sexta-feira, outubro 18, 2024

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Pesquisa: 85% das mulheres na música já sofreram discriminação, revela levantamento da União Brasileira de Compositores

Um levantamento que ouviu mais de 250 autoras, cantoras, produtoras, intérpretes e profissionais do setor da música do Brasil ilustra a gravidade da discriminação e do assédio na indústria. A edição 2023 do relatório do “Por Elas Que Fazem a Música” — uma iniciativa da União Brasileira de Compositores (UBC) — revela dificuldades e experiências pessoais de mulheres dispostas a contar em detalhes a realidade de um meio que é silenciosamente hostil a elas.

Prova disso é que 85% afirmaram ter sofrido discriminação de gênero em algum momento da sua carreira. Muitas deixaram depoimentos sobre pequenos e grandes embaraços ligados ao simples fato de serem mulheres — e você poderá ler alguns deles no final deste texto.

Outro dado alarmante é o de vítimas de assédio na indústria musical. 76% das participantes contaram já terem sofrido algum tipo de assédio no meio. Entre os dias 16 e 29 de março de 2023, 256 mulheres responderam ao levantamento, disponibilizado nas redes sociais da UBC através de um formulário digital.

“A UBC apresenta um relatório de grande importância para o mercado fonográfico, que vai além e é também um retrato da sociedade. Um olhar profundo sobre a realidade da profissional mulher, musicistas, compositoras, intérpretes, produtoras, neste lugar. Os dados e os relatos mostram o quanto ainda estamos como mulheres, erroneamente, sendo vistas e tratadas. O relatório é mais um importante passo a ser dado rumo a um futuro mais justo para todas as mulheres do mercado. É preciso, precioso, esclarecedor, inteligente, impactante e empoderador. A UBC tem o compromisso e segue acreditando na inclusão, diversidade e principalmente no respeito entre todos, entre profissionais e no protagonismo feminino, em busca de equilíbrio e equidade.” afirma Paula Lima, autora, cantora e presidente da UBC.

Seguindo as classificações do IBGE, a maioria das participantes da pesquisa se identificou como branca (67%), seguidas de pardas (18%) e pretas (13%). Participaram também mulheres indígenas (1,5%) e amarelas (0,5%).

Como se trata de uma pesquisa respondida por iniciativa própria das profissionais, sem que tenham sido aplicados critérios científicos de representação geográfica, etária ou étnica na seleção das participantes, os resultados devem ser lidos como um retrato desse universo específico, o das respondentes. Mas a experiência empírica revela que, em muitos aspectos, elas podem perfeitamente refletir, com mais ou menos precisão, o conjunto das mulheres no mercado musical brasileiro.

A maioria das respondentes têm entre 31 e 40 anos (36%), seguidas de um número também expressivo de mulheres na faixa entre 41 e 50 anos (24%). As idosas foram minoria, representando 2% apenas, e nenhuma menor de idade respondeu à pesquisa.

A maior parte das respondentes é solteira (51%), e a grande maioria (63%) não tem filhos, o que lança alguma luz sobre a dicotomia entre poder dedicar-se à carreira ou formar uma família, frequentemente imposta às mulheres não só no meio musical, mas no mercado como um todo.

O levantamento aponta, entretanto, que há avanços relacionados à aceitação da diversidade de gênero. Quase a totalidade das respostas vieram de mulheres cisgênero, sendo a maioria delas heterossexuais (65%), seguidas de bissexuais (21%) e homossexuais (10%). As mulheres transgênero representaram 2% das respostas, sendo 1,5% delas bissexuais e 0,5% heterossexuais.

Com iniciativas como a pesquisa e o relatório anual “Por Elas Que Fazem a Música”, a UBC pretende ressaltar a necessidade urgente de equiparação de direitos, condições de trabalho e rendimentos entre homens e mulheres no mercado musical, algo que beneficiaria toda a cadeia produtiva.

“Março, o ‘mês da mulher’, acabou, mas o debate deve ser fomentado o ano inteiro. Temos acompanhado casos recentes de discriminação e assédio na indústria do entretenimento e essa análise mostra que no mercado musical não é diferente. Recebemos relatos fortes de mulheres igualmente fortes que participaram da pesquisa. Transformar essa dor em dados, nos mostra a urgência de debatermos novos modelos de pensamentos e relações.” ressalta Mila Ventura, gerente de comunicação da UBC e coordenadora do projeto.

A pesquisa está disponível na íntegra no site da UBC.

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