Após quase 20 anos do lançamento de “Opala 71 Azul (Seis Bocão)”, sucesso nascido em Ceilândia, Distrito Federal, os artistas Kel, Nigreeen e Xavv homenageiam o clássico com a releitura “Opala 71 Azul Pt. 2”, que conta com a participação especial do grupo Tropa de Elite, compositor do rap original. A produção tem clipe oficial e o lançamento está disponível em todas as plataformas de streaming e no YouTube.
Composta a partir da vontade de valorizar os artistas que contribuíram para a consolidação do rap no Distrito Federal, “Opala 71 Azul Pt. 2” realça a importância da colaboração entre gerações do passado e do presente. “Nunca teve uma conexão da geração passada com a geração de agora e é desrespeitoso não conhecer quem da tua cidade veio antes de tu”, comenta Xavv, produtor musical do single.
Além da conexão entre gerações, a produção também firma o compromisso de consolidar a identidade do rap no Distrito Federal, como explica o cantor Kel “Eu quero contar essa história para quem não conhece o rap do DF e realmente ressaltar algo que é nosso, reforçar essa identidade. Tem muitas coisas que foram feitas aqui, que são de alta qualidade e que as pessoas não conhecem. Que a gente consiga criar uma identidade enquanto cena e que essa música possa contribuir para isso”, projeta.
Além disso, o trabalho pretende acessar a memória afetiva de milhares de pessoas que, assim como Kel, Nigreen e Xavv, viveram este clássico como hino de fases da vida. “Esse lançamento representa muita coisa, tanto em questão de arte como em questão de vida, da época em que eu era criança. A minha expectativa já bateu há muito tempo, desde que a gente se encontrou com o grupo. Então o que vier, já estou realizado pela forma como tudo aconteceu”, comenta Nigreen, que faz a primeira parte no clipe.
Sucesso que se explica
Referência não apenas no DF, como em todo o Brasil, Tropa de Elite marcou a cena rap dos anos 2000 com “Opala 71 Azul”. Lançada em 2004, a música nasceu em um momento em que o rap local era mais gangster, com a cara do gueto e mais politizado. De acordo com Marquim do Tropa, rapper, cineasta, ator multipremiado em sua participação em “Branco sai, preto fica”, e líder do Tropa de Elite, a música contribuiu para uma mudança no estilo das músicas produzidas a partir daquela época.
“A música do Opala revolucionou o rap do Distrito Federal, em termos de música mais dançante e melódica. O Tropa também faz parte da velha escola, só que a gente sempre misturou um pouco do R&B e do Hip Hop. Em 2004, quando fizemos a música, o cenário mudou um pouco. Veio um rap com mais melodia, misturando um pouco de músicas românticas e ostentação. De 2003 para baixo o rap era uma história, de 2004 para cima ele mudou. Hoje os rappers falam muito de carro, mulher, dinheiro, joias e a gente tem parte nisso aí, porque sempre falamos disso. A música do Opala foi tão revolucionária dentro do cenário do rap do DF, que ela foi para as rádios convencionais no 0800. Então tocava na Jovem Pan, 105, JK. Todos os lugares tocavam a música do Opala. Chegou a tocar até no Big Brother”, relembra.
O rapper também comenta a satisfação e alegria que sentiu ao saber da produção da releitura do clássico e ao ser chamado para participar da gravação do clipe. “A música do Opala tem várias vertentes: forró, underground, eletrônica e agora na versão trap, que é a versão que eu curto e que é a dos meninos. Então para mim foi uma grande satisfação, tanto que eu sou um cara que quase não participo muito de videoclipe dos outros, de música dos outros. Sou mais reservado, na minha, e eu participei do vídeo dos meninos, entendeu? O Edbugue falou: ‘É, se o Marquinho vai é porque ele gostou, ele é meio chato com isso aí’. Então eu gostei muito”, ressalta.
Ciente da importância de trocas entre as gerações do rap no Distrito Federal, Marquim concorda que deve haver referência a respeito dos mais novos para com quem veio antes. “A junção entre a nova escola e a velha escola, eu acho que isso deveria existir desde o passado. Graças a Deus os moleques vieram dessa sabedoria, dessa sacação. Quando eu falo velha e nova escola não estou tirando os meninos de tempo. Eu quero falar que o casamento da geração passada com a geração atual ficou legal. Eu penso que quando você respeita pai e mãe, você entra em qualquer lugar. Agora quando você não respeita, não vai para lugar nenhum. Então é como se fosse eles respeitando o pai da criação da música. Então eles vão longe”, elogia.
“Opala 71 Azul Pt. 2” sampleia os tradicionais riffs de guitarra de “Seis Bocão”, utilizando as vozes originais de 2004 e propõe nova versão na batida de Drill.
A releitura é uma produção do selo Obi Music e é assinada pela produtora audiovisual Mirante Filmes. A mixagem e masterização da faixa ficaram por conta de TAP, que possui, entre seus últimos trabalhos, os recentes álbuns de estúdio de Gloria Groove e Urias.