“Diversão levada a sério”. A premissa de Chico Science, principal nome do movimento manguebeat, para definir a forma como enxergava a própria obra é uma das inspirações e ponto de partida para a mineira Mayí – integrante do coletivo feminino de hip hop Fenda – na criação de “Sedenta”.
O segundo single da sua carreira-solo, que chega acompanhado de um registro audiovisual, já está disponível em todas as plataformas de streaming pelo selo MacacoLab, braço da produtora A Macaco que produz o megafestival Sarará. Em uma fusão de sonoridades frequentemente marginalizadas, como o trap e o funk, a cantora e compositora dá sua contribuição para abrasileirar influências “de uma quebrada internacional” por meio de uma letra que tem como personagem principal a liberdade sexual feminina.
Feita em parceria com o DJ e beatmaker belo-horizontino Victor Vhoor, a artista do Aglomerado da Serra (comunidade de Belo Horizonte e a maior de Minas Gerais) condensa as suas vivências de quebrada e experiências que teve como mulher e bissexual para celebrar a confiança que tem, hoje, para falar de temas que ela percebe ainda serem tabus na sociedade. “Tanto a bissexualidade, quanto o prazer feminino e LGBTQIA+, são tabu até hoje. E a mensagem é sobre isso: autonomia pra falar dos meus prazeres sem medo”, conta.
A autonomia explícita na letra também é um dos elementos principais para as escolhas sonoras do single. Ao construir seu trabalho com a pluralidade de gêneros musicais marginalizados como ferramenta, Mayí escancara a independência desses ritmos frente à aprovação daqueles que não compartilham a mesma realidade. “A favela pode mostrar que não precisa do aval de nenhum juiz musical para realizar qualquer mistura que seja ou para escrever qualquer letra que seja”, declara a artista do selo MacacoLab.
O single, que dá continuidade a “Gritam-me” (ouça aqui), estreia solo de Mayí, é parte de uma série de lançamentos da cantora previstos para este ano. Com roteiro assinado pela própria artista, a produção audiovisual de “Sedenta” traz como protagonista um casal formado por mulheres e traduz em imagens a liberdade, o prazer e a autonomia feminina e LGBTQIA+. “Muitas vozes estão sendo silenciadas nesse momento. E, aqui onde eu vivo, a maneira de transgredir é essa: passar por tudo isso e seguir existindo sem esquecer dos prazeres que a gente também tem”, conclui.