Thiago Elninõ, MC de Volta Redonda, passou cinco anos produzindo o disco “A Rotina do Pombo” com os artistas do Espaço Criativo Casa. O resultado é um disco coeso com versos encadeados numa mistura instrumental de música jamaicana, afrobeat e rap. São 11 faixas que traz um boom bap com cara própria: brasileiro, preto e periférico.
“A maioria das músicas foi feito nos últimos seis meses. Dezenas de músicas ficaram pelo caminho, e outras se transformaram e foram parar no disco”, afirma Thiago Elninõ.
De acordo com Elniño, o título “A Rotina do Pombo” é uma analogia entre os pretos da periferia e os pombos. “Os pombos, na falta de possibilidade de sobrevivência no seu espaço natural, ocupam o centro da cidade atrás de alimentos pra sobreviver. Ali eles são vistos como sujos, como algo indigno de contato, como praga, perdem completamente sua beleza. Isso rola parecido com os pretos, que na falta e possibilidade de seus espaços, seus quilombos, vão pros centros das cidades, ocupam os piores postos de trabalho e são vistos da mesma forma, como algo indigno de contato. Assim como os pombos, a gente come migalhas. No nosso caso, é o lixo que eles chamam de renda”, conclui.
Com um convite ao mundo negro de ação e religiosidade africana, Thiago Elniño conta suas histórias – que podem representar a vida de muito jovens negros – ao lado de Rincon Sapiência, Sant, Flávio SantoRua, Tamara Franklin, Douglas Din e banda Medula.
“O hip hop enquanto essência jamais vai deixar de abordar a desigualdade, principalmente a racial. O hip hop nasce daí e nunca vai deixar de ser uma ferramenta de combate. Todos os MCs que participam do disco são pretos. Eles tem propriedade pra falar sobre o universo do disco”, diz Elninõ.
O artista já lançou os EPs “Cavalos de Briga”, em 2012, e “Fundamento”, em 2016.
Ouça, na integra “A Rotina do Pombo”: