Em 2012, os amigos Ecio Salles e Julio Ludemir uniram-se e criaram a Festa Literária das Periferias (Flupp), que se tornou itinerante e além de fomentar a leitura dentro das comunidades cariocas, também revela talentos literários, como é o caso da escritora Raquel de Oliveira, que lança no próximo dia 3 de maio no Festival Literário de Poços de Caldas, o Flipoços, o romance biográfico “A número um”. Ela participa da mesa “Os desafios de fazer uma festa literária na favela”, ao lado dos criadores da Flupp. A conversa será mediada pela jornalista Jéssica Balbino.
Na obra, Raquel conta muito sobre a própria vida e o que passou para hoje ser escritora, avó, formada em pedagogia. Quem se dispõe a ler o romane, depara-se com as memórias da escritora, que aos seis anos provou cola de sapateiro – a primeira droga – para inibir a fome. Aos nove, foi vendida pela avó a um chefe do jogo do bicho e aos 11 ganhou de presente o primeiro revólver. Anos mais tarde, chefiou o tráfico na favela da Rocinha, após a morte do namorado, o traficante Naldo na década de 1980.
De acordo com ela, escrever foi a fuga para a vida no crime. Após iniciar um tratamento para o vício em drogas, descobriu a poesia e em seguida, conseguiu completar os estudos. Raquel possui um livro de poesia e agora, com o romance, circula entre lançamentos, festivais e palestras. “O livro é a minha história e contá-la foi a forma de encontrar prazer, substituir o vício em drogas, me anestesiar de algum modo”, disse quando lançou a obra.
Agora, ela prepara-se para publicar mais um romance e dois outros livros de poesia, além de integrar o grupo de ‘Fluppenseiros’, que são frequentadores da Flupp e dos encontros com autores que ocorrem ao longo do ano em diferentes espaços do Rio de Janeiro.
Intercâmbio Flupp e Flipoços
A ideia da mesa é trazer para o debate “Os desafios de fazer uma festa literária na Favela”, com a participação dos criadores da Flupp, Ecio Salles e Julio Ludemir. A Flupp acontece desde 2012 e já passou por quatro diferentes comunidades cariocas e reuniu milhares de pessoas no público e diferentes atrações internacionais. Em 2016, recebeu o prêmio Excellence Awards, conferido pela London Book Fair.
“A Flupp surgiu para ser um espaço de formação de novos leitores e autores na periferia das grandes cidades brasileiras. No processo de formação já publicamos 10 livros e revelamos mais de 100 autores das periferias”, comentou Ecio Salles.
Ao lado dele, Julio Ludemir toca o evento, que realiza atualmente o Rio Poetry Slam, a primeira competição de palavra falada da América Latina, que reúne 16 países simultaneamente para competir na favela. Júlio Ludemir nasceu no Rio de Janeiro, mas foi criado em Olinda, Pernambuco. Nunca concluiu a faculdade de jornalismo, profissão que começou a exercer na época em que o diploma não era indispensável. Tem nove livros publicados. Uma crise de emprego aos 50 anos o levou a tornar-se produtor cultural, criando a Flupp.
Para Gisele Corrêa Ferreira, coordenadora da GSC Eventos, empresa que organiza o Flipoços, a mesa reforça a diversidade do encontro e o intercâmbio de informações. “O Flipoços tende a ser um festival plural. Admiramos muito a Flupp e o fato dela acontecer e mobilizar tanta gente numa favela. Queremos aprender também com eles, daí o convite para o Ecio e o Julio façam parte da mesa, ao lado da Raquel de Oliveira, que é fantástica, publicou através da Flupp, mas tem uma obra riquíssima a partir da própria história de vida”, destacou.
Programação
A programação do Flipoços 2017 pode ser conferida no site do festival www.flipocos.com e também pelas redes sociais na página Feira do Livro/Flipoços.