Saiu no The New York Times no começo deste mês de julho, o Brasil é o lugar mais perigoso do mundo para lésbicas, gays, bissexuais e transgênero. Perto de 1,6 mil pessoas foram mortas em crimes de ódio nos últimos quatro anos e meio segundo o Grupo Gay da Bahia.
Essa realidade de intolerância é reproduzida em diversas áreas da nossa vida, mas o hip hop, com seu histórico de luta contra a desigualdade, é um movimento que não deixa espaço para a homofobia. Não é isso? Está na cara que não.
As redes sociais trazem uma grande amostra de como a discriminação também é manifestada por ativistas, DJs e MCs. Num momento em que muitos artistas homossexuais combatem o preconceito, garantem seu lugar de fala no rap e rimam sobre o que quiserem, muitos conservadores, “cidadãos de bem”, demonstram que ainda não evoluíram. Sim, evolução no rap não é apenas ficar conectado ao que rola nos EUA e seguir as novas tendências. Técnica sem informação e força de vontade para entender e respeitar o outro é algo inútil para um hip hop que se diz libertário.
Hoje, ao ligar meu notebook, fiquei sabendo da atitude do rapper Calado. De acordo com o Jornal O Tempo, depois receber várias críticas ao protestar nas redes sociais contra a cena de sexo entre o casal gay da novela “Liberdade, Liberdade”, o artista, integrante da Família RZO, deletou sua página no Facebook.
Ainda segundo o jornal, Calado postou um vídeo no Instagram para falar sobre o ocorrido. Mais uma vez a homofobia foi definida por seu praticante: “(Sic) Aí, quero dar um salve para rapaziadinha no Facebook, aí. Vocês tá equivocado com o bagulho que cês tá falando, certo? Eu não sou contra os gay, mas não sou a favor. Sou não. Eu sou contra o sexo na televisão, eu sou contra a pederastia. Contra a pederastia, morou?”.
Militantes, jornalistas, blogueiros e artistas precisamos lutar para que não haja espaço para a homofobia no hip hop. Como blogueiro, sei o quanto é tranquilo falar apenas de lançamentos de clipes, singles, discos, mixtapes, principalmente se o artista for famoso ou de uma banca famosa, isso rende muitos likes, visualizações.
Também conheço essa rede afetiva do nosso hip hop cordial, fenômeno que impede discussões mais sérias em nosso rap. Só que a transformação da realidade nunca foi algo sossegado. Abordar certos assuntos é trafegar numa zona sem conforto, é cortar a própria carne.