O cabelo é uma identidade, um marco, cultura e tendência de moda. Por muitos anos o cabelo crespo foi visto como “cabelo ruim”. A nova era é marcada pelos enfrentamentos étnico-raciais.
Mais do que modismo, o penteado Black Power fortalece na medida que a compreensão do movimento no Brasil ganha mais força por meio do Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), dos EUA.
Para a escritora e doutora em educação Kiusam de Oliveira: “A importância de uma pessoa negra assumir as raízes africanas é uma maneira de salvar a identidade negra consciente, íntegra e saudável para combater o preconceito social da branquitude”.
A também autora dos livros “O mundo no Black Power de Tayó”, e do recém-lançado O Black Power De Akin, que conta a tristeza do coração de Akin, jovem negro de 12 anos, que cobre a cabeça com um boné ao ir para a escola. Ao seu avô, Dito Pereira, ele não conta que tem vergonha do seu cabelo, motivo de chacota dos colegas. Antes que Akin tome uma atitude brusca, o sábio avô, com a força das histórias da ancestralidade, leva o neto a recuperar a autoestima. Agora confiante, Akin ergue seu cabelo black power e se sente um príncipe, além do prefácio assinado pelo rapper Emicida.
Movimento Black Power
“O penteado Black Power, feito em cabelos crespos continua forte e entramos em uma nova fase que supera o modismo: os enfrentamentos étnico-raciais aumentaram em tempos de pandemia e quarentena e a compreensão de que corpo negro é corpo político”, destaca a escritora.
Em tempos de quarentena, mudanças de pensamentos, tendências de moda, novos hábitos e cuidado com os cabelos são assuntos retratados entre as mulheres com coragem pra mudar o visual, inclusive iniciando processos de transição capilar por conta própria. As pessoas estão deixando de alisar cabelo para assumir os cachos.
Até a década de 90 o preconceito era muito forte com quem deixava o cabelo natural. Kiusam conta que a professora de balé exigia que alisasse o cabelo para colocar redinha no coque e mais do que isso, se tornar a primeira bailarina. “Aos 12 anos comecei alisar o cabelo, com autorização da minha mãe, e na escola disseram que eu apenas havia gastado dinheiro e esforço, porque jamais deixaria de ser negra a fim de alcançar o destaque na companhia de dança”, conta a doutora em educação.
Apesar de sair de moda nos anos 80, o afro voltou com força total no começo do século 21. São quase 70 anos na luta da afirmação de estética como identidade, em que o cabelo e sua naturalidade sobressaem aos padrões de beleza ocidentais para se afirmar como instrumento de resistência e cultura. Nesse contexto, seja na política ou nas artes, o black power foi e é um símbolo que transcende as fronteiras da beleza e significa para o negro o resultado da luta de seus antepassados e também a determinação em manter viva a identidade de quem lutou pelos seus direitos. Na busca de direitos, cabelo é identidade e é também um símbolo de respeito.