Tornar-se expoente do encontro entre o samba e o rap, passar uma tarde com José “Pepe” Mujica, trabalhar e ficar amigo de Gilberto Gil. Estes são alguns dos (muitos) momentos marcantes na carreira do carioca Marcelo D2, convidado que estreia a nova temporada de entrevistas do canal de YouTube Papo de Música.
O rapper, cantor, compositor e diretor sentou para uma conversa com a jornalista e pesquisadora Fabiane Pereira e, fazendo jus aos versos questionadores que permeiam os quase 30 anos de sua carreira, falou sobre o cenário cultural, social e político do país, além de ter dado detalhes sobre a criação do elogiado disco “Assim tocam os MEUS TAMBORES”, lançado em setembro de 2020.
“A gente tá em 2021, não precisávamos estar discutindo se a ciência vale à pena ou não. Jesus, que isso!” exclama D2 ao mostrar indignação com alguns dos debates sociais que ocupam a rotina brasileira. Com discos que cravaram a cultura suburbana do Rio Janeiro na história musical do país, como A Procura da Batida Perfeita (2003), o rapper confessa que a atual situação do Brasil dificulta os seus processos criativos. “Artistas são pessoas muito sensíveis e se tocam muito por isso. Eu tive o meu período mais produtivo quando eu não precisava ficar lutando contra um inimigo. Minha arte era mais construtivista do que uma arte de combate”, explica.
Apesar de considerar que escrever é sempre [um processo] meio doloroso e que parece arrancar um pedaço dele, Marcelo D2 comentou sobre os laços que se amarraram por meio de seu álbum mais recente, “Assim tocam os MEUS TAMBORES”. “Foi um alívio poder fazer esse disco e não enlouquecer em casa ou, pelo menos, não enlouquecer sozinho”, destaca sobre a composição das doze faixas que trazem parcerias com Djonga, BK, Baco Exu do Blues, Tropkillaz, Russo Passapusso, entre outros. “Compor é um lugar solitário, mas eu tive muitos parceiros, muita gente que achou a ideia maravilhosa e falou ‘vamo nessa’”, completa. O projeto, inclusive, deve ganhar desdobramentos. “Eu não terminei, tô fazendo o volume dois. Ele ainda é um estudo sobre esse lugar que a gente tá. Pra mim, ainda não acabou a pandemia, tem mais de 4 mil pessoas morrendo”, reforça.
Seja no volume um ou nas ideias que está colocando no volume dois, por trás das câmeras ou pela certeira ponta de sua caneta, o recado de Marcelo D2 é claro: “quem não sair desse momento aprendendo alguma coisa, perdeu uma grande oportunidade [de reflexão]”. Após a participação do rapper, Fabiane Pereira recebe ainda em maio, no canal Papo de Música, o cantor e compositor Samuel Rosa, vocalista da banda Skank, e as cantoras Joelma e Mônica Salmaso.