A vida de Mano Robson no hip hop é pura luta. Distante do mundo de views e provocações entre MCs que animam parte da cena rap, Robson faz sua arte ser aliada da militância. De Sampa ao nordeste, Mano Robson se jogou de cabeça no que acredita ser a verdadeira cultura de rua. Tentando realizar seus sonhos, o rapper passou por maus bocados aqui em São Paulo, foi nesse período que conheceu o descaso, mas também sentiu os efeitos da solidariedade do hip hop por meio da ajuda de Crônica Mendes, KL Jay e Nega Carol, entre outros artistas. Confira a entrevista abaixo, um exemplo de perseverança individual, mas com a mente no coletivo.
ZS: Como é sua correria no rap? Arte e militância caminham juntas?
Mano Robson: A minha correria no rap atualmente é fortalecer os novos grupos com os meus contatos dentro e fora do estado, trazendo oficinas, militantes e artistas de outras regiões. Infelizmente ainda não temos capital necessário para promover grandes eventos como os de São Paulo e outras regiões do Brasil. A arte e a militância na minha vida, na minha carreira de 13 anos, sempre andaram juntas, faço shows tanto aqui no Maranhão como no Piauí, assim também como ministro oficinas de rimas, montagem e manutenção de computadores para jovens em situação de riscos.
ZS: A cena em sua região é forte? Existem casas de cultura e centros comunitários ligados ao hip hop?
Mano Robson: Na minha região o Hip Hop, não é muito forte, têm surgido alguns grupos de rap mais precisamente, nesse ano de 2016, destaque para o Rapper JB, que lançou o clipe “Guerra em Codó”, que retrata o cotidiano sofrido da população periférica, pobre e preta de Codó, totalmente invisibilizada por seus governantes. Ainda somos enquadrados nas ruas por puro racismo por parte dos porcos de farda, falar a verdade de forma nua e crua é praticamente um crime, a liberdade de expressão, nunca foi e não é respeitada. Não existem infelizmente, casas de cultura e nem centro comunitários ligados ao Hip Hop, na minha região a casa mais próxima, fica em Teresina no Piauí, que é a Casa do Hip Hop, onde se grava, produz, mixa e masteriza.
ZS: Você veio pra São Paulo divulgar seu CD. Fale um pouco sobre essa experiência. O que rolou de bom e ruim naquela época?
Mano Robson: Sim, foi a terceira vez que eu fui a cidade de São Paulo, minha terra natal, a primeira foi no ano de 2005 , participei da Teia Cultura, onde homenageamos o guerreiro militante rapper Preto Ghóez. A segunda vez foi em 2009, fui a convite de a ONG Ação Educativa realizar palestras e shows na Fundação Casa, com o propósito de divulgar o meu primeiro CD Mano Robson Nascido Pra Guerra. Mas a ida à São Paulo, que mais marcou a minha carreira foi no ano de 2015, onde fui divulgar o meu segundo CD Mano Robson Cotidiano das Ruas, gravado no ano de 2014.
Inicialmente eu fui para casa de uma mina lá na zona oeste, consegui ficar por lá durante duas semanas, tivemos um pequeno desentendimento e eu resolvi sair do apartamento dela. Até aí, tudo bem,o problema foi pra onde ir, já que mesmo conhecendo muita gente em São Paulo, todo mundo têm a sua vida particular, liguei no meu grande amigo Israel Neto, da Vila Penteado, expliquei a situação e ele me acolheu em sua residência até eu arrumar um local para ficar. Dando um rolê por SP, encontrei o Kléber Simões (Dj KL Jay), mais precisamente ali na Rua Augusta, trocamos uma ideia de mil grau, expliquei a minha situação de desemprego, falta de moradia fixa, foi quando ele me indicou um abrigo, para ficar por uns tempos e também me ofereceu uma ajuda financeira, falou que qualquer coisa que eu precisasse eu podia contar com ele, fiquei meio naquela tímido e falei, mano qualquer coisa eu te falo sim, ele ia pra um jantar ali perto com uns amigos seguiu em frente e eu fiquei dando umas voltas ali. A noite tava bem agitada como de costume naquela região, tava com uns CDs em mãos para vender.
No dia seguinte, eu fui até o abrigo Arsenal da Esperança, lá na Mooca. Para conseguir uma vaga, cheguei pela manhã, umas 10 horas, e permaneci la na fila até às 20, até que enfim consegui uma vaga, a partir daquele momento ali seria o meu novo endereço em São Paulo.
Já dentro do abrigo, consegui arrumar um emprego no Cambuci, em um Hospital chamado Cruz Azul (Hospital da Polícia Militar de São Paulo), agradeço à Nega Carol, de Ermelino Matarazzo, minha amiga de longas datas. Esses aí, foram alguns aperreios que tive durante a caminhada, tinha dias que eu chegava atrasado para entrar no abrigo e tinha que dormir na calçada. Mano, mó treta, pra quem nunca passou por isso irmão, vou te falar, têm que ser muito guerreiro.
Vamos falar das coisas boas, coisa boa foi reencontrar o guerreiro Crônica Mendes, um dos fundadores do grupo A Família, ele me acolheu em São Paulo como um verdadeiro irmão, me convidou para participar do Festival de Hip Hop da Fábrica de Cultura do Jardim São Luis, onde cantaram Ndee Naldinho, CTS, Facção Central, Edi Rock, DJ Kl Jay, Dexter, Tati Botelho e muitos outros.
Também fiz um pocket show na Batalha das Fábricas, também no Jardim São Luis, mais um convite de Crônica Mendes.
Com esse destaque em São Paulo, recebi um convite para realizar, na cidade de Codó, um projeto inscrito por mim no ano de 2010 chamado Hip Hop do Sertão, que realizamos no ano de 2011, com recursos do Prêmio Cultura Hip Hop Edição Preto Ghóez (Minc – Ministério da Cultura). A segunda edição desse projeto foi sucesso, realizamos oficinas de rap e grafite na Comunidade Monte Cristo, localizada no interior da Cidade de Codó Maranhão.
ZS: Está preparando algum novo projeto?
Mano Robson: Sim estou, um dos projetos, é o meu primeiro clipe da música “É cruel”, do CD Mano Robson Cotidiano das Ruas. Pretendo também gravar até o ano de 2017 dois CDs, um será intitulado Desabafo e Poesia, o outro Várias Fitas, Várias Tretas, Várias Bandidas, Vários Caguetas, também tenho um projeto com a minha esposa e companheira, Zayda Moraes, que será o lançamento de um livro de poesias, ela é dançarina e militante do Tambor de Crioula, assim como eu sou militante do Hip Hop, então está tudo em casa, vários projetos, faltando apenas recursos financeiros para concretizá-lo, estamos correndo atrás. Quem quiser conferir algumas músicas do Rapper Mano Robson o link é esse aqui, www.palcomp3/manorobson e Facebook: www.facebook.com/mano.robson.
ZS: O que acha da retomada que o rap nordestino, com as mudanças no estilo, e o que acha dos novos artistas da cena?
Mano Robson: Fico muito feliz em saber que o rap nordestino a cada dia, se profissionaliza e está cada vez mais forte, e que tem diversos destaques e referências espalhadas por todo o Brasil, como Nego Galo, Don L e Rapadura, e outros mais.
Na Bahia, Piauí, Ceará, a cena rap é bem forte, muitos grupos de rap, ótimos produtores como DJ Ptk, da Quilombolouco Beats, de Teresina, Erivan Beat Box ,de Fortaleza, e por aí vai.