“É trampo madrugada adentro e acordar cedo no outro dia. Pra 2017, eu tenho algumas coisas engatilhadas, tenho um single pra sair em janeiro e um disco que está no forno”, Buia Kalunga fala sobre seu jeito de trabalhar e planos para o primeiro semestre deste ano.
O educador da Fundação Casa e militante do coletivo Kilombagem, além das suas intervenções cotidianas nos movimentos sociais, manda uma mensagem de otimismo via enfrentamento em suas rimas. Numa mescla de ragga, spoken word e instrumentais que transitam em quebradas sonoras, ruas tensas e climas dançantes, o rapper – que já foi punk – mostra sua originalidade.
Em sua bagagem, Buia Kalunga traz hard core, ancestralidade da capoeira, experiência em escola de samba, envolvimento com o reggae, material implícito em seu rap, mas que escancara sua forma enraizada de fazer música. “Eu colava com os punks do ABC, passei pelo reggae. Já conhecia o rap, participei do grupo Amandla em 2007. Comecei a escrever rap em 2010, mas lancei meu primeiro rap em 2014”, afirma o eclético toaster.
Kalunga sabe bem onde está pisando, os tempos são outros, com outros discursos. “A gente não está mais nos anos 1990, o rap foi combativo na sua origem, até por necessidade. Atualmente, o rap não é mais assim. Tem gente que afirma que essa mudança veio com a tal ascensão da Classe C. Acho que é meio fantasioso, mas faz um pouco de sentido. Políticas sociais avançaram nestes últimos anos no Brasil e possibilitaram um poder maior de consumo pra Classe C, não que isso signifique uma ascensão social. Não acredito nessa história de nova classe média. Mas é fato, o poder de consumo aumentou, isso traz uma falsa sensação de inclusão, de que está tudo bem e de que não é preciso mais falar sobre questões sociais”, conclui o artista.
O racismo cotidiano e o trio Temer, Alckmin e Doria também preocupa Kalunga: “Com a direita ou com a esquerda, o chicote sempre estalou pros pretos periféricos”, comenta o rapper. Com visão crítica, o artista sabe que as coisas podem piorar com o conservadorismo político capitaneado pela direita.
O rap combatente de Buia Kalunga pode ser conferido nos clipes “A Cena”, com outro expoente da música preta, Ba Kimbuta, e “Para Onde Vamos?”, um convite para o mundo revolucionário e periférico. O rapper ainda lançou o single “O bom soldado”, com participação de Denise D´Paula. Se invadiram o território do rap com distorções na história da cultura de rua, Buia Kalunga faz de sua música o aviso de reintegração de posse.