sexta-feira, novembro 22, 2024

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Para humilhar meu oponente, insinuo que ele é homossexual, mas não sou homofóbico

Vou ser direto. Não tenho nada contra os gays, apenas utilizo a rima em meu benefício. Preciso vencer meu adversário. No mundo competitivo do rap, eu sou verdadeiro, o outro é farsa. Sou maior, ele é menor. Ele é moleque, eu sou sujeito homem.

Seja no freestyle, seja em sons gravados, para provar minha superioridade lírica, insinuo que meu oponente é bicha.

Nem vem pagar de orelhada. Não fui eu quem começou essa parada de deixar de tratar assuntos sérios no rap. Quem abriu as portas para outros discursos? O rap fala de muitas coisas. Prosperidade, vitória, gozolândia e técnica também são parte do hip hop. Não venha dizer que tenho culpa, não é problema meu se novas tendências cobriram a ala combatente do que chamam de cultura de rua.

O rap é livre, eu sou livre, mas a sociedade quer me obrigar a aceitar certas paradas que vão além da minha visão de mundo, e meu rap representa minha visão de mundo. Carai, o preconceito está aí, está posto, muitos acham louco um verso em que ponho em dúvida a masculinidade de meu adversário, é isso que a galera espera. Os humoristas sempre dizem que tudo é uma piada. Então, o que faço fica só no mundo das rimas, longe de mim ser homofóbico.

Se o mundo é assim, por que tenho que ser tratado como vilão da história? Pelo contrário, esses guardinhas do rap, esse povo militante, até blogueiros e blogueiras chatos, todos vivem me perseguindo. Não posso nem expressar minha opinião. Que mal há em ser conservador nas ideias?

Essa ditadura cheia de heterofobia e cristofobia está acabando com a criatividade do rap. Parte do que falo está na Bíblia, porra! Minha opinião é certa e abençoada.

Chega! Cansei desse papo. Meu conceito de superioridade prejudica ainda mais os grupos que são inferiorizados na sociedade? Me diga quantos caras fizeram rimas questionando os efeitos da hipermasculinidade. Existe alguém que fez isso? Se fez, o cara venceu as batalhas, ficou famoso?

Muitos gays estão fazendo rap. Então apoie os caras, é melhor que querer me censurar. Eu rimo pra carai, mas os caras ficam presos aos trechos que falo que fulano ou siclano é boiola.

Num dia aí, um MC aí veio trocar ideia comigo, ele disse que quando chamamos as minas de vadias, podemos dar um migué nas explicações. Falamos que as rimas são para certos tipos de mina, não para todas. Até aí estava achando o cara mó firmeza.

Só percebi que o cara estava me tirando quando ele terminou de montar seu castelo. O cara disse: quando falamos que outro MC é viado, não podemos chegar com a ideia de que estamos falando de algum tipo de viado, estamos falando de todos os homossexuais e, ainda por cima, só focamos a questão do sexo, como se os gays não amassem, trampassem, vivessem, lutassem por dias melhores. Está explícito que valorizamos apenas a vivência dos heterossexuais, dos pica. Ser gay é ser inferior.

O mano ainda veio me perguntar: vamos continuar rimando e zoando os gays para nos sentirmos superiores?

Se fudê, né? Esses caras de esquerda cheio de ideologia.  Ainda querem falar sobre isso nas escolas! Carai!

Solta o beat, DJ.

(Apesar de ser uma ficção, o conteúdo desta coluna representa o que é dito por muitos artistas e fãs do rap e do hip hop. Utilizei um algorítimo de burrice artificial para gerar este texto)

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