É difícil saber o que escrever quando se fala de Nelson Mandela. Por um lado seu papel na história do mundo contemporâneo é tão grande, com tantas contribuições, que se fossemos escrever o básico, teríamos que escrever uma biografia sobre ele. Sejam influências propriamente políticas e sociais ou até mesmo culturais, Mandela sempre foi uma referência importante para todos que pensam na realidade da África do Sul, dos países africanos de modo geral ou até mesmo de todas as comunidades negras fora da África. Não só Mandela quis pensar em todas essas realidades, como as mais diversas pessoas, mesmo após sua morte, tem revisitado suas falas, seus discursos e lido suas biografias buscando inspiração e orientação política.
Para nós do rap, que desde os anos 1970 lutamos contra a desigualdade social e racial, sua importância é também enorme. E é difícil não olhar para a influência dele e de outros líderes negros como Malcom X e Martin Luther King sobre a nossa história. Mesmo no Brasil, muitos rappers já declararam terem olhado e se inspirado na história de Mandela: de Mano Brown a Dumdum, de Criolo a Emicida, Mandela influenciou grande parte da nossa “velha guarda” e da nossa nova geração de rappers.
De forma muito resumida, é importante ao menos lembrar que Mandela se formou advogado e liderou uma série de movimentações políticas contra o Apartheid, o regime de segregação racial instaurado na África do Sul pelos descendentes dos colonizadores que estavam no país. Mandela então passou muitos anos presos até que, através de seus esforços, foi possível dar fim ao Apartheid. Em liberdade, foi eleito presidente da África do Sul e muitos críticos políticos consideram que sua maior conquista foi resolver muitas tensões raciais ainda existente no país e fundar, na paz, uma sociedade multiétnica. Mandela recebeu então um Prêmio Nobel da Paz e em 2009 a ONU decretou que o dia 18 de Julho é o Dia Internacional Nelson Mandela.
Como já dissemos, a influência de Mandela sobre a cultura e especialmente sobre o rap é impossível de ser falada em menos que um livro. Para comemorar o Dia Internacional Nelson Mandela desse ano, onde o líder se estivesse vivo faria 98 anos, separamos 2 raps que se consagraram por homenageá-lo.
O que mais ganhou destaque foi “Mandela” de Cyhi The Prynce. A música foi lançada em 2014, um ano após a morte do líder, e compõe a quarta faixa do álbum “Black Histori Project” do rapper que homenageia várias referências da cultura negra da contemporaneidade. Nessa música, Cyhi usa uma batida tirada das tradições culturais da África do Sul para prestar a homenagem. Assista o clipe, abaixo:
Outro tributo foi feito pelo grande rapper Rakim (mais conhecido pela sua parceria com Erick B.) em “Madiba”. O curioso dessa música é que ela foi feita em parceria com o público: Rakim, em parceria com a revista Complex, aceitou que seus fãs o enviassem versos para que ele pudesse usar na música que estava compondo. O resultado disso foi que grande parte da letra veio dessas sugestões de modo que Rakim adicionou algumas partes e combinou as diversas contribuições em um todo que fizesse sentido na letra. O resultado foi de arrepiar. Veja um trecho da letra: “Em 18 de Julho de 1918/ A graça divina trouxe que a vida precisava: um grande rei/ Que tentou trazer a paz, lutar contra monstros”. Ouça, abaixo, “Madiba”: