Ser brasileira é nascer em meio a uma imensa mistura cultural, um país que construiu sua história em meio a invasão portuguesa, a extinção de povos e suas tradições, viveu a escravidão a pleno vapor e se constituiu uma nação sem ancestrais. Nesse Brasil que conhecemos, a miscigenação se traduz apenas pelas dimensões continentais e não pela cultura do povo nativo. É nesse contexto que a rapper Souto MC lança seu primeiro álbum, “Ritual”, que só foi possível através do edital Natura Musical 2018.
Sim, uma mulher indígena que cresceu no maior centro urbano do país, ascendente do povo Kariri por parte de pai, Souto nos últimos anos busca fortalecer o contato com os povos indígenas que ainda vivem no estado de São Paulo e fora dele. Um resgate da sua história, a valorização da ancestralidade, da sua herança, saber de onde veio para responder questões que sempre se fez ao longo da vida.
Para Souto MC esse disco “Ritual” é muito mais que um divisor de águas, é uma trajetória em que fortalece suas rimas, a potência do rap feminino autoral e, mais do que nunca, amplifica si mesma. Souto já imprimiu sua identidade ao alcançar o Top 10 com a música “Selena” no canal mundial Genius.
O processo de descobrir de onde vem, para a MC é a possibilidade de responder aos grandes questionamentos que surgiram desde suas primeiras rimas. E agora se configura através da expressão das descobertas ancestrais em contraponto à vida na maior cidade da América latina. Para Souto, esse álbum é oportunidade de dar mais visibilidade aos povo indígenas, lançando luz aos contraste com a vida urbana.
“Ritual” apresenta 8 faixas autorais inédita e contará com participações e convidados que fazem parte da história da rapper, um dos convidados já confirmados são Pedro Netto, pai da rapper que abre o disco com uma poesia, Nenê Cintra interpreta a música “Altamira” (composição Souto e Giovani Felizate), Bia Ferreira participa em “Festa e Fartura”, Kunumi MC, Rodrigo Ogi na música “Rezo”, Jean Tassy participa na faixa “Poente”. As músicas levam a assinatura dos produtores musicais Pedro Turra e Rafael Campanini do VERSO, braço fonográfico da produtora de áudio A-Gandaia com beats produzidos por Iuri Rio Branco e Ganga Prod. conceituando a produção artística.
O rap dessa mulher braba, como ficou conhecida, vai referenciar as cordas trazendo a regionalidade caipira, contemplar as batidas de instrumentos percussivos e toda essa mistura entre povos indígenas e negros que fazem do Brasil essa canastra cultural e trazer organicidade sonora em suas músicas. Antes do rap, Souto sempre contou com o samba como um lugar de origem e isso também estará registrado em seu disco inaugural.