sexta-feira, novembro 22, 2024

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Maldita Consciência

Por Fábio Emece

Tava vendo um material de propaganda, um flyer, da companhia de energia elétrica daqui da cidade onde moro e me chamou atenção a figura de um preto. Um preto retinto retratado numa propaganda, nossa, que legal! Mesmo sendo colocado como um empregado comum, era preto e retinto.

Não me chamou atenção o fato dele ser preto, mas o retinto, sim, me chamou. Por que? A representatividade é um campo de discussão e quebra-pau nosso, sempre foi. E aí, até onde é válido apresentar um preto, uma preta? Como ela ou ele é apresentado? Como será a sua associação a partir da imagem? É o ponto chave.

Ou pelo menos um dos pontos, porque por mais crespos que expomos, o que sempre vai ser cobrado são suas ideias diante do crespo, certo? Não sei, encrespar já é um ato tão simbólico, carrega em si um sentido de belo que quase nunca quiseram que se entendesse, então qualquer cobrança além parece exagero. Não é exagero, precisamos ir além. Pra onde?

Entender que somos descendentes de Africanos. Tá, é um ponto. Entender nossa presença no território como fruto de uma política engendrada por um continente para com um outro. Uma política violenta, sanguinária e genocida. A Europa só se torna berço da Humanidade pilhando riquezas e corpos africanos. Opa, aprofundamos um pouco a questão.

O berço da Humanidade é berço depois da pilhagem e logicamente depois do processo, quem foi pilhado, violentado e aniquilado, os que sobraram do processo não serão vistos nem tratados como pessoas completas.

São fragmentos de uma tentativa de ser a perfeição, sendo que a perfeição se calçou saqueando, pilhando e assassinando pessoas. Tá bom, tá bom, to sendo repetitivo. Aqueles que enxergam o processo dessa forma são repetitivos.

Ser crespo e ter identidade, de onde se resulta e pra onde vai é o ponto chave, ou quase isso. Espaços, precisamos de espaços. Espaços para dizermos quem somos e sermos realmente livres e autônomos. Dizem que no dia 12 de maio de 1888 que os escravos cantavam “Liberto serei, liberto serei, mas o que é liberdade? Nem sei..”. Dois dias depois, se tornam quase 130 anos e ainda não descobrimos o que é liberdade.

Liberdade dos corpos, liberdade psíquica, liberdade do verbo, liberdade da melanina. Ainda não conhecemos e por isso que precisamos de espaço. Uns dizem que precisamos refundar os quilombos. Outros já estão refundando, mesmo não sendo no formato clássico, de Palmares, por exemplo. Só que somos todos descendentes de quilombolas.

Ser crespo, ter identidade e ter espaço é ponto chave. Ah, encruzilhada é fogo, os pontos sempre vão surgindo, não importa o quanto levantamos. Talvez seja o grande ponto chave, a nossa possibilidade real e irrestrita de levantar quantos pontos forem necessários para nossa liberdade tão sonhada.

Enquanto isso, a maldita consciência nos ocupa…

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