Em 2010, o rapper Marcelo Biorki iniciou uma série de visitas a adolescentes que estavam cumprindo medidas socioeducativas em uma unidade de semiliberdade no interior de São Paulo. Intitulado Liberdade dos Meus Versos, o projeto seria apenas uma ação pontual, mas se tornou ferramenta útil no processo de ressocialização em 22 unidades da Fundação Casa espalhadas em 16 cidades do Estado de São Paulo.
De forma voluntária, Biorki também passou por unidades de Belo Horizonte, entre 2014 a 2017, e hoje atua no O DEGASE (Departamento Geral de Ações Socioeducativas), na cidade do Rio de Janeiro. Ali, os internos têm contato com a literatura e a escrita, para serem introduzidos à composição musical, e na sequência eles participam de oficinas para aprenderem a teoria de musicalização, onde são abordados o contexto de ritmo, levada e composição dos instrumentais.
“Na etapa final, levamos para dentro da unidade socioeducativa todo o equipamento de estúdio necessário, e gravamos a música criada por eles mesmos. Para cada turma atendida gravamos uma musica”, diz o rapper.
Recentemente, a unidade João Luiz Alves recebeu um evento organizado pela advogada criminalista Gabriela Amorim em parceria com a DICEL (Direção de Cultura Esporte e Lazer do DEGASE), que teve a participação do Instituto Favela Cria e alguns MCs do Rio, como BLACK, Mazin, Gebe MC, Jean Surmann, DoisT, TG Garcia, Yan Souza e Lucas Hashi.
Durante a tarde de interação musical também aconteceu uma roda de conversa e apresentações, que foi essencial para que tanto os artistas como os adolescentes conhecessem realidades diferentes.
“A nossa vontade é somar com o DEGASE na aplicação da medida socioeducativa o máximo possível. Nossa ferramenta nesse evento foi o RAP”, diz Gabriela. “Eventos assim são extremamente positivos para os adolescentes, para os servidores e para nós também”.
No seu primeiro contato com os meninos dentro do Degase, o rapper BLACK diz que a conexão foi muito forte. “Nem tínhamos saído de lá e eu já estava animado querendo voltar para fazer outras dinâmicas e participar da oficina ou qualquer outro projeto”, afirma ele. “Foi um sentimento e sensação bem fortes mesmo. Quando nós chegamos e os meninos me reconheceram, eles já começaram a conversar, perguntar e pedir pra cantar as músicas. Impossível descrever o que senti”.
O tempo cultural de sociabilidade proposto pelo “Liberdade dos Meus Versos”, utiliza a música rap como um meio de aprendizado literário e musical coletivo. É uma oportunidade para que adolescentes privados de liberdade se conectem com a arte e visualizem novas possibilidades de vida quando estiverem fora dos muros da instituição.
Eu tenho um verso que diz “tirar os menó do crime ainda meta”, e com esse verso, hoje, nesse projeto, eu consigo enxergar que talvez eu possa”, observa Gebe. “Foi gratificante e importante demais pra mim, e acredito que pra eles! Tudo que nós temos vai ser sempre nós! Se as pessoas olharem mais para as outras com um pouco de cuidado, o mundo pode ser melhor! Seguimos tentando!”