Mxntxr, rapper de Aracajú (SE), concedeu entrevista exclusiva para o ZonaSuburbana. Contratado da Alive Records, o MC falou sobre a sua carreira e o cenário atual do rap do nordeste. O artista também falou sobre a polêmica envolvendo “Sulicídio”, de Diomedes Chinaski e Baco Exu do Blues, além de dar sua opinião sobre as diferenças entre o rap dos anos 1990 e o rap de hoje. Mxntxr abordou as lutas do movimento feminista, do movimento negro e do movimento LGBT.
Tendo lançado recentemente o EP “América Latina”, Mxntxr é um assíduo defensor do cenário nordestino do rap nacional. O MC alerta: “Existe uma barreira e essa barreira só vai ser quebrada quando o produtor, o artista e o público nordestino começarem a se respeitar, valorizarem uns aos outros”.
Confira a entrevista:
Mano, a primeira pergunta é meio tosca, mas é muito real, que é: como se pronuncia o seu nome? Seu nome artístico? É M-X-N-T-X-R? Tem outro jeito de falar? Porque a gente, no Zona, ficou pensando “nossa, como será que se pronuncia o nome dele?”. A gente não sabe se, na fala, está falando certo. Como que é isso?
Mxntxr: (risadas) Boto fé, po. Então, teve um tempo que da minha vida que estava vivendo mais na rua. Tava mais no movimento underground. Tinha acabado de perder um tio que, na real, sempre vi como pai – porque meu pai não me criou, fui criado a vida toda só pela minha mãe. E minha mãe não tinha pai e nem mãe, porque já tinha perdido. Então ela viveu mais sozinha, comigo e minhas duas irmãs, tinha esse tio meu que saiu muito comigo e me levava muito pra rua, pros lugares que ele movimentava, e sempre, como eu era menor, sempre que não me sentia bem fazia charme, pedia pra ir embora. E teve uma época, teve uma vez, que um colega dele me chamou de “mentor”, tá ligado, por dizer que sempre conduzia onde eles iam ficar independente de saber o que tava fazendo ou não. Sempre dizia “Ah, vamos sair daqui”, sempre moiava o bico dos caras. Aí ele me chamou de “mentor” uma vez e aí foi que gostei. Sempre dizia pros meus amigos que eu era o Mentor, brincando. Aí quando foi isso no Rap, a uns três anos atrás que comecei a fazer rap, aí comecei a me chamar mesmo de Mentor.
Poucas pessoas me chamavam, só os mais íntimos mesmo. Aí me nomeei, foi o que pegou. Quando fui lançar o “América Latina” tirei “E” e o “O” e botei o “X”. Só para dar esse impacto mesmo, pra pessoa tentar saber mais do que o meu nome, procurar saber quem sou de verdade e não só dizer “Ah, escutei um som desse Mentor aí, sou fã dele”. Foi uma parada para as pessoas tentarem conhecer mais do que o meu trampo. E quando forem pesquisar por um som meu no YouTube se botasse “Mentor” ia aparecer altas coisas, se botar com “X” já aparece meu som direto.
Da hora, mano. E nesses rolês com o seu tio, foi aí que você entrou em contato com o Rap ou não? Como que foi isso?
Então com o Rap tive um contato desde cedo. A gente sempre morou em bairro bem humilde. Nesses bairros sempre toca rap, um Racionais das antigas. Só que não sabia que o bagulho era Rap. Não entendia nada de música, na real. Não sabia diferenciar estilos musicais. Na real sabia mais ou menos o que era Rap e Forró, que é o que rola aqui. Rap, Forró e um Pagodão. Mas sempre gostava, sempre conseguia só ouvir o Rap que na época era SNJ, que meu tio tinha me dado um CD, Racionais…E o único contato que tinha com o Rap era escutar. Nesse tempo meu tio se envolvia com o crime e, querendo ou não, acabou me influenciando um pouco nessa parte da minha vida, a me envolver com isso…Mas foi quando, em 2013, que ele morreu que me afastei dessa vida definitivamente e comecei a fazer Rap definitivamente.
Putz, mano, sinto muito pela perda do seu tio. Muito mesmo. E, do Rap, você disse que tinham vários estilos aí que bombavam e você acabou se identificando com o Rap mais pela questão do crime, pelas suas experiências na vida. E de onde que veio a vontade de começar a rimar?
É, foi isso mesmo. Sempre escutei quando era guri e me identificava com as ideias do Mano Brown, tal, pelas ideias que ele dava da Dona Ana, e porque sempre quando eu chegava em algum lugar estava tocando. E desde moleque sempre pense “Nossa, queria poder saber fazer isso”. E, por coincidência, em 2014 foi quando vi uns colegas meus, que rimavam das antigas, um deles me chamou pra fazer um freestyle brincando e, por coincidência do destino, do universo, fiz um freestyle que lembro até hoje que durou 2 minutos! Sei lá, foi um bagulho surpreendente para todo mundo. Até fiquei pensando “Porra, sabia fazer isso e não sabia!”. Aí foi quando comecei. Esse amigo até hoje não lançou. Por coincidência também, por ironia, o grupo dele se chama Arsenal Suburbano. Mas até hoje eles não lançaram som nem nada, mas me serviram como pontapé de algo que está começando mas vai vingar.
2 Minutos de freestyle! Mandou muito! Mas então, antes da entrevista a gente estava conversando um pouco sobre as diferenças que você sente quando você começou a rimar lá pra 2015, no começo de 2015, e agora que você acabou de lançar sua mixtape. E como que é isso? Como você vê essa diferença? Você falou que sentiu uma evolução, como é isso?
Foi um bagulho bem natural. Comecei a evoluir de fato quando comecei a gravar com a galera da Alive Records. Nem conhecia os caras direito e gravei meu primeiro clipe com Maeed que foi “Crime Tropical”, depois “Ascenção”, meu segundo clipe com Pixaim, aí veio a parceria com Avicena e Maeed, “Jungle”, outra parceria “Contrapeso”, com Maeed e Rakavi e “Tempo Nublado”, que foi meu primeiro som solo e com o primeiro clipe solo oficialmente, que faz parte do meu disco “America Latina”. E foi uma parada muito natural, que nem percebi muito. Só depois que parei, ouvi meu disco pronto e percebi que evoluí muito em questão de técnica de escrita, no que queria passar mesmo, passar com mais clareza. E foi uma parada que para mim foi o maior progresso, a maior realização da minha vida foi ter lançado esse CD.
Antes de sair tinha escrito três ou quatro discos a vida inteira – só que não saiu nenhum som desses. Na real saiu um som só que tem em um canal antigo que chama “Game Over”. Se você for pegar a data de lançamento e comparar com o som que veio depois, antes de “Crime Tropical”, você vai falar “Nossa, você evoluiu à vera”. E foi um bagulho totalmente natural. Comecei mais a me especializar como músico quando entre na Alive Records, que passei tempo integral no estúdio, até hoje passo bastante tempo da minha vida no estúdio, estudando, conhecendo outros artistas. Não só escutando o que ouvi a vida inteira (Racionais, SNJ) e comecei a escutar mais artistas novos, mais artistas de fora, comecei a escutar outros estilos musicais como Charlie Brown, Red Hot Chilli Peppers…E foi assim. Foi uma coisa que só conseguir perceber mesmo quando finalizei esse EP, pude perceber como tinha conseguido evoluir de uma hora para outra, em um curto espaço de tempo. Foi por estar fazendo o que gosto e nem percebi que estava recolhendo conhecimento.
E da onde que veio a ideia de você abordar o tema da América Latina? Que é um tema que para muitos rappers brasileiros acaba passando muito batido. Eles acabam olhando pra realidade da própria cidade, do bairro ou Às vezes até do país mas, da América Latina realmente é uma coisa mais difícil. Então de onde veio a ideia de abordar esse tema na sua mixtape?
Cheguei a conhecer vários rappers. Conheci o Dalsin, o DonCesão, vários outros que não estou lembrando o nome… Mas todos eles, sem exceção, lançaram a primeira mixtape falando sobre a vida deles, sobre a realidade da quebrada deles. Vira e volta, um ou outro falava sobre a realidade do Brasil em si. E já tinha essa ideia de fazer meu primeiro EP, meu primeiro CD, o que quer que seja, de não sair falando sobre a minha vida, sobre o que aconteceu comigo até ali. Sempre acreditei nessa parada de que nada é em vão. Tudo que aconteceu na minha vida foi por um propósito. E, quando vi que todos eles sempre falavam sobre a mesma coisa no meu primeiro disco, no primeiro som, que eles falavam sobre a realidade deles, sempre batendo na mesma tecla, pensei “Como posso fazer para me diferenciar?”. Porque como já tinha dispensado alguns CDs, não queria fazer mais um trabalho que seria só mais um. Queria lançar alguma coisa que, para quem ouvisse, fosse impactante. Então depois de estudar, de escutar todos esses discos, peguei e pensei em tudo isso e resolvi que iria estudar essas paradas de tipo, outros rappers não só brasileiro.
Conheci até alguns rappers de Portugal. Vi que a realidade é uma só. Muita corrupção, muita droga, muita violência e o povo de cabeça baixa. Comparei nossa realidade com a realidade do México, Argentina, Colômbia são pontos de vista diferentes, mas a realidade é a mesma. Então lancei esse CD para não só falar de mim, para em nome de todos os latino-americanos que sofrem com a corrupção, que sofrem com a violência e que sofrem com tudo isso que a gente sofre no Brasil. E se você for parar pra pensar não é só o brasileiro que sofre com a corrupção e com essas coisas.
E por quê você acha que é importante a gente se juntar com os outros países latino-americanos? A gente tem uma realidade próxima, então por quê você acha que é importante a gente fazer essa parceria?
Pelo fato de nós termos os mesmos problemas e de não conseguirmos resolvermos os próprios problemas. Se nós conseguíssemos nos unir em uma revolução para resolver aqueles problemas seria mais fácil de conseguirmos resolver. Resolver a hemorragia que a corrupção deixou aqui e nos países vizinhos. Então se nós, como um todo, e nossos representantes fossem honestos e lutassem contra a corrupção e o crime, seria mais fácil achar a solução para tudo isso. Resumiria minha resposta: a união faz a força – seria a resposta mais complexa.
E hoje como você enxerga seu som. Se você pudesse destacar mensagens que você gostaria de passar para os seus fãs, para quem acompanha seu trabalho, quais seriam?
Independentemente de tudo, o que mais quero passar no meu som é liberdade e ser digno, ser livre e se aceitar como é. Não importa se é numa roda de rima, com seus amigos, com a mulher, com a família. O que importa é você ser você mesmo e fazer com que as pessoas te respeitem por isso. E acho que a maior revolução que pode vir do ser humano é a pessoal. Então o que mais tento passar é isso: liberdade, honra e a revolução pessoal. Não cobrar dos outros, cobrar de si mesmo.
Tô agora pensando um pouco pensando no panorama social do Brasil. Você falou um pouco sobre corrupção, violência urbana…O que você acha que o Hip Hop e o Rap tem que fazer para resolver isso? E o que mais você acha que o Hip Hop e o Rap tem que lutar contra?
No meu ponto-de-vista, o que o hip hop em si deveria fazer para combater esses problemas é o que o Racionais já faz desde muito tempo. Eles vem lutando contra essas mazelas no Brasil. Não só eles como o Criolo e o Marechal tem dado continuidade. Atualmente Criolo e Marechal são os exemplos perfeitos do que o hip hop pode fazer e faz para ajudar a sociedade. O problema principal é a corrupção. Pelo fato da corrupção fazer com que a saúde pública não exista, a educação pública não exista, que o crime no Brasil tenha uma taxa enorme…Acredito que o problema no Brasil é a corrupção. É a corrupção que faz com que os outros problemas se expandam, aumentem.
Acredito que se o hip hop fosse aquela parada que era no tempo de Racionais, que não era só os Racionais que lutavam pelo povo, pelo pobre, pelo preto, pelo gueto: tinha o Trilha Sonora do Gueto, tinha SNJ, vários outros grupos, Facção Central, Detentos do Rap e vários outros que não me lembro agora. Acho que tinha os únicos que fazem isso hoje em dia, de verdade, mesmo, no meu ponto-de-vista, de estar ali nas comunidades lutanto pelo preto, pelo pobre são Criolo e Marechal. E acho que se a galera que tá no auge agora, que tá chegando se espelhasse mais neles eu acho que muita coisa seria diferente. Acho que falta hoje no hip hop aquela coisa dos anos 90 de revolta, de ver o que está errado, de dizer que está errado mesmo…Por que, sem dúvidas, quero fazer meu dinheiro com o que amo. Mas antes de fazer dinheiro penso na minha família, nas pessoas que só o dinheiro particular meu não vai fazer diferença na vida dessas pessoas. Na real só vai provavelmente salvar meu Ego. Pra mim o hip hop deveria voltar naquela pegada dos anos 90 e mostrar que o preto, o pobre que fazem o Brasil movimentar. Porque sem a classe pobre as usinas não se movimentam, as indústrias não se movimentam…Então se a classe baixa parar, o Brasil para. Se nós, na classe baixa, que não somos respeitados, porque a gente tem que continuar a se matar para encher o bolso da classe alta?
Então você fala sobre uma diferença do rap dos anos 90 para hoje. Por que você acha que essa diferença existe? O que aconteceu no meio do caminho que causou essa mudança? E, para você, quais são as principais diferenças entre o Rap dos anos 90 e o Rap hoje?
Então, antes de entrar na cena da minha cidade de fato, antes de fazer rap, via o Rap de uma forma diferente, antes de saber como aconteciam as coisas por detrás dos bastidores. Achava que o Rap era uma causa mesmo, uma forma de você expressar o que você sentia. E quando entrei na cena mesmo, é muito ego, tá ligado? Uma parada de muitos alí dentro quererem ser mais que o outro. Em muitas vezes até quem diz ser seu irmão fica chateado se você for citado em algum lugar e ele não. Acho que foi o ego que desviou um pouco o caminho da luta, da causa que existia nos anos 90. Então acho que o ego do homem é um dos piores males do Rap. Não dizendo que esteja imune desse ego, porque as vezes esse ego me segue. E o que acho que mudou mesmo foi isso: foi o ego que desviou o caminho um pouco. Mas ainda existem MCs que se preocupam um pouco com a causa e deixam o ego de lado. E acho que foi a causa mesmo que sumiu nos anos 90: aquela causa, aquela luta, aquela revolução de se importar com o outro. Foi o que morreu mais nos tempos atuais e o que está mais dando vida é o ego.
E você acha que é possível ter alguma unidade no movimento no hip hop, no Rap? Você acha que existe essa unidade que nos ajudaria a encarar essas lutas todas? Como fazer isso?
Uma pergunta interessante…Gostei pra caralho dessa. Vou sem bem realista e sincero: acho que já existiu mas não existe mais.
E porque você acha que não rolaria uma unidade no hip hop hoje?
Pelo fato do ego estar foda hoje em dia, estar enorme, geral tá pensando mais em si próprio. Ninguém pensa mais no todo. Ninguém pensa mais na pessoa que está do lado. E chega vezes em que caras dessas gravadoras aí até com o irmão do lado ele tá buscando competitividade, está buscando ser melhor. Então como que rolaria uma parada dessas de uma unidade do hip hop voltada aos problemas que a gente estava falando, se ninguém se importa com o todo? Se geral tá só pensando em si?
Voltando um pouco, a gente estava falando sobre as questões sociais do Brasil e em como o hip hop deveria ou poderia se articular contra essas coisas. Outra pergunta é como você encara hoje as novas demandas sociais com o movimento feminista, com o movimento negro, com o movimento LGBT que estão aí reivindicando direitos e puxando novas pautas dentro do Hip Hop? Qual sua postura frente a tudo isso?
Porra mano, acho o movimento feminista, o movimento negro e o movimento LGBT muito foda. Essas pessoas estão aí 24 horas por dia lutando contra preconceito, contra um sistema que é voltado a favor das pessoas ricas. E é só ser realista: o Brasil é um país muito preconceituoso. Se a pessoa não seguir o padrão, tá fudida, o sistema pisa mesmo e é isso. Acho que tá faltando isso no hip hop, esses corres. Tá faltando pra caralho. Mas acho que nesse último ano agora, em 2016, deu uma ascensão um pouco maior. Voltou um pouco mais desses movimentos. Você vê MCs gays, antes era difícil pra caralho. Vê MCs mulheres, feministas até o talo, reivindicando. Vê o movimento negro também crescendo pra caralho. Recentemente tenho visto muitos MCs abordando esse tema que antes achava falho falar disso. E porra, acharia foda se todos esses movimentos se unissem ao hip hop e crescessem dentro do hip hop.
Outra pergunta, nessa sequência, é sobre o Rap Nordeste que estava um pouco sumido: não porque a galera não produz música, mas porque a repercussão que ele tem aqui no Sudeste (SP/RJ) não é como a gente gostaria. Mas depois do Chinaski e do Baco Exu do Blues, com o “Sulicídio”, ele deu uma sacudida na cena. Então que balanço você faz do Rap Nordeste? Como a galera tem se relacionado com o Rap do próprio Nordeste? Como você encara essas discussões?
Então a produção do Rap Nordestino, tenho certeza que o Nordeste produz o dobro do Sudeste. Sem contar na diversidade, na lírica que parece que morreu no Sudeste e que poucos MCs parecem reconhecer isso. Se vê no Sudeste muitos MCs repetindo as mesmas paradas, abordando sempre os mesmo temas, falando sempre sobre os mesmos assuntos, sempre as mesmas coisas chatas, sempre as mesmas técnicas. E por enquanto o Nordeste tá ali tentando quebrar uma barreira que parece que sempre que quebrou, na verdade não quebrou. O RAPadura veio parece que tinha quebrado a barreira: não quebrou. Don L quando chegou com a mixtape parecia que o cara tinha quebrado a porra da barreira, mas não quebrou. Diomedes e Baco, agora, geral acha que eles quebraram a barreira, mas vai ser outra ilusão, tá ligado? Enquanto o Nordeste não se unir como um todo, a gente não vai quebrar essa barreira. Não adianta a gente só ficar visando “Porra, os caras do Sul tão fazendo um show”. Mas e aí? Porque a gente só traz esses caras para cá então e não estamos valorizando os nossos artistas? Porque os produtores nordestinos não estão valorizando os artistas aqui de dentro? Por que o público nordestino não está valorizando o seu artista? Só visa quem tá fora. Pposso citar vários exemplos aqui na cidade. Se botar um cara de fora o bagulho fica louco, lota. E quando é os artistas aqui da área o show enche mas não na mesma proporção. E tá enchendo agora porque a algum tempo atrás, no início de 2016 tava triste. Tava osso viver de Rap.
Hoje iluminou um pouco mas continua a mesma coisa. Existe uma barreira e essa barreira só vai ser quebrada quando o produtor, o artista e o público nordestino começarem a se respeitar, valorizarem uns aos outros. E esquecer um pouco o sudeste. Porque, para ser sincero, se eu for viver de Rap, vou viver de Rap daqui onde eu moro. Vou fazer Rap onde for, mas não vou sair da minha cidade. Não vou fugir daqui. Vou bater de frente até isso virar, até acabar as minhas forças. E referente ao Chinaski e ao Baco, sem dúvida são dois MCs foda. Porém a técnica que eles usaram não usaria, mas não critico. São realmente muito superiores a muitos que estão no mainstream mas usaram de uma técnica que não posso julgar errada, porque não sei a situação dos caras, não sei do psicológico dos caras referente a essas paradas. Até onde eu sei o Diomedes é pai e naquela neurose ali pra fazer o bagulho virar. Não faria, no momento. Não desmereceria o corre de outras pessoas para valorizar o meu. Se o meu corre é mais do que o de outras pessoas, to dando o meu máximo, isso já basta.
O que você acha sobre isso, no Rap Nacional, sobre as diss tracks? Como você enxerga esse fenômeno?
Acho um bagulho foda pra caralho para movimentar o mercado e tirar os MCs da Zona de conforto. Faz o cara trabalhar em novas técnicas, novos assuntos. Vamos dizer que, na maioria das vezes, a diss é um puxão de orelha para o que o MC está fazendo. Muitas vezes é por inveja mas, na maioria das vezes, é um bagulho foda pra caralho. Da mesma forma que foi o “Sulicídio”. Só acho que foram erradas algumas palavras, algumas paradas, por que eles usaram isso para subir. Mas se os caras estiverem no mesmo nível, acho um bagulho foda pra caralho. Falando em Diss, a do Dalsin em resposta ao “Sulicídio”, que bagulho louco. Não mudaria nada, só punchline.
E o que você pensa agora sobre os novos passos da sua carreira? O que você pensa a curto, médio e longo prazo?
Para curto prazo, estou com uns planos de lançar outro EP agora no final de fevereiro. Até lá vou lançar três clipes do “América Latina” e depois desse EP de Fevereiro vou lançar outro clipe completo no final de 2017. E vou buscar expandir mais meu som, tentar buscar mais conexões. E no momento é isso.
Para gente encerrar, daqui 30 ou 40 anos, quando você olhar para trás, o que você gostaria de ver que contribuiu para o Rap e a cultura Hip Hop? Que mensagens você gostaria de ter deixado na galera? Como você se enxergaria?
Acredito que pelo fato de correr muito atrás de liberdade, preservar a liberdade e me aceitar como sou e escutar muito que meu som provoca isso, o que gostaria de me orgulhar daqui 30, 40 anos é de poder deixar sempre a mensagem de podermos ser o que queremos ser. E se a gente se aceitar como é, isso é uma vitória maior. Porque o resto é consequência. Então é como se fizesse um rap para quebrar qualquer tipo de barreira que existe, que possa existir e que permita todo mundo ser quem quer ser. Então acho que é isso.