, da putaria e do desinteresse, o som do materialismo e da modinha”.

Relembrando as origens do canto falado aqui no Brasil, o colunista Geysson Santos, diz que o rap nunca foi uma bolha dentro da periferia, porém, numa breve olhada histórica do nosso movimento, ele se colocava como um polo de subversão.

Ser comercial, vender muito, ser popular, nada disso é problema, mas o rolo compressor do rap que não respeita as origens do hip hop dificulta a atuação da ala mais politizada do movimento.

Em artigo publicado no ZonaSuburbana, Jair dos Santos Cortecertu fala sobre a necessidade de ter destaque na cena e o destino de quem escolhe seguir resistindo ao chamado do mainstream. “Sabemos que o show business domina e se faz necessário em várias situações, tendo em mente que a independência financeira proporciona a independência artística, mas também faz parte da engrenagem da indústria, onde as inovações são incorporadas e vendidas nas lojas e clones virtuais. Também sabemos como fica a situação de grande parte dos artistas que lutam contra essa lógica: vão para a gaveta, ficam invisíveis”, afirma o editor.

O fato é que mais grupos e artistas estão tentando fazer um rap diferente, mais ligado ao gueto e ao lado politizado do hip hop. Tempo e espaço precisam ser retomados, cabe aos blogs mostrar essa movimentação. Se o discurso sobre diversidade propagado pelos que dominam a cena rap atual for verdadeiro, eles não têm nada a temer. Um rap mais preocupado com a desconstrução de ícones, muros e símbolos de preconceito se faz urgente.

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