O hip hop, nascido em meados da década de 70, é composto por diversos pilares, sendo um deles o rap, que por sua vez também possui muitas ramificações como o boombap, que parte de BPM’s menores e conteúdos que dão contorno para um ativismo mais social e político da população preta. E, também, vertentes como o trap e o drill, que ativam-se através de narrativas que retratam o cotidiano de jovens pretos na atualidade, com forte apelo estético que, sem relativismos culturais, é igualmente político.
O trap e o drill, por exemplo, nos apresentam uma conexão, talvez vista pela última vez lá no movimento punk dos anos 70, que é a ligação entre ser um gênero que parte de uma necessidade política, mas que, ao mesmo tempo, é tão atrelado às ruas que consegue captar o dinamismo delas. Ele parte das necessidades das pessoas e movimenta-se com elas, numa sincronia que poucos ritmos musicais apresentam (não à toa que, visualmente falando, os looks trap e punk hoje misturam-se facilmente).
Faz sentido ainda dizer que o boombap, como “antecessor” desses estilos, trouxe causas basilares para a população preta, para que hoje pudéssemos falar e ter olhos para “novas” causas. Já houveram grupos que denunciaram violência policial, como por exemplo N.W.A, e que retratam a vida dos negros de periferia como os Racionais, e, nesse sentido, talvez esses ritmos atuais venham pra dizer que numa sociedade atrelada à imagem, como nunca antes, o imagético torna-se tão político quanto.
E a fórmula para estes estilos serem uma seara de informação de moda e cultura, resumidamente, se dá pela criação de estéticas de resistências que tornam-se muito pregnantes para os pertencentes desse grupo. Resumidamente são, (1.) movimentos de berço político-social, (2.) com pilares estéticos adaptáveis por parte da própria vivência dessas pessoas, (3.) na mão da camada da população que mais movimenta informação online hoje em dia.
Sentiu também uma semelhança com o funk? Pois é exatamente a mesma coisa. Nascimento político + estética de resistência que parte do cotidiano das pessoas (nevou, chinelos, julietes, bermudas) + alta aderência entre pessoas que mais consomem e criam informação.
Isso explica o motivo da estética do funk continuar por anos se reinventando, enquanto outras estéticas e micro tendências, por exemplo, emergem e caem todos os dias nas redes sociais. Explica também porque o hip hop continuará a produzir ritmos e ritmos que serão, literalmente, máquinas de produzirem tendências por muito tempo.
Andreza Ramos [@andrezanrs] é publicitária, especialista em comunicação de moda e consultora de estilo para pessoas reais, com enfoque em mulheres pretas, midsizes e empreendedoras independentes. Com uma abordagem inovadora, Andreza se dedica a explorar o vestir criativo, embasado em um pensamento crítico e decolonial da imagem.
Já escreveu sobre estilo no blog da Renner e criou conteúdo com foco fashion para marcas como Natura, Schweppes, Bumble e Nívea.
Como consultora, ajuda as pessoas a entenderem as múltiplas facetas que uma imagem pode ter, principalmente no ambiente de trabalho e negócios. No campo da coloração, seu foco principal é o atendimento de peles negras, representando cerca de 80% do seu público.
Como criadora de conteúdo, Andreza Ramos compartilha – com os mais de 45 mil seguidores – looks inspiradores, seus estudos pessoais e insights nesse campo.
Sua abordagem vai além do aspecto estético, buscando estimular uma reflexão mais profunda sobre a moda e seus significados. Sua visão decolonial permite que ela transcenda as limitações impostas por padrões estereotipados, encorajando as pessoas a abraçarem sua individualidade e expressarem-se por meio do vestir.
Entre as profissionais que a inspiram, nomes como Luanda Vieira, Luiza Brasil e Magá Moura.