Por Fábio Emecê e Jair dos Santos Cortecertu
Existe uma grande parte do hip hop que representa ou foi representado pela velha escola, pessoas entre 35 e 50 anos que gostam de rap, mas não de tudo que é feito agora. Entretanto, procurar espaço para um rap adulto e que fale para os mais velhos não significa querer ensinar, doutrinar, dirigir, ou barrar os mais jovens.
Sabemos que um estilo musical não tem como ser monotemático. Falando sobre os quarentões do rap, a medida que o movimento envelhece, ouvintes envelhecem, experiências acontecem e formas de ver a vida se modificam, tanto pro artista quanto para o ouvinte. Em meio a tudo isso, os mais jovens da cena criam rupturas, dão continuidade ou inovam, tudo sob a lente de uma outra geração, com outros desejos e outras formas de expressar suas dores, alegrias e questionamentos.
Então seria uma lógica simples entender o rap dividido em nichos e um público procurando aquilo que lhe cabe, certo?
Nem tanto, até porque existe uma corrente dizendo que os velhos precisam ensinar os mais jovens a fazer rap de verdade. Perguntamos, ensinar o que? Somos uma costura de referências, influências e vivências e só por isso, as trocas se fazem válidas, mas nunca devem ser impositivas ou dogmáticas. Não dá pra dizer pra um mais jovem o que ele tem que fazer, seu conhecimento e a capacidade de compreender o que é bom pra ele têm que prevalecer.
E só por conta disso que o mais jovem dialoga com os dele, assim como os mais velhos precisam falar com e para os seus também. Um terreno próprio de assuntos, temas e levadas precisa ser entendido, algo além do “cada um no seu quadrado”.
O artista ou fã de rap mais novo não tem pudor em reverenciar os da sua geração. Os mais velhos não podem fazer o mesmo? Sim, podem e devem. Comparações e recortes sempre existirão, mas o dirigismo de parte dos mais velhos, essa ideia de mostrar de maneira agressiva como fazer o “verdadeiro rap” não é a melhor maneira de comunicar com os mais novos. Parece mais medo de estabelecer uma comunicação. Um medo infundado, com certeza.
Criar canais para entender o lugar da velha escola e a geração educada nos primórdios do nosso hip hop não significa fugir do debate e não criticar o atual cenário, a mudança também depende de conflitos e tensões.
Essa discussão também rola nos EUA, podem ser conferidas em reportagens e posts de sites como Hypebeast e Noisey, entre outros.
Quanto aos nossos blogs e nossa preguiça costumeira: existe disparidade de atenção por conta dos meios de divulgação, mídia especializada e tudo o mais? Sim, existe, até porque- além de qualquer coisa- existe o mercado e suas bolas da vez.
Podemos ir além além disso? Sim, podemos e devemos. Isso passa por pensar melhor rap em seus nichos e a possibilidade das pessoas acessarem com mais nitidez aquilo que lhes cabe, diminuindo a invisibilização de artistas por conta de não seguirem uma linguagem considerada ideal. Mudar a abordagem, abandonar a correria das redes sociais e suas bolhas ideológicas, essas coisas não acontecem de uma hora pra outra. Mas quem disse que parar para pensar é algo proibido?