sexta-feira, novembro 22, 2024

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Murica mistura o boom bap com a música brasileira em “Sede”

MC integrante do selo Puro Suco lança o segundo álbum em carreira solo “Sede”. Há pelo menos dois anos ocupando lugar de destaque para além de Brasília, o rap de Murica chama atenção por valorizar a música e cultura brasileira, mas fugindo da estética do trap, estilo que tem dominado o hip-hop no país.

No início de julho (9), quando lançou “Sede”, álbum que segue o conceito dos instintos humanos também abordados no primeiro projeto (intitulado “Fome), o artista manteve o alto nível das produções, novamente assinadas por MK, parceiro de gravadora. O rapper começou a fazer sucesso ao participar das batalhas do Museu e do Relógio.

Ouça abaixo “Sede”:

Confira agora a entrevista com o MC:

– Este é o seu segundo álbum ambientado no conceito das necessidades humanas: o que te inspirou na criação desse conceito?

A própria existência. No corre de viver de arte, largar a universidade e fazer arte independente, eu me deparei com a fome várias vezes. Foi um pouco do meu orgulho jovem de querer conquistar as coisas, da minha ânsia, da minha fome.Isso fez eu juntar os meus e na raça conseguir matar essa fome. Decidi usar isso pra fazer arte, porque não ganhava dinheiro e nem comia direito. Já a sede, é como se fosse uma fome mais específica, uma necessidade mais sofisticada.

– Como a pandemia do coronavírus influenciou o seu processo criativo?

A pandemia me influenciou de forma que foi inevitável escapar da submersão do disco. Tudo realizado com o mínimo de contato com o exterior. Foi um trabalho totalmente feito sob efeitos da quarentena. É um trabalho bem caseiro e isso serviu para o processo ser mais intenso.

– O que pode revelar do próximo EP da Puro Suco, “Puro Suco e Os Astronautas da Cidade Satélite”?

É um projeto totalmente orgânico. Chama-se “músicas para liquidificador” porque mistura vários ritmos: rock, blues, reggae. Vai ser a nossa primeira experiência com banda também.

– Com a onda do trap e do rap acústico, considera que o boom bap perdeu atraência entre os MCs?

É um reflexo, isso sempre existiu no mundo da música. Enquanto o produto plastificado vai ganhando popularidade, o trabalho real vai ficando pra quem é real. Cada vez mais a vida fica tecnológica e menos real. A nossa fé de quem faz a música real não pode morrer, porque é aí que tá a matriz da arte que a gente acredita.

Creio que o boom bap perdeu a atraência, mas nunca perdeu a força. Quem continua ouvindo, continua mantendo viva a filosofia do “lado B” da música alternativa, da sujeira, do boom bap, do rap com as suas “características originárias”, digamos assim.

Foto: Henrique Correia

– Você tem uma parceria bem firme com o MK, que assinou a produção de seus dois discos. Como é a relação de vocês?

Minha parceria com ele é surreal, de muita intimidade. Quando fizemos música pela primeira vez, parecia que a gente já se conhecia há muito tempo. Hoje em dia, a gente mora junto com a galera da Puro Suco e o PG 400. Foi um reflexo da nossa vivência junto. Costumo dizer que a gente é um navio pirata, de resistência, fazendo nossa música do nosso jeito. É uma relação de muita sintonia, já nem me vejo criando sem ele mais. Diria até que é uma conexão espiritual.

– Sua música também faz referências a religiões de matriz africana: você é adepto de alguma delas?

Conheci a umbanda faz pouco tempo, mas já pratiquei capoeira antes. Sempre fui apaixonado pela música da Bahia, um lugar que ainda não conheci e tenho sonho de conhecer. Eu falo numa letra que “Fazer capoeira me mostrou que embaixo do mar tem areia. Quem me dera aprender a jogar angola lá na Bahia”.

E a capoeira me levou a frequentar a umbanda, que me abriu uma porta da espiritualidade que nunca tinha sido aberta. É uma religião que conversa muito mais comigo, não sei se tem alguma coisa a ver com ancestralidade, mas sinto algo muito verdadeiro, acho muito bonita a experiência.

Ultimamente tenho me relacionado bastante com a umbanda, estudando os orixás, sobre os iorubás e os costumes.

– Qual foi a importância das batalhas de rap pra sua formação como artista?

Toda! Acho que todo mundo que se envolve com rap e hip-hop tem que passar em algum momento pelas batalhas de MCs. Ela ensina a ética da rua do jeito mais aplicado possível, é um dos movimentos mais libertários que existe. Você ocupa uma praça, põe uma competição de palavras pra ver quem rima melhor, que te faz aprender a lidar com a sua emoção.

O cara manda uma rima que acaba contigo e você tem que se superar, engolir o seu ego e inventar uma rima melhor que a dele.

Parece uma batalha de ego, mas na verdade você tá aprendendo a lidar com o seu próprio ego. É lá que você aprende a ética de rua, o que é respeito, ter cuidado para rimar sobre certos assuntos, respeitar as minas que tão na batalha, carregar umas caixas de som nas costas pra fazer o evento acontecer… É o tipo de experiência que todo artista de rap deveria ter no currículo.

– De Quinto Andar a Caetano Veloso e Tim Maia, suas letras costumam fazer referências a artistas nacionais. Com quem gostaria de gravar, se pudesse?

Putz, muita gente. Sem dúvidas seria Cazuza e Caetano Veloso. Também o Jorge Ben, Elis Regina, Los Hermanos… Seria meu sonho gravar com qualquer um desses artistas.

– A cena de Brasília é sempre surpreendente e criativa: além do seu trabalho e dos colegas da Puro Suco, destaca o trampo de mais alguém?

Recomendo Semblunt Mc’s, Pedro Alex, Jean Tassy e O Plantae.

Por: Victor Costa

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