Muitos confundem diversidade no hip hop com ausência de crítica. Vamos falar do rap, o elemento que mais se destaca na cultura de rua. Respeitar as diferenças entre gerações, temas, tecnologias e técnicas de flow não significa ficar calado diante cenas de preconceito.
Enquanto existe uma parcela do hip hop que está ligada aos principais temas progressistas, enquanto DJs, MCs, educadores e militantes mostram que o combate ao machismo, ao racismo, que a luta contra a homofobia e o feminicídio precisam ser intensificados, outra parte da nossa cultura faz questão de mostrar que está pouco se fudendo com a desconstrução de hábitos e atitudes que reproduzem o discurso de exclusão e que dão sustentação aos casos mais extremos de violência e desigualdade.
Para os rappers “modernos” – aqueles que podem tudo em suas rimas, mas não podem cair na real – a liberdade de expressão é respeitada apenas quando é utilizada por eles. Críticas, questionamentos e contextualizações são sempre desqualificados por estes artistas que vivem a realidade como se estivessem em seus videoclipes, cenários com mulheres que pra eles são putas que disputam seus paus.
Estes três parágrafos acima foram escritos para introduzir a polêmica gerada pela participação do MC Marechal no clipe “Quem tava lá?”, do grupo Costa Gold, a maioria das críticas focou a distância lírica entre os versos do artista veterano e os MCs mais novos. Apenas as minas do hip hop mandaram mensagens contundentes sobre a reprodução do machismo e do conteúdo misógino das letras dos companheiros de rima do MC Marechal. Algo que já era de se esperar. Deixo aqui o link do post da Nerie Bento, do Fórum Nacional de Mulheres do Hip Hop. Em resposta ao questionamento das minas, Marechal afirma ter uma missão que ainda não foi compreendida pela maioria.
E os blogueiros do rap? Vamos dar nossa opinião ou vamos ficar com medo de nos queimarem diante os milhões de visualizações destes clipes no YouTube e dos milhares de seguidores dos artistas citados no ocorrido? Também somos parte do hip hop ou somos um bando papagaios de plantão?
Faz tempo que a crítica na cena foi esvaziada, os blogs são difusores de informação, de posts rápidos, notícias que ocupam grande espaço nas redes sociais e acabam sufocando a pluralidade, a opinião e a reflexão.
Alguns blogueiros afirmam que provocar o debate sobre questões mais sérias não é o nosso papel. Até respeito essa parada, mas bajular, reproduzir sem nenhum critério o discurso dos artistas, passar um pano ou simplesmente “meter um loco” diante de cenas de exclusão seriam nossas principais características, metas e objetivos? “Dar um migué” é o nosso papel?
Hummm…deixa eu ir alí postar o mais recente clipe de trap intergalático, depois eu respondo.